São Paulo, quarta-feira, 27 de junho de 2001

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NOVELA

Estrela do teatro brasileiro será uma das protagonistas da nova produção da Globo, como filha de Fernanda Montenegro

Bete Coelho acerta contas com a televisão

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Tão intensa na relação com o teatro, a atriz Bete Coelho, 38, terá a primeira grande experiência na TV: será uma das protagonistas da próxima novela das sete da Globo, escrita por Silvio de Abreu e dirigida por Jorge Fernando.
Bete estará no núcleo central de "A Incrível Batalha das Filhas da Mãe no Jardim do Éden", com estréia prevista para 27 de agosto. Será Alessandra, uma das filhas da mãe Lulu (Fernanda Montenegro). "É uma das personagens mais malucas. Ela não tem limites", diz Silvio de Abreu.
Raul Cortez, Andréa Beltrão, Cláudia Raia, Francisco Cuoco, Tony Ramos e vários outros nomes do primeiro escalão da Globo estão no elenco.
Há duas semanas, Bete esteve em Roma para gravar na Fontana de Trevi. Foi lá que teve certeza: escolhera o melhor momento para acertar contas com a TV.

Folha - O que está achando da comédia "Filhas da Mãe"?
Bete Coelho -
É uma comédia de Silvio de Abreu e, portanto, inteligente. Existem personagens em situações apropriadas à dramaturgia. É uma comédia com "C" maiúsculo, não simples besteirol.

Folha - Como é sua relação com a televisão?
Bete -
Não tenho [risos". Sou uma péssima telespectadora porque para mim televisão é um vício. Eu não tenho TV paga porque senão fico a noite inteira assistindo, me vicio. Procuro evitar.

Folha - Mas o que acha da TV como veículo de comunicação?
Bete -
A TV é substituta do fogo. As pessoas ficam em torno do aparelho conversando, comendo. É popular e tem um poder genial. O telespectador faz críticas na hora e desliga quando quiser. É muito democrática. No teatro as pessoas já são mais reprimidas.

Folha - Acha que a experiência nesta nova novela será diferente da que você teve em "Vamp"?
Bete -
"Vamp" foi minha primeira novela. A personagem, Jezebel, era muito legal, mas eu não estava preparada, não era uma personagem adequada para eu fazer na primeira novela.

Folha - Mas foi um sucesso.
Bete -
Mas o que é o sucesso? Eu acredito no trabalho que a gente faz de verdade. O que me interessa levar para a TV é uma mínima faísca, que eu acho que o teatro tem, que é o acesso ao inconsciente, a esse estado de loucura consciente. Acho muito possível que de vez em quando a TV dê às pessoas essas faíscas. E tenho comigo essa responsabilidade, a partir do momento em que estou fazendo um trabalho público. A TV tem um poder absoluto, e hoje me acho muito mais preparada para isso. É algo que sempre evitei, de que fugi de certa maneira.

Folha - Por que você fugia?
Bete -
Hoje já tenho mais esclarecimentos em relação à minha pessoa pública, à minha responsabilidade. Eu nunca achei que tinha muito o que dizer. Hoje acho que o que tenho a dizer pode ser interessante, comparando às coisas que são ditas e mostradas...

Folha - O que acha que levou a Globo a escalar tantos figurões para esta novela?
Bete -
Pelas conversas que tive com Silvio de Abreu, Jorge Fernando, senti que o interesse é fazer uma novela de qualidade que nos dê prazer, nos divirta.

Folha - Você não vê a iniciativa como uma estratégia para alavancar a audiência no horário?
Bete -
Ah, eu não quero pensar nisso. Eu não estou indo por essa estratégia, mas porque acho o projeto legal, o elenco maravilhoso, minha personagem é o máximo. Se existe essa estratégia, isso é problema da Globo.

Folha - Não gosta de pensar em audiência?
Bete -
Eu simplesmente não penso, não é que eu não gosto. Se for pensar em Ibope, fico louca, não consigo trabalhar. Eu quero não ter a obrigação de fazer bem, mas quero fazer bem, estou me preparando para isso. Espero que dê certo. E em televisão isso significa audiência. Nesse sentido, o Ibope é muito bem-vindo. Não quero que dê traço [risos".

Folha - Tanto no SBT como na Bandeirantes, você participou de um momento de retomada da teledramaturgia, da tentativa de ampliar o mercado. Era esse o estímulo para que trabalhasse na TV?
Bete -
Eu adoro novidades, riscos, novas experiências. A gente tenta investir naquilo que acredita. E eu vivo de utopias. Essas iniciativas geraram movimento na TV, melhoraram sua qualidade.

Folha - Você chegou a achar que voltar para a Globo seria, de certa forma, abrir mão dessas utopias?
Bete -
Antes eu tinha um pouco esse pensamento, essa idéia de achar que eu poderia trair o meu trabalho. Mas hoje penso o contrário, que eu estou somando. Temos que usar o poder da Globo, porque é o que as pessoas vêem. Então se tiver uma ceninha em que possa mudar alguma coisa, mesmo que seja só entretenimento, mas que seja construtivo, consistente, qualificado no sentido artístico, isso já me satisfaz.

Folha - Você trabalharia com mais frequência na televisão?
Bete -
Acho que não. Sou uma pessoa de teatro. O teatro me faz viver. Não sou uma pessoa normal. Ninguém passa impunemente fazendo uma escolha dessas, achando que pode acordar, viver, estudar, casar, ter filhos e tudo certo. Na verdade dá tudo errado [risos". Então como eu vou abrir mão da única coisa que me faz respirar e viver, que é o teatro?


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