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Documentário em NY usa jogador para retratar paixão do traficante por futebol
CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK
"Pablo Escobar foi o principal assassino do século 20. Seu
trabalho era matar. Mas o futebol era a sua paixão", diz Popeye, antigo "homem de confiança" do traficante, em depoimento no filme "The Two Escobars" (os dois escobares),
parte da seleção do Tribeca
Film Festival, em Nova York.
O outro Escobar do título,
Andrés, não era parente de Pablo, mas também amava o esporte. Enquanto o narcotraficante lavava dinheiro fomentando o seu hobby, o jovem jogador via a sua carreira ascender em um dos times que "el patrón" da Colômbia financiava, o
Atlético Nacional.
Pablo foi assassinado em
1993, aos 44, por inimigos; Andrés foi morto aos 27, por grupo
rival do cartel de Pablo, dias depois de fazer um gol contra na
Copa de 1994, em jogo perdido
para os EUA que eliminou a Colômbia do campeonato.
É o paralelo entre as duas trajetórias que o documentário,
produzido pela ESPN e dirigido
por Michael e Jeff Zimbalist
("Favela Rising"), procura reconstruir, com imagens de arquivo e entrevistas com traficantes, políticos e parentes dos
dois protagonistas.
O filme apresenta Pablo como um homem generoso com a
comunidade, cuja morte foi lamentada por uma multidão de
órfãos. Construir campos e patrocinar times eram também a
oportunidade para que jogadores treinassem e ganhassem dinheiro e para que a Colômbia
tivesse um futebol respeitado.
Foi graças a esse "fomento"
que Andrés cresceu e chegou à
seleção. É verdade que precisou
frequentar festas do patrão e
até visitá-lo na prisão, mesmo
contrariado. Mas Pablo via o jogador "como um amigo".
Para o espectador que beira a
simpatia pelo traficante, o documentário lembra que, enquanto o "narcofutebol" colombiano progredia em direção
a um título na Libertadores
(para o Nacional) e à classificação na Copa de 94, Pablo Escobar cercava de medo jogadores,
técnicos e juízes.
"Ele mataria qualquer pessoa
para ganhar um jogo", diz um
entrevistado. Em 1989, um juiz
foi assassinado depois de apitar
partida cujo resultado irritou o
traficante.
Com a morte de Pablo, em
93, o cenário piorou. As "leis"
do criminoso mais poderoso do
país já não vigoravam, e outros
cartéis passaram a apostar no
futebol como fonte de renda e
lavagem de dinheiro. O país estava classificado para a Copa e
era favorito, segundo Pelé; os
narcotraficantes fizeram suas
apostas -e os jogadores começaram a receber ameaças.
Foi nesse cenário que Andrés
levou as mãos à cabeça depois
de chutar a bola para dentro do
próprio gol. O que se entende
de alguns dos depoimentos no
filme é que, se Pablo estivesse
vivo, teria protegido o jogador.
E que as mortes dos dois "Escobares" marcaram o início da
derrocada do futebol colombiano, para sempre.
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