São Paulo, sábado, 27 de maio de 2006

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Análise

Sexo percorre festival em cenas sutis e explícitas

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA, EM CANNES

Cannes só pensa naquilo, diria a saudosa Zezé Macedo. Das especulações veladas em torno da vida sexual de Jesus de "O Código Da Vinci" (abertura da seleção oficial) às cenas explícitas de "Shortbus" (fora de competição), "Taxidermia" (mostra Um Certo Olhar), "Les Anges Exterminateurs" (Quinzena dos Realizadores) e "Destricted" (Semana da Crítica), a representação do sexo esteve no festival do começo ao fim.
Não que Cannes fosse virgem. Foi aqui que "O Império dos Sentidos" fez história, 30 anos atrás; em 2003, o "felattio" de "Brown Bunny" causou espécie. Mas a onipresença do tema neste ano ofuscou a política, em geral dominante.
Na Quinzena dos Realizadores, pelo menos quatro filmes trataram do tema com franqueza absoluta. "Princess", de Anders Morgenthaler, e "On Ne Devait Pas Exister", de HPG, mostraram pontos de vista diferentes sobre a indústria pornô: o primeiro, um ataque ao caráter exploratório dos filmes de sexo explícito; o segundo, a recriação da jornada de seu diretor, um ex-ator pornô, para ser aceito como ator "sério". Na mesma seção, Jean-Claude Brissau abordou tabus femininos em "Les Anges Exterminateurs", enquanto Teresa Villaverde desenhou um panorama da exploração sexual das mulheres na Europa no belíssimo "Transe". Na Semana da Crítica, uma das atrações especiais foi "Destricted", sobre sexo e juventude, com episódios inflamáveis de Larry Clark e Gaspar Noé, entre outros.
Mas quem foi mais longe na proposta foi John Cameron Mitchell, que, em seu segundo longa, "Shortbus", fez possivelmente o mais explícito filme não-pornô da história não só pelo fato de não esconder nada, mas principalmente pela variedade sexual que mostra (sexo hetero, gay e orgiástico).
"Shortbus" é 100% propositivo. O sexo é visto como estética, e não há negatividade possível. O que se propõe é uma utopia de possibilidades concretas: a liberdade existe, o underground de Nova York ainda vibra, e a felicidade se faz completamente possível, ainda que sobre os escombros do WTC.


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