São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

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Análise

Ed Murrow, um dos raros casos de homem do tamanho do mito

Americano nascido há cem anos fez algumas das melhores reportagens da história

MATINAS SUZUKI JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

O americano Ed Murrow foi um campeão entre campeões. Subindo aos telhados para dar mais urgência e eloqüência às transmissões da blitz germânica sobre Londres durante a Segunda Guerra, ele disse a que vinha o jornalismo de rádio. Depois, quando a televisão nasceu, deu carisma, consciência e envergadura moral para o novo meio -do qual se tornaria, em pouco tempo, a figura mais marcante.
Entre as 11 mais importantes reportagens do século 20, escolhidas pela Universidade de Nova York, Murrow tem três: a cobertura, pelo rádio, da Segunda Guerra ("This Is London"), os programas de TV que ajudaram a liquidar o senador anticomunista Joe McCarthy (admiravelmente adaptados no filme "Boa Noite, Boa Sorte", de George Clooney) e o quase documentário "The Harvest of Shame", que mostrava com cenas de neo-realismo a miséria dos bóias-frias no sul dos EUA.
Na faculdade, Murrow foi o número um nos debates (sua professora de retórica, deficiente física, permaneceu dando dicas a ele mesmo quando já era um mito do broadcasting) e, na década de 30, arrumou lugar nos EUA para cerca de 300 intelectuais judeus que fugiam do nazismo. Entre as tragadas nos cigarros Camel, suas palavras para o rádio e a TV -que ele preferia ditar a escrever, mantendo o ritmo oral- estão entre os melhores textos que o jornalismo já produziu.
No livro fundamental sobre a história do poder da mídia nos EUA, "The Powers of Be", David Halberstam afirma que Murrow é um dos raros casos em que o homem é do tamanho do mito. Ele nunca fugiu ao combate: pagou do próprio bolso uma publicidade no "New York Times" anunciando seu programa contra o macarthismo, ao saber que o canal CBS não iria fazê-lo. Em 1958, ao ser homenageado pela indústria de rádio e TV dos Estados Unidos, deixou tensos os colares de pérolas e as gravatas borboletas negras do jantar ao afirmar que a televisão estava em decadência e alienando as pessoas.
Abril era o mês de Edward R. Murrow: sexta-feira passada foi o seu centenário de nascimento; ele morreu em um 27 de abril, como hoje. Por trás da entonação grave de barítono que emprestava efeito dramático às suas reportagens, suspirava um pulmão frágil que durou apenas 57 anos.


MATINAS SUZUKI JR. é jornalista.


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