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Livro conta história do "Lance!"
e analisa a imprensa esportiva
Jornalista Maurício Stycer descreve percalços da publicação, onde trabalhou
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Em 1997, um jovem empresário, um grupo de investidores
e uma equipe de jornalistas
-que mesclava um punhado de
veteranos e uma legião de novatos- criaram um jornal diário de esportes, algo que não
ocorria no Brasil desde os anos
30. Surgia assim o "Lance!".
Testemunha e partícipe da
experiência, o jornalista Mauricio Stycer, 47, primeiro editor-executivo do jornal, percebeu logo que ela lançava luz, simultaneamente, sobre a história da imprensa e sobre a história do esporte no país.
Ele fez do estudo do "Lance!"
a sua dissertação de mestrado
em ciências sociais na USP. O
trabalho é lançado agora como
livro, "História do "Lance!"
-0Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo".
A inserção da pesquisa na
área de sociologia não é casual.
"A prática do esporte no Brasil
realça problemas fundamentais, ligados à histórica desigualdade social, à má formação
educacional, ao patrimonialismo arraigado, ao mau hábito de
transformar a coisa pública em
bem privado etc.", diz Stycer.
O livro procura mostrar, em
sua primeira parte, como a imprensa brasileira, em particular
a esportiva, refletiu e refratou
historicamente essas questões.
Ao historiar os dois principais jornais esportivos do país
-a "Gazeta Esportiva", de São
Paulo, e o "Jornal dos Sports",
do Rio-, Stycer destaca ainda o
papel dos grandes jornalistas
que os idealizaram e comandaram, respectivamente Thomaz
Mazzoni e Mario Filho.
Modernização do esporte
Em meados dos anos 90, esses dois jornais agonizavam, e
as perspectivas de modernização do esporte brasileiro -especialmente do futebol, com o
fim da "lei do passe" e a promessa de transformação dos
clubes em empresas- suscitaram no empresário carioca
Walter de Mattos, visto como
um "outsider" no mundo da
imprensa, o projeto de criar um
novo diário esportivo.
A ideia era fazer um jornal
moderno, leve e dinâmico que
atingisse prioritariamente os
jovens de classe média, para os
quais se abria todo um novo
mercado de consumo ligado ao
esporte. Daí surge uma das
marcas do jornal: a linguagem
quase infantilizada, próxima
das histórias em quadrinhos.
O núcleo do livro de Stycer
descreve e discute os percalços
da colocação desse projeto em
prática. O balanço que ele faz da
experiência é positivo, apesar
dos erros e tropeços.
"O "Lance!" é um dos dez
maiores jornais do país, e chegou a circular com 280 mil
exemplares, no dia posterior à
conquista da Copa do Mundo
de 2002", afirma o autor, que
trabalhou na Folha, em "O Estado de S. Paulo" e nas revistas
"Época" e "Carta Capital", entre outras publicações, e hoje é
repórter especial do portal iG.
O problema central levantado pelo livro continua em aberto: "É possível fazer jornalismo
esportivo crítico e independente no Brasil?" A partir de agora,
quem quiser ajuda para responder a essa pergunta pode
ler "A História do "Lance!'".
A HISTÓRIA DO LANCE PROJETO E PRÁTICA DO JORNALISMO
ESPORTIVO
Autor: Mauricio Stycer
Editora: Alameda
Quanto: R$ 46 (320 págs.)
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