São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2000


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PALESTRA
Luiz Felipe de Alencastro apresentou seu novo trabalho na Folha
Historiador revê comércio colonial

DA REPORTAGEM LOCAL

Sob o eixo de que "a destruição contínua de Angola é que fez o Brasil", o historiador Luiz Felipe de Alencastro apresentou em palestra na Folha, no dia 21 de junho, seu novo livro, "O Trato dos Viventes - Formação do Brasil no Atlântico Sul".
Pesquisador do Cebrap e professor que está deixando a Unicamp para assumir a cadeira de história do Brasil na Universidade de Paris, Alencastro resumiu na palestra a defesa de que se tenha criado entre Brasil e Angola um sistema de comércio bilateral, relativizando a importância de Portugal no processo.
"Esse sistema foi responsável pela compra de mais da metade dos escravos que chegaram ao Brasil, e os escravos de Angola eram pagos com mercadoria brasileira, como cachaça e tabaco, numa relação bilateral direta."
"A compra do escravo acontece na porta da fazenda, pelo traficante, e a mão-de-obra é captada pela pilhagem. A idéia de ciclos econômicos é meio furada, pois a chegada ininterrupta de escravos, graças à reserva de mão-de-obra conquistada na África, vai permitir que um ciclo não se encerre nem desabe pelo início de outro."
De tal estruturação, vem uma das conclusões do historiador: "Como vai se falar de Brasil nesse começo? Não há Brasil, mas uma série de pontos isolados uns dos outros". Defende, então, a inexistência de Brasil como nação e de brasileiros em seus primeiros três séculos. "Colônia é feita para ficar colônia, não para virar nação, desenvolver universidades. Essa gente não sabia que depois a colônia ia ficar independente, ia virar uma nação. Os colonos não podem ser chamados de brasileiros, esse conjunto de gente díspar e regional forma uma comunidade que chamo de "brasílicos", um termo da época."
Já no segmento de discussão com o público, ele polemizou: "Camões faz em "Os Lusíadas" apenas duas referências ao Brasil, uma delas indireta. O orgulho brasileiro fica atacado em saber que o Brasil foi descoberto por acaso, mas não tenho culpa".
Tentando dar um sentido de aplicação à atualidade às conclusões do livro, afirmou: "Acho importante essa idéia de que a nação não está aí desde sempre e nem dura para sempre. Na globalização, a idéia de nação vem sendo ameaçada pela idéia de mercado".


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