São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2005

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Diretor quer abordar "fim das utopias"

DA ENVIADA A BELO HORIZONTE

Embora "Batismo de Sangue" seja baseado no livro de Frei Betto (Daniel Oliveira), seu personagem central é frei Tito (1945-74), vivido por Caio Blat.
Quando Tito morreu na França, "estava desacreditado de Marx, de Cristo, de Freud", afirma o diretor Helvécio Ratton. "Interessa-me esta antecipação do fim das utopias", diz.
Ex-militante da VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária), o cineasta exilou-se no Chile de 1970-74. Conta que, lá, viu a chegada de "um avião trazendo 70 presos políticos, trocados pelo embaixador da Suíça. Entre eles, Tito."
O diretor diz que "Batismo de Sangue" lhe dá a chance de tratar com "certo distanciamento" de um período da história brasileira que viveu intensamente. Centrar a trama nos personagens dos frades "desloca o filme da imagem do militante de esquerda", afirma.
Por outro lado, esse deslocamento aproxima o filme de uma reflexão contemporânea do diretor: "Descobri que a enorme compaixão com os desvalidos que eu tinha na época em que me julgava marxista era um sentimento cristão".
Para tentar compreender a trajetória de Tito, Ratton conversou com o psiquiatra que o atendeu na França, Jean-Claude Rolland. Falaram da possibilidade de Tito ter vivido a experiência da tortura como uma possessão não só de seu corpo, mas também de sua alma por alguém (algo) alheio a si.
Por sugestão do fotógrafo Lauro Escorel, as cenas de Tito na França serão filmadas em setembro, quando a Europa fica sob a luz outonal.
Escorel fotografa o filme segundo o percurso dos frades. "Vai do harmônico, na época do convento, ao mergulho nas catacumbas, quando as sombras vão se impondo", diz.
A escolha ideal do fotógrafo era filmar "Batismo de Sangue" em preto e branco, opção que a produção descartou, prevendo rechaço do público. Escorel não se deu por vencido. "Assumi o desafio de fazer o colorido parecer preto e branco."
Ratton diz que o longa "não é pessimista", embora "um filme em que o protagonista se suicida, porque vê impossível a realização de suas utopias, certamente não é ufanista". A estréia está prevista para 2006. (SA)

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