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ERUDITO
Festival agregou reforços para montar "O Crepúsculo dos Deuses", de "Anel do Nibelungo", com mais de seis horas
Manaus encena última parte de ciclo de Wagner
IRINEU FRANCO PERPETUO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM MANAUS
O teatro Amazonas, em Manaus, abriga, amanhã, a terceira e
última récita da principal atração
do 8º Festival Amazonas de Ópera: "Götterdämmerung" ("O Crepúsculo dos Deuses"), de Richard
Wagner (1813-1883).
O "Crepúsculo" é a quarta e derradeira das óperas que compõem
o ciclo wagneriano do "Anel do
Nibelungo". Manaus começou a
montar as óperas do "Anel" em
2002, com "A Valquíria"; deu seqüência em 2003, com "Siegfried"; e, para o ano que vem, com
a encenação de "O Ouro do Reno", a ópera remanescente, pretende levar ao palco a tetralogia
completa de Wagner, ao longo de
duas semanas de espetáculos.
Diretor artístico do festival, o
maestro Luiz Fernando Malheiro
turbinou a Amazonas Filarmônica com estratégicos reforços de
fora para garantir uma performance orquestral brilhante e rica
em detalhes na estréia do "Crepúsculo", na quinta-feira. Vocalmente, o maior destaque foi o baixo norte-americano radicado no
Brasil Stephen Bronk, com uma
interpretação sólida e convincente do vilão Hagen.
Encarregada da parte mais exigente da ópera, a de Brünnhilde, a
soprano romana Maria Russo,
que já havia encarnado o mesmo
personagem em "Siegfried", no
ano passado, mostrou resistência
e volume vocal, enquanto o tenor
russo Serguei Liadov cantou seu
Siegfried com muita pose, alguma
projeção e pouca inteligência,
chegando ao final de sua participação "empurrando" a voz, "quebrando" notas e completamente
exaurido.
Símbolos
A direção cênica foi do britânico
Aidan Lang, que, para dar unidade ao ciclo, repetiu os símbolos
utilizados nas óperas anteriores
do "Anel", como a caracterização
das valquírias como personagens
de histórias em quadrinhos, e optou por um final sentimental, com
uma criança entrando no palco e
sinalizando um futuro de esperança após o Valhalla, a morada
dos deuses, arder em chamas.
Contando os intervalos, foram
seis horas e 30 minutos de espetáculo, para uma platéia que foi se
retirando gradualmente ao longo
da apresentação, que, se atraiu
menos espectadores e teve duração mais dilatada, foi de nível artístico nitidamente superior à desencontrada, mal ensaiada e vocalmente sofrível "Aida" em versão concerto, à qual um aplaudido presidente Luís Inácio Lula da
Silva foi submetido na abertura
do festival, no último dia 21.
Lula foi embora no intervalo da
ópera de Verdi, seguido por boa
parte do público. De melhor qualidade foi a interpretação da soprano Martha Herr para o rarefeito "Pierrot Lunaire", de Schönberg, sexta-feira, no pequeno Teatro da Instalação, sob regência segura de Marcelo de Jesus, em programa complementado pela
"Noite Transfigurada", do mesmo compositor.
Outras atrações
O festival avança ao longo do
mês de maio, com alguns concertos e duas atrações principais: a
primeira delas, dias 15 e 16, ao ar
livre, na praça São Sebastião (localizada ao redor do teatro Amazonas), é "A Flauta Mágica", de
Mozart, cantada em português e
com elenco amazonense, destacando a soprano Taís Bandeira no
papel de Pamina, dirigida por
Walter Neiva.
O evento é encerrado com três
récitas (dias 22, 25 e 28) de "Norma", de Bellini, sob a batuta de
Marcelo de Jesus, com direção cênica do alemão Bruno Berger-Gorski e destacando a soprano carioca radicada na Áustria Eliane
Coelho no papel-título.
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