São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2004

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CURTA-METRAGEM

"Visionários" reproduz devoção religiosa

DA REDAÇÃO

As histórias de alguns dos maiores ícones da religião mundial são marcadas por casos de predestinação e visões. Já os anônimos, pessoas que acreditam estar imbuídas de uma missão divina, na melhor das hipóteses, são tratados como excêntricos.
No norte do Paraná, por exemplo, dois agricultores, na crença de estarem conversando com o divino, construíram santuários impressionantes. Nos dois casos, a intenção era erguer um abrigo para um possível apocalipse.
Essas histórias, reais, ganham de "Os Visionários", curta-metragem de Fernando Severo, a visão mais apropriada para um registro: um tom poético e experimental. Não há falas ou entrevistas, apenas textos na tela entre as imagens dos locais.
O curta começa mostrando Guarapira, cidade onde Kekuno Warikoda -que morreu em 1993- construiu seu santuário budista. São estátuas de nítida influência oriental, de grande e médio porte, que mesclam simbologias católicas e budistas com imagens de guerreiros.
A maior parte do filme, no entanto, concentra-se no trabalho de José de Freitas Miranda -morto em 1994. Em Colorado, ele criou a cidade "Aluminosa".
Lá estão estátuas e bustos feitos com cimento e argila. São imagens de pessoas assustadas e com olhos arregalados. Provavelmente, uma tentativa de Miranda mostrar como seria a reação das pessoas no momento da destruição final.
"Visionários" adota esse tom apocalíptico, de imagens aparentemente desconexas, que sugerem uma mente atormentada. Máquinas do campo surgem como monstros ameaçadores, enquanto trabalhadores rurais continuam com seu trabalho. É uma atmosfera com carros destruídos, fogo, fumaça e terra.
O caminho mostrado pelo curta reforça os contrastes e as similaridades entre a crença budista de impermanência da matéria e uma crença católica no juízo final.
(BRUNO YUTAKA SAITO)


OS VISIONÁRIOS. Curta-metragem de Fernando Severo (Brasil, 2002). Quando: hoje, às 22h45, no Canal Brasil.


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