São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2000


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EVENTO
Debate na Folha marcou lançamento de coletânea
Professores concluem que existe divórcio entre Estado e sociedade

DA REPORTAGEM LOCAL

O divórcio entre o Estado e a sociedade brasileira existe desde o período colonial. Essa é a afirmação da historiadora Mary del Priore, professora do departamento de história da USP, que participou no último dia 19, no auditório da Folha, do debate "Relações de Poder no Brasil".
"A partir da metade do século 17, surge uma classe de senhores de engenho que vai se beneficiar de uma situação econômica e, sobretudo, da instalação de um aparelho burocrático."
O encontro marcou o lançamento do livro "Revisão do Paraíso - Os Brasileiros e o Estado em 500 Anos de História" (editora Campus, 366 páginas, R$ 29,90). Trata-se de uma coletânea de ensaios escritos pelos também debatedores João Cezar de Castro Rocha, professor de literatura comparada da UERJ, e o economista Carlos Lessa, professor da UFRJ, entre outros. A obra foi organizada por Mary del Priore.
Castro Rocha relacionou os livros "Os Nomes do Poder", de Raymundo Faoro (1958), e "Raízes do Poder", de Sergio Buarque de Holanda (1936), para afirmar que a natureza esquizofrênica do "homem cordial" ainda não desapareceu da sociedade brasileira.
"O rei, no Estado patrimonial, vê o reino como uma extensão do Estado. Ele é o dono de tudo, o maior latifundiário. E quem é o cidadão desse Estado? É o homem cordial, aquele que se deixa levar pelo coração, que pode ser amigo e vingativo", afirmou o professor. Para ele, "as relações sociais ainda hoje são marcadas por contatos pessoais, por relações mal disfarçadas de clientelismos".
Carlos Lessa concentrou seu discurso na República. "A República, ou o que seria a coisa pública, é construída de uma maneira muito parecida com o Primeiro Império, onde não existe povo."
Lessa afirmou que a visão autoritária da República estava sublimada como um "grande" projeto nacional. "Não se pretendeu fazer a República com a convocação do povo para que fosse aberta a discussão sobre o seu futuro e o seu presente. A República foi pensada dando para a oligarquia condições de sobrevivência."


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