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Diretor quer abordar "fim das utopias"
DA ENVIADA A BELO HORIZONTE
Embora "Batismo de Sangue" seja baseado no livro de
Frei Betto (Daniel Oliveira), seu
personagem central é frei Tito
(1945-74), vivido por Caio Blat.
Quando Tito morreu na
França, "estava desacreditado
de Marx, de Cristo, de Freud",
afirma o diretor Helvécio Ratton. "Interessa-me esta antecipação do fim das utopias", diz.
Ex-militante da VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária), o cineasta exilou-se no Chile de 1970-74. Conta
que, lá, viu a chegada de "um
avião trazendo 70 presos políticos, trocados pelo embaixador
da Suíça. Entre eles, Tito."
O diretor diz que "Batismo de
Sangue" lhe dá a chance de tratar com "certo distanciamento" de um período da história
brasileira que viveu intensamente. Centrar a trama nos
personagens dos frades "desloca o filme da imagem do militante de esquerda", afirma.
Por outro lado, esse deslocamento aproxima o filme de
uma reflexão contemporânea
do diretor: "Descobri que a
enorme compaixão com os
desvalidos que eu tinha na época em que me julgava marxista
era um sentimento cristão".
Para tentar compreender a
trajetória de Tito, Ratton conversou com o psiquiatra que o
atendeu na França, Jean-Claude Rolland. Falaram da possibilidade de Tito ter vivido a experiência da tortura como uma
possessão não só de seu corpo,
mas também de sua alma por
alguém (algo) alheio a si.
Por sugestão do fotógrafo
Lauro Escorel, as cenas de Tito
na França serão filmadas em
setembro, quando a Europa fica sob a luz outonal.
Escorel fotografa o filme segundo o percurso dos frades.
"Vai do harmônico, na época
do convento, ao mergulho nas
catacumbas, quando as sombras vão se impondo", diz.
A escolha ideal do fotógrafo
era filmar "Batismo de Sangue"
em preto e branco, opção que a
produção descartou, prevendo
rechaço do público. Escorel
não se deu por vencido. "Assumi o desafio de fazer o colorido
parecer preto e branco."
Ratton diz que o longa "não é
pessimista", embora "um filme
em que o protagonista se suicida, porque vê impossível a realização de suas utopias, certamente não é ufanista". A estréia
está prevista para 2006. (SA)
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