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PALESTRA
Luiz Felipe de Alencastro apresentou seu novo trabalho na Folha
Historiador revê comércio colonial
DA REPORTAGEM LOCAL
Sob o eixo de que "a destruição
contínua de Angola é que fez o
Brasil", o historiador Luiz Felipe
de Alencastro apresentou em palestra na Folha, no dia 21 de junho, seu novo livro, "O Trato dos
Viventes - Formação do Brasil no
Atlântico Sul".
Pesquisador do Cebrap e professor que está deixando a Unicamp para assumir a cadeira de
história do Brasil na Universidade
de Paris, Alencastro resumiu na
palestra a defesa de que se tenha
criado entre Brasil e Angola um
sistema de comércio bilateral, relativizando a importância de Portugal no processo.
"Esse sistema foi responsável
pela compra de mais da metade
dos escravos que chegaram ao
Brasil, e os escravos de Angola
eram pagos com mercadoria brasileira, como cachaça e tabaco,
numa relação bilateral direta."
"A compra do escravo acontece
na porta da fazenda, pelo traficante, e a mão-de-obra é captada pela
pilhagem. A idéia de ciclos econômicos é meio furada, pois a chegada ininterrupta de escravos,
graças à reserva de mão-de-obra
conquistada na África, vai permitir que um ciclo não se encerre
nem desabe pelo início de outro."
De tal estruturação, vem uma
das conclusões do historiador:
"Como vai se falar de Brasil nesse
começo? Não há Brasil, mas uma
série de pontos isolados uns dos
outros". Defende, então, a inexistência de Brasil como nação e de
brasileiros em seus primeiros três
séculos. "Colônia é feita para ficar
colônia, não para virar nação, desenvolver universidades. Essa
gente não sabia que depois a colônia ia ficar independente, ia virar
uma nação. Os colonos não podem ser chamados de brasileiros,
esse conjunto de gente díspar e regional forma uma comunidade
que chamo de "brasílicos", um termo da época."
Já no segmento de discussão
com o público, ele polemizou:
"Camões faz em "Os Lusíadas"
apenas duas referências ao Brasil,
uma delas indireta. O orgulho
brasileiro fica atacado em saber
que o Brasil foi descoberto por
acaso, mas não tenho culpa".
Tentando dar um sentido de
aplicação à atualidade às conclusões do livro, afirmou: "Acho importante essa idéia de que a nação
não está aí desde sempre e nem
dura para sempre. Na globalização, a idéia de nação vem sendo
ameaçada pela idéia de mercado".
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