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Análise
Ed Murrow, um dos raros casos de homem do tamanho do mito
Americano nascido há cem anos fez algumas das melhores reportagens da história
MATINAS SUZUKI JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA
O americano Ed Murrow
foi um campeão entre
campeões. Subindo
aos telhados para dar mais urgência e eloqüência às transmissões da blitz germânica sobre Londres durante a Segunda
Guerra, ele disse a que vinha o
jornalismo de rádio. Depois,
quando a televisão nasceu, deu
carisma, consciência e envergadura moral para o novo meio
-do qual se tornaria, em pouco
tempo, a figura mais marcante.
Entre as 11 mais importantes
reportagens do século 20, escolhidas pela Universidade de
Nova York, Murrow tem três: a
cobertura, pelo rádio, da Segunda Guerra ("This Is London"), os programas de TV que
ajudaram a liquidar o senador
anticomunista Joe McCarthy
(admiravelmente adaptados no
filme "Boa Noite, Boa Sorte", de
George Clooney) e o quase documentário "The Harvest of
Shame", que mostrava com cenas de neo-realismo a miséria
dos bóias-frias no sul dos EUA.
Na faculdade, Murrow foi o
número um nos debates (sua
professora de retórica, deficiente física, permaneceu dando dicas a ele mesmo quando já
era um mito do broadcasting) e,
na década de 30, arrumou lugar
nos EUA para cerca de 300 intelectuais judeus que fugiam do
nazismo. Entre as tragadas nos
cigarros Camel, suas palavras
para o rádio e a TV -que ele
preferia ditar a escrever, mantendo o ritmo oral- estão entre
os melhores textos que o jornalismo já produziu.
No livro fundamental sobre a
história do poder da mídia nos
EUA, "The Powers of Be", David Halberstam afirma que
Murrow é um dos raros casos
em que o homem é do tamanho
do mito. Ele nunca fugiu ao
combate: pagou do próprio bolso uma publicidade no "New
York Times" anunciando seu
programa contra o macarthismo, ao saber que o canal CBS
não iria fazê-lo. Em 1958, ao ser
homenageado pela indústria de
rádio e TV dos Estados Unidos,
deixou tensos os colares de pérolas e as gravatas borboletas
negras do jantar ao afirmar que
a televisão estava em decadência e alienando as pessoas.
Abril era o mês de Edward R.
Murrow: sexta-feira passada
foi o seu centenário de nascimento; ele morreu em um 27
de abril, como hoje. Por trás da
entonação grave de barítono
que emprestava efeito dramático às suas reportagens, suspirava um pulmão frágil que durou
apenas 57 anos.
MATINAS SUZUKI JR. é jornalista.
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