São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

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Penderecki se mostra em várias facetas

Compositor rege Orquestra Petrobras Sinfônica em concerto domingo no Rio

Espetáculo no Municipal carioca inclui programa variado, que começa "Polymporphia" e acaba com tradicional "Noite Feliz"


IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Radical na juventude, retrô na idade madura, o compositor polonês Krzysztof Penderecki (pronuncia-se penderétsqui) exibe as diversas facetas de sua produção no Rio de Janeiro.
No domingo, ele rege a Orquestra Petrobras Sinfônica em um programa variado, que começa com as dissonâncias e aleatoriedade de "Polymporphia", para 48 instrumentos de cordas, de 61, até chegar ao ambiente neo-romântico da "Sinfonia nº 2" (80), denominada "De Natal", que emprega a canção tradicional "Noite Feliz".
"Alguns artistas têm muitas faces, e eu sou um deles. Veja o exemplo de Picasso, que estava sempre mudando, mas sempre era Picasso em tudo o que estava fazendo", comparou o compositor, que já esteve por aqui pela última vez em 2004, regendo a Osesp (Orquestra Sinfônica de São Paulo) em seu "Réquiem Polonês", em entrevista à Folha.


Emocional e agressivo
Nascido em 1933, em Debrica (130 km a leste da Cracóvia), Penderecki estourou internacionalmente nos anos 60, ao empregar, de maneira agressiva e emocional, sonoridades "ásperas", como "clusters" (blocos de notas adjacentes tocadas simultaneamente), novos efeitos para os instrumentos de cordas e uma escrita "selvagem" para a percussão.
Aparecendo em obras orquestrais como a "Trenodia para as Vítimas de Hiroxima" (60), os recursos de Penderecki causaram furor em obras vocais de grande impacto, como a "Paixão Segundo São Lucas" (1966) e a ópera baseada em Aldous Huxley "Os Demônios de Loudun" (1968), que soavam como alternativa não-passadista ao cerebralismo de vanguardas da época. A partir dos anos 80, contudo, o compositor optou por um idioma mais "acessível", que faz alguns comentadores identificarem um retorno à tonalidade em obras como "Os Sete Portões de Jerusalém" (96), recentemente executada pela própria Osesp.
"É muito monumental, porque uma peça para os 3.000 anos de uma cidade como Jerusalém tem que ser muito especial, mas eu não uso a tonalidade", define o compositor, que havia planejado vir a São Paulo para presenciar a performance da obra, mas acabou viajando a São Petersburgo para assistir à estréia russa de sua "Utrenia" (71), baseada na tradição cristã ortodoxa.
"Como tenho escrito música sacra desde os anos 50 e tive que lidar com os textos sacros, me tornei mais religioso do que eu era antes, através de minha música", explica Penderecki, que compôs, em setembro do ano passado, uma "Chacona" para cordas em memória do papa João Paulo 2º.
"É uma peça muito pessoal, porque eu era muito próximo a ele e, sendo polonês, eu senti que tinha que escrevê-la", diz. "Agora, ela é um movimento do meu "Réquiem Polonês", no qual entra logo depois do "Sanctus", sem texto."

Nova fase
Outra criação recente é a "Sinfonia nº 8", com o subtítulo "Lieder der Vergänglichkeit" (canções da efemeridade), lançada em junho de 2005 e que, de acordo com o autor, estrearia uma nova fase em sua produção: depois da "vanguardista" e da "romântica", viria agora a "lírica".
Trata-se de um ciclo de canções sobre textos de poetas germânicos, como Goethe, Heine, Eichendorff e Rilke, em homenagem às árvores -de acordo com suas próprias contas, Penderecki cultiva 1.500 espécies em um terreno de 30 hectares.
Entre os planos para o futuro, estão terminar a "Sinfonia nº 6", iniciada há 12 anos e com estréia pela Filarmônica de Viena prevista para 2008, e escrever, sob encomenda da renomada violinista alemã Anne-Sophie Mutter, uma obra para uma combinação inusitada: violino e contrabaixo.
"A cada cinco ou seis anos, eu tiro um período de alguns meses para escrever só música de câmera", diz. "Depois de alguns anos escrevendo grandes peças, como sinfonias, óperas e oratórios, preciso de tempo para me purificar. Escrever música de câmera é voltar para música pessoal e íntima. É como um purgatório."


ORQUESTRA PETROBRAS SINFÔNICA COM O REGENTE KRZYSZTOF PENDERECKI
Quando:
domingo, às 17h
Onde: Teatro Municipal do Rio de Janeiro (pça. Floriano, s/nº, Rio, tel. 0/xx/21/2299-1633)
Quanto: de R$ 3 a R$ 10


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