São Paulo, terça-feira, 27 de abril de 2010



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Documentário em NY usa jogador para retratar paixão do traficante por futebol

CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK

"Pablo Escobar foi o principal assassino do século 20. Seu trabalho era matar. Mas o futebol era a sua paixão", diz Popeye, antigo "homem de confiança" do traficante, em depoimento no filme "The Two Escobars" (os dois escobares), parte da seleção do Tribeca Film Festival, em Nova York.
O outro Escobar do título, Andrés, não era parente de Pablo, mas também amava o esporte. Enquanto o narcotraficante lavava dinheiro fomentando o seu hobby, o jovem jogador via a sua carreira ascender em um dos times que "el patrón" da Colômbia financiava, o Atlético Nacional.
Pablo foi assassinado em 1993, aos 44, por inimigos; Andrés foi morto aos 27, por grupo rival do cartel de Pablo, dias depois de fazer um gol contra na Copa de 1994, em jogo perdido para os EUA que eliminou a Colômbia do campeonato.
É o paralelo entre as duas trajetórias que o documentário, produzido pela ESPN e dirigido por Michael e Jeff Zimbalist ("Favela Rising"), procura reconstruir, com imagens de arquivo e entrevistas com traficantes, políticos e parentes dos dois protagonistas.
O filme apresenta Pablo como um homem generoso com a comunidade, cuja morte foi lamentada por uma multidão de órfãos. Construir campos e patrocinar times eram também a oportunidade para que jogadores treinassem e ganhassem dinheiro e para que a Colômbia tivesse um futebol respeitado.
Foi graças a esse "fomento" que Andrés cresceu e chegou à seleção. É verdade que precisou frequentar festas do patrão e até visitá-lo na prisão, mesmo contrariado. Mas Pablo via o jogador "como um amigo".
Para o espectador que beira a simpatia pelo traficante, o documentário lembra que, enquanto o "narcofutebol" colombiano progredia em direção a um título na Libertadores (para o Nacional) e à classificação na Copa de 94, Pablo Escobar cercava de medo jogadores, técnicos e juízes.
"Ele mataria qualquer pessoa para ganhar um jogo", diz um entrevistado. Em 1989, um juiz foi assassinado depois de apitar partida cujo resultado irritou o traficante.
Com a morte de Pablo, em 93, o cenário piorou. As "leis" do criminoso mais poderoso do país já não vigoravam, e outros cartéis passaram a apostar no futebol como fonte de renda e lavagem de dinheiro. O país estava classificado para a Copa e era favorito, segundo Pelé; os narcotraficantes fizeram suas apostas -e os jogadores começaram a receber ameaças.
Foi nesse cenário que Andrés levou as mãos à cabeça depois de chutar a bola para dentro do próprio gol. O que se entende de alguns dos depoimentos no filme é que, se Pablo estivesse vivo, teria protegido o jogador. E que as mortes dos dois "Escobares" marcaram o início da derrocada do futebol colombiano, para sempre.


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