São Paulo, segunda-feira, 27 de abril de 2009

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Maria Mariana polemiza com mães

Atriz de "Confissões de Adolescente" abandonou TV por dez anos e lança livro para contar experiência de criar 4 filhos

Obra diz que dificuldade para amamentar surge em quem não dá "valor a seu lugar de mãe" e parto normal é só para quem "merece"


LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O dramaturgo e cineasta Domingos Oliveira, 72, famoso nome da contracultura e da defesa de casamentos abertos, nunca entendeu bem a opção "conservadora" de sua única filha.
Nacionalmente conhecida aos 19 anos pela autoria da peça "Confissões de Adolescente" -que ficou em cartaz por dez anos, virou livro com 200 mil exemplares vendidos e série de TV dirigida por Daniel Filho-, Maria Mariana decidiu se casar, trocar o Rio por uma cidade pequena, ter quatro filhos e abandonar a carreira por dez anos para se dedicar à família. "Toda vez que eu engravidava, ele me chamava para uma conversa séria e perguntava: "Filha, o que você está fazendo da sua vida?'", conta a escritora e atriz.
Aos 36, agora que sua filha mais velha tem 9 anos, Maria Mariana está de volta. Ela lança o livro "Confissões de Mãe" (ed. Agir Equilíbrio, 96 págs., R$ 29,90), uma reedição de "Confissões de Adolescente" (ed. Agir, 128 págs., R$ 29,90), que será remontado no teatro até o final do ano, e foi contratada como roteirista da Record.
Em "Confissões de Mãe", expõe opiniões polêmicas, de forma contundente, a respeito da maternidade, que, aliada ao casamento -o tradicional e não aquele do qual seu pai foi adepto-, são a única forma de obter uma felicidade verdadeira, em sua opinião. Quem escolhe ser solteiro e não ter filhos, acredita, "está fugindo por medo".
"Tenho uma visão contraditória à do meu pai sobre a família. Esse discurso existencialista dele, que até hoje fala de relacionamentos abertos, tem a ver com sua época, com seu resgate. Eu acredito que só pela família é possível se encontrar."
Nas suas novas "Confissões", Maria Mariana confessa muito mais: diz acreditar que só tem filho por parto normal as mulheres que "merecem" e que eventuais dificuldades para amamentar o bebê surgem para quem não estão dando "o devido valor a seu lugar de mãe".
"Eu sei que o assunto é polêmico, e minha editora até me perguntou se estou preparada para ser crucificada. Mas é o que eu penso", fala ela, que fez cesariana na primeira filha e parto normal nos outros três.
A autora, cujas convicções ela diz estarem ligadas também ao fato de ser adepta do espiritismo, afirma esperar que "as mulheres não se sintam julgadas". ""Confissões de Adolescente" surgiu a partir do meu diário, com minhas impressões. Já "Confissões de Mãe" foi muito pensado, escrito durante anos. Tentei falar da maternidade sem me colocar como dona da verdade nem agredir mães que pensem diferente."
Mas admite que quis "colocar o dedo em algumas feridas, até porque muitas mulheres têm pouca consciência da importância de ser mãe". "A partir do movimento feminista, sofremos uma pressão para ser ativa no mercado de trabalho, ter valores masculinos. E a realidade da maternidade é outra, é querer vivenciar essa experiência."
Maria Mariana é casada com um cardiologista e homeopata de 52 anos. Ela o conheceu em um curso de meditação há dez anos, quando estava "na geladeira" da Globo, após trabalhar como roteirista da "Malhação". Um mês depois, estava grávida. "Não foi sem querer. Precisava ser mãe. Quando compreendi a grandeza da maternidade, decidi parar de trabalhar."
Depois de Clara, 9, foi "uma barriga atrás da outra": Laura, 7, Gabriel, 5, e Isabel, 2. Eram tantos afazeres que só sobrava tempo para a profissão de mãe. "Esse livro é uma prova de que não perdi tempo nenhum. Ao contrário, ganhei maturidade, autoestima e volto para o trabalho com uma nova energia."


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