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EVENTO
Debate na Folha marcou lançamento de coletânea
Professores concluem que existe divórcio entre Estado e sociedade
DA REPORTAGEM LOCAL
O divórcio entre o Estado e a sociedade brasileira existe desde o
período colonial. Essa é a afirmação da historiadora Mary del
Priore, professora do departamento de história da USP, que
participou no último dia 19, no
auditório da Folha, do debate
"Relações de Poder no Brasil".
"A partir da metade do século
17, surge uma classe de senhores
de engenho que vai se beneficiar
de uma situação econômica e, sobretudo, da instalação de um aparelho burocrático."
O encontro marcou o lançamento do livro "Revisão do Paraíso - Os Brasileiros e o Estado em
500 Anos de História" (editora
Campus, 366 páginas, R$ 29,90).
Trata-se de uma coletânea de ensaios escritos pelos também debatedores João Cezar de Castro Rocha, professor de literatura comparada da UERJ, e o economista
Carlos Lessa, professor da UFRJ,
entre outros. A obra foi organizada por Mary del Priore.
Castro Rocha relacionou os livros "Os Nomes do Poder", de
Raymundo Faoro (1958), e "Raízes do Poder", de Sergio Buarque
de Holanda (1936), para afirmar
que a natureza esquizofrênica do
"homem cordial" ainda não desapareceu da sociedade brasileira.
"O rei, no Estado patrimonial,
vê o reino como uma extensão do
Estado. Ele é o dono de tudo, o
maior latifundiário. E quem é o
cidadão desse Estado? É o homem
cordial, aquele que se deixa levar
pelo coração, que pode ser amigo
e vingativo", afirmou o professor.
Para ele, "as relações sociais ainda
hoje são marcadas por contatos
pessoais, por relações mal disfarçadas de clientelismos".
Carlos Lessa concentrou seu
discurso na República. "A República, ou o que seria a coisa pública, é construída de uma maneira
muito parecida com o Primeiro
Império, onde não existe povo."
Lessa afirmou que a visão autoritária da República estava sublimada como um "grande" projeto
nacional. "Não se pretendeu fazer
a República com a convocação do
povo para que fosse aberta a discussão sobre o seu futuro e o seu
presente. A República foi pensada
dando para a oligarquia condições de sobrevivência."
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