São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

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ERUDITO

Festival agregou reforços para montar "O Crepúsculo dos Deuses", de "Anel do Nibelungo", com mais de seis horas

Manaus encena última parte de ciclo de Wagner

IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM MANAUS

O teatro Amazonas, em Manaus, abriga, amanhã, a terceira e última récita da principal atração do 8º Festival Amazonas de Ópera: "Götterdämmerung" ("O Crepúsculo dos Deuses"), de Richard Wagner (1813-1883).
O "Crepúsculo" é a quarta e derradeira das óperas que compõem o ciclo wagneriano do "Anel do Nibelungo". Manaus começou a montar as óperas do "Anel" em 2002, com "A Valquíria"; deu seqüência em 2003, com "Siegfried"; e, para o ano que vem, com a encenação de "O Ouro do Reno", a ópera remanescente, pretende levar ao palco a tetralogia completa de Wagner, ao longo de duas semanas de espetáculos.
Diretor artístico do festival, o maestro Luiz Fernando Malheiro turbinou a Amazonas Filarmônica com estratégicos reforços de fora para garantir uma performance orquestral brilhante e rica em detalhes na estréia do "Crepúsculo", na quinta-feira. Vocalmente, o maior destaque foi o baixo norte-americano radicado no Brasil Stephen Bronk, com uma interpretação sólida e convincente do vilão Hagen.
Encarregada da parte mais exigente da ópera, a de Brünnhilde, a soprano romana Maria Russo, que já havia encarnado o mesmo personagem em "Siegfried", no ano passado, mostrou resistência e volume vocal, enquanto o tenor russo Serguei Liadov cantou seu Siegfried com muita pose, alguma projeção e pouca inteligência, chegando ao final de sua participação "empurrando" a voz, "quebrando" notas e completamente exaurido.

Símbolos
A direção cênica foi do britânico Aidan Lang, que, para dar unidade ao ciclo, repetiu os símbolos utilizados nas óperas anteriores do "Anel", como a caracterização das valquírias como personagens de histórias em quadrinhos, e optou por um final sentimental, com uma criança entrando no palco e sinalizando um futuro de esperança após o Valhalla, a morada dos deuses, arder em chamas.
Contando os intervalos, foram seis horas e 30 minutos de espetáculo, para uma platéia que foi se retirando gradualmente ao longo da apresentação, que, se atraiu menos espectadores e teve duração mais dilatada, foi de nível artístico nitidamente superior à desencontrada, mal ensaiada e vocalmente sofrível "Aida" em versão concerto, à qual um aplaudido presidente Luís Inácio Lula da Silva foi submetido na abertura do festival, no último dia 21.
Lula foi embora no intervalo da ópera de Verdi, seguido por boa parte do público. De melhor qualidade foi a interpretação da soprano Martha Herr para o rarefeito "Pierrot Lunaire", de Schönberg, sexta-feira, no pequeno Teatro da Instalação, sob regência segura de Marcelo de Jesus, em programa complementado pela "Noite Transfigurada", do mesmo compositor.

Outras atrações
O festival avança ao longo do mês de maio, com alguns concertos e duas atrações principais: a primeira delas, dias 15 e 16, ao ar livre, na praça São Sebastião (localizada ao redor do teatro Amazonas), é "A Flauta Mágica", de Mozart, cantada em português e com elenco amazonense, destacando a soprano Taís Bandeira no papel de Pamina, dirigida por Walter Neiva.
O evento é encerrado com três récitas (dias 22, 25 e 28) de "Norma", de Bellini, sob a batuta de Marcelo de Jesus, com direção cênica do alemão Bruno Berger-Gorski e destacando a soprano carioca radicada na Áustria Eliane Coelho no papel-título.


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