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BIA ABRAMO
"A Grande Família" mantém a forma
A série consegue, à base de criatividade, conciliar o "de sempre" com "o que vai acontecer a seguir"
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NÃO É pouco para uma sitcom
atravessar sete temporadas e
não perder a graça. Mesmo
nos EUA, a pátria dos seriados cômicos, são poucas as que sobrevivem
tanto. "A Grande Família" até já balançou, mas não caiu.
Qual será o segredo?
Pensando em uma outra série
famosa, como "Friends", que che-
gou a dez temporadas, parece simples: um grupo de bons atores e
um trabalho de roteiro que ao mesmo tempo garanta uma estrutura
semelhante a cada episódio e a evolução dos personagens ao longo
do tempo.
Mas, a julgar tanto pelas escassas experiências brasileiras como
pela quantidade de tentativas e erros cometidos na televisão norte-americana, achar esses dois ele-
mentos essenciais e fazê-los trabalhar juntos é mais complexo do que
parece.
Não bastam os talentos individuais deste ou daquele intérprete;
é preciso que o conjunto todo se
harmonize nas diferenças. Não basta uma situação boa de início; é
preciso que ela se estique no tempo do episódio e que tenha fôlego
para suportar muitos desdobramentos.
"A Grande Família" tem tudo isso.
É quase escusado destacar a qualidade dos atores que constituem seu
núcleo central, mas também não
se pode deixar de notar como os
coadjuvantes, mais ou menos veteranos, conseguem entrar rapidamente no espírito.
É também um grupo extremamente carismático, característica
muito importante em sitcoms tão
longevas.
A série também tem conseguido,
à base de uma criatividade bem sintonizada, conciliar o "de sempre"
com "o que vai acontecer a seguir",
até mesmo recorrendo a situações
ousadas, como a recente separação
de Lineu e Nenê.
Mas há algo em "A Grande Família" para além disso, que é uma a-
posta arriscada numa espécie de estilização do folclore a respeito da
classe média.
É como se a série almejasse estar
num tempo e numa geografia algo
míticos, em que pudessem se encontrar Nelson Rodrigues, Pedro Almodóvar, "I Love Lucy" e as telenovelas
dos anos 70.
Esse referencial da cafonice "pop"
subsidia muitas produções cômi-
cas de televisão, com resultados
incertos. Muitas vezes, resvala numa
caricatura antipática, distanciada e
artificiosa.
Em "A Grande Família", entretanto, consegue dar as voltas necessárias para fazer crítica com um olhar
generoso e, claro, engraçado.
biaabramo.tv@uol.com.br
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