São Paulo, sexta-feira, 27 de abril de 2007

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Música - Crítica/MPB/"Jobim Violão"

Arthur Nestrovski reverencia melodias de Jobim ao violão

Contenção e delicadeza são trunfos na interpretação de clássicos como "Luiza"

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A monumental obra de Tom Jobim tem servido de objeto para muitas abordagens musicais. Suas composições já foram arranjadas para orquestras sinfônicas, big bands, conjuntos de câmara, trios, piano solo, sem falar na legião de cantores que já as interpretaram, nos mais diversos cantos do mundo. Tratando-se de um dos maiores compositores do século 20, poderíamos esperar por menos?
Em "Jobim Violão", seu primeiro disco, o violonista Arthur Nestrovski, articulista da Folha, exibe uma abordagem menos comum desse legado musical. Interpreta 14 canções do mestre da bossa nova, em arranjos para violão solo, baseando-se nas partituras reunidas no "Cancioneiro Jobim", "songbook" lançado em 2000, com a supervisão de Paulo Jobim, filho do compositor.
Vale lembrar que Jobim compunha para piano. Daí a necessidade dos arranjos, pois o violão tem características técnicas (menor extensão melódica, posições particulares para se armar os acordes) que exigem adaptações nas partituras. Mesmo assim, observa o violonista em texto incluído no encarte do disco, seus arranjos buscaram, antes de tudo, ser fiéis ao que o autor escreveu.
Claro que essa fidelidade musical não deve ser entendida como uma reprodução mecânica das partituras. Mesmo que não tenha a intenção de projetar sua personalidade sobre a obra que vai tocar, qualquer intérprete já carrega naturalmente consigo uma "estética", uma maneira de tratar a música.
A abordagem de Nestrovski segue a vertente da depuração musical. Ele interpreta as 14 composições de Jobim de maneira contida e delicada, sem recorrer a improvisos ou apelar para derramamentos emotivos. Simplesmente extrai o lirismo e a beleza que essas canções já carregam em suas melodias.
Interpretados dessa maneira, clássicos do cancioneiro jobiniano como "Se Todos Fossem Iguais a Você", "Eu Sei que Vou te Amar" ou "Janelas Abertas" parecem ganhar um novo aspecto, focalizado em sua pureza melódica e harmônica, sem a conhecida companhia dos versos do poeta Vinicius de Moraes. Mas essa abordagem não empobreceria as canções? Assim o violonista não estaria esnobando a arte de grandes letristas, como Newton Mendonça ("Caminhos Cruzados"), Chico Buarque ("Sabiá") ou o próprio Jobim ("Luiza")? De maneira alguma. Até porque hoje é quase impossível escutar essas melodias sem lembrarmos dos versos. Não acredita? Ouça o disco.


JOBIM VIOLÃO
Intérprete:
Arthur Nestrovski
Lançamento: Gaia
Quanto: R$ 27, em média
Avaliação: bom


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