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Pedrosa mostra registros do impalpável
FRANCESCA ANGIOLILLO
free-lance para a Folha
Adriano Pedrosa é artista plástico, escritor e curador e faz questão
de articular essas atividades. Em
papel pautado, ele registra seu cotidiano. Para tanto, porém, usa
uma escrita incomum, na qual os
sinais são produto da manipulação
do papel, que é levado nos bolsos,
dobrado, amassado com as mãos.
A mostra "Diários", que Pedrosa
abre hoje em São Paulo, traz mais
de cem registros "escritos" ao longo de dois anos, os quais ele mesmo emoldurou, ao fim de cada dia.
"Eu não podia ficar o dia inteiro
fazendo registros nessa escrita e,
no dia seguinte, mandar para o
moldureiro. O registro tinha de ser
isolado do mundo, apesar de o papel continuar a sofrer uma certa
deterioração encapsulada."
Pedrosa ressalta que "Diários"
guarda conceitos sempre presentes em sua trajetória, como a escrita e a inefabilidade da linguagem.
"Neste trabalho, há a questão da
linguagem que não dá conta das
coisas, que não consegue expressar. E a pauta está lá porque é uma
escrita que se tenta fazer, que foge
à geometria e à organização da
própria pauta."
Abstração corrompida
O papel pautado, para Pedrosa,
remete também à abstração geométrica -que é deslocada da realidade e tem sentido próprio, mas é
muda, contrária à linguagem verbal. Em contraposição, o purismo
da grade que a pauta representa é
corrompido pelo modo de fazer,
que é táctil, expressivo, corporal.
A grade reaparece na maneira
como os diários estão afixados.
Todos os quadros estão colocados
à mesma altura, mas com distâncias variáveis entre si, com o objetivo de causar estranheza.
"Esse pequeno gesto curatorial
de fazer a distinção entre um e outro cria esse outro tipo de tensão,
que é contra a grade tradicional de
instalação."
Apesar de serem apresentados
como um conjunto, cada registro
faz sentido sozinho porque, tendo
a data assinalada no verso, todos
têm um valor documental.
Mas, como num diário comum, a
escrita é errática. Por vezes, alguns
foram emoldurados sem que o artista os datasse; outros foram esquecidos em bolsos.
Em vez de jogá-los fora, como fazia inicialmente, Pedrosa passou a
marcá-los com um "s.d.", de "sem
data", alusão a manuscritos arquivados.
Pedrosa diz não reconhecer dias
específicos ao olhar para seus registros.
Mas conta que, sabendo de antemão que uma data será importante, leva consigo uma folha para
produzir um registro daquele dia.
Pedrosa estabelece uma relação
afetiva com "Diários", que chama
de "um "trabalho de bolso", aquele
objeto discreto e próximo a você."
Mostra: Diários, de Adriano Pedrosa, obras
em papel manipulado
Dimensões: 27,9 cm x 21,3 cm
Onde: galeria Luisa Strina (r. Pe. João
Manoel, 974A, tel. 011/280-2471)
Quando: hoje, às 19h; de seg. a sex. das 10h
às 20h; sáb. das 10h às 14h. Até 3/7
Preço das obras: US$ 600
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