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Análise
Sexo percorre festival em cenas sutis e explícitas
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA, EM CANNES
Cannes só pensa naquilo, diria a saudosa Zezé Macedo. Das
especulações veladas em torno
da vida sexual de Jesus de "O
Código Da Vinci" (abertura da
seleção oficial) às cenas explícitas de "Shortbus" (fora de competição), "Taxidermia" (mostra
Um Certo Olhar), "Les Anges
Exterminateurs" (Quinzena
dos Realizadores) e "Destricted" (Semana da Crítica), a representação do sexo esteve no
festival do começo ao fim.
Não que Cannes fosse virgem. Foi aqui que "O Império
dos Sentidos" fez história, 30
anos atrás; em 2003, o "felattio" de "Brown Bunny" causou
espécie. Mas a onipresença do
tema neste ano ofuscou a política, em geral dominante.
Na Quinzena dos Realizadores, pelo menos quatro filmes
trataram do tema com franqueza absoluta. "Princess", de Anders Morgenthaler, e "On Ne
Devait Pas Exister", de HPG,
mostraram pontos de vista diferentes sobre a indústria pornô: o primeiro, um ataque ao
caráter exploratório dos filmes
de sexo explícito; o segundo, a
recriação da jornada de seu diretor, um ex-ator pornô, para
ser aceito como ator "sério". Na
mesma seção, Jean-Claude
Brissau abordou tabus femininos em "Les Anges Exterminateurs", enquanto Teresa Villaverde desenhou um panorama
da exploração sexual das mulheres na Europa no belíssimo
"Transe". Na Semana da Crítica, uma das atrações especiais
foi "Destricted", sobre sexo e
juventude, com episódios inflamáveis de Larry Clark e Gaspar
Noé, entre outros.
Mas quem foi mais longe na
proposta foi John Cameron
Mitchell, que, em seu segundo
longa, "Shortbus", fez possivelmente o mais explícito filme
não-pornô da história não só
pelo fato de não esconder nada,
mas principalmente pela variedade sexual que mostra (sexo
hetero, gay e orgiástico).
"Shortbus" é 100% propositivo. O sexo é visto como estética,
e não há negatividade possível.
O que se propõe é uma utopia
de possibilidades concretas: a
liberdade existe, o underground de Nova York ainda vibra, e a felicidade se faz completamente possível, ainda que
sobre os escombros do WTC.
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