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Música - Crítica/MPB/"Jobim Violão"
Arthur Nestrovski reverencia melodias de Jobim ao violão
Contenção e delicadeza são trunfos na interpretação de clássicos como "Luiza"
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A monumental obra de
Tom Jobim tem servido de objeto para muitas abordagens musicais. Suas
composições já foram arranjadas para orquestras sinfônicas,
big bands, conjuntos de câmara, trios, piano solo, sem falar
na legião de cantores que já as
interpretaram, nos mais diversos cantos do mundo. Tratando-se de um dos maiores compositores do século 20, poderíamos esperar por menos?
Em "Jobim Violão", seu primeiro disco, o violonista Arthur Nestrovski, articulista da
Folha, exibe uma abordagem
menos comum desse legado
musical. Interpreta 14 canções
do mestre da bossa nova, em arranjos para violão solo, baseando-se nas partituras reunidas
no "Cancioneiro Jobim",
"songbook" lançado em 2000,
com a supervisão de Paulo Jobim, filho do compositor.
Vale lembrar que Jobim
compunha para piano. Daí a
necessidade dos arranjos, pois
o violão tem características técnicas (menor extensão melódica, posições particulares para
se armar os acordes) que exigem adaptações nas partituras.
Mesmo assim, observa o violonista em texto incluído no encarte do disco, seus arranjos
buscaram, antes de tudo, ser
fiéis ao que o autor escreveu.
Claro que essa fidelidade musical não deve ser entendida como uma reprodução mecânica
das partituras. Mesmo que não
tenha a intenção de projetar
sua personalidade sobre a obra
que vai tocar, qualquer intérprete já carrega naturalmente
consigo uma "estética", uma
maneira de tratar a música.
A abordagem de Nestrovski
segue a vertente da depuração
musical. Ele interpreta as 14
composições de Jobim de maneira contida e delicada, sem
recorrer a improvisos ou apelar
para derramamentos emotivos.
Simplesmente extrai o lirismo
e a beleza que essas canções já
carregam em suas melodias.
Interpretados dessa maneira, clássicos do cancioneiro jobiniano como "Se Todos Fossem Iguais a Você", "Eu Sei que
Vou te Amar" ou "Janelas
Abertas" parecem ganhar um
novo aspecto, focalizado em
sua pureza melódica e harmônica, sem a conhecida companhia dos versos do poeta Vinicius de Moraes.
Mas essa abordagem não empobreceria as canções? Assim o
violonista não estaria esnobando a arte de grandes letristas,
como Newton Mendonça ("Caminhos Cruzados"), Chico
Buarque ("Sabiá") ou o próprio
Jobim ("Luiza")? De maneira
alguma. Até porque hoje é quase impossível escutar essas melodias sem lembrarmos dos
versos. Não acredita? Ouça o
disco.
JOBIM VIOLÃO
Intérprete: Arthur Nestrovski
Lançamento: Gaia
Quanto: R$ 27, em média
Avaliação: bom
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