São Paulo, domingo, 27 de maio de 2007

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BIA ABRAMO

"A Grande Família" mantém a forma


A série consegue, à base de criatividade, conciliar o "de sempre" com "o que vai acontecer a seguir"

NÃO É pouco para uma sitcom atravessar sete temporadas e não perder a graça. Mesmo nos EUA, a pátria dos seriados cômicos, são poucas as que sobrevivem tanto. "A Grande Família" até já balançou, mas não caiu. Qual será o segredo?
Pensando em uma outra série famosa, como "Friends", que che- gou a dez temporadas, parece simples: um grupo de bons atores e um trabalho de roteiro que ao mesmo tempo garanta uma estrutura semelhante a cada episódio e a evolução dos personagens ao longo do tempo.
Mas, a julgar tanto pelas escassas experiências brasileiras como pela quantidade de tentativas e erros cometidos na televisão norte-americana, achar esses dois ele- mentos essenciais e fazê-los trabalhar juntos é mais complexo do que parece.
Não bastam os talentos individuais deste ou daquele intérprete; é preciso que o conjunto todo se harmonize nas diferenças. Não basta uma situação boa de início; é preciso que ela se estique no tempo do episódio e que tenha fôlego para suportar muitos desdobramentos.
"A Grande Família" tem tudo isso.
É quase escusado destacar a qualidade dos atores que constituem seu núcleo central, mas também não se pode deixar de notar como os coadjuvantes, mais ou menos veteranos, conseguem entrar rapidamente no espírito.
É também um grupo extremamente carismático, característica muito importante em sitcoms tão longevas.
A série também tem conseguido, à base de uma criatividade bem sintonizada, conciliar o "de sempre" com "o que vai acontecer a seguir", até mesmo recorrendo a situações ousadas, como a recente separação de Lineu e Nenê.
Mas há algo em "A Grande Família" para além disso, que é uma a- posta arriscada numa espécie de estilização do folclore a respeito da classe média.
É como se a série almejasse estar num tempo e numa geografia algo míticos, em que pudessem se encontrar Nelson Rodrigues, Pedro Almodóvar, "I Love Lucy" e as telenovelas dos anos 70.
Esse referencial da cafonice "pop" subsidia muitas produções cômi- cas de televisão, com resultados incertos. Muitas vezes, resvala numa caricatura antipática, distanciada e artificiosa.
Em "A Grande Família", entretanto, consegue dar as voltas necessárias para fazer crítica com um olhar generoso e, claro, engraçado.

biaabramo.tv@uol.com.br


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