|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Penderecki se mostra em várias facetas
Compositor rege Orquestra Petrobras Sinfônica em concerto domingo no Rio
Espetáculo no Municipal carioca inclui programa variado, que começa "Polymporphia" e acaba com tradicional "Noite Feliz"
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Radical na juventude, retrô
na idade madura, o compositor
polonês Krzysztof Penderecki
(pronuncia-se penderétsqui)
exibe as diversas facetas de sua
produção no Rio de Janeiro.
No domingo, ele rege a Orquestra Petrobras Sinfônica
em um programa variado, que
começa com as dissonâncias e
aleatoriedade de "Polymporphia", para 48 instrumentos de
cordas, de 61, até chegar ao ambiente neo-romântico da "Sinfonia nº 2" (80), denominada
"De Natal", que emprega a canção tradicional "Noite Feliz".
"Alguns artistas têm muitas
faces, e eu sou um deles. Veja o
exemplo de Picasso, que estava
sempre mudando, mas sempre
era Picasso em tudo o que estava fazendo", comparou o compositor, que já esteve por aqui
pela última vez em 2004, regendo a Osesp (Orquestra Sinfônica de São Paulo) em seu
"Réquiem Polonês", em entrevista à Folha.
Emocional e agressivo
Nascido em 1933, em Debrica
(130 km a leste da Cracóvia),
Penderecki estourou internacionalmente nos anos 60, ao
empregar, de maneira agressiva e emocional, sonoridades
"ásperas", como "clusters"
(blocos de notas adjacentes tocadas simultaneamente), novos efeitos para os instrumentos de cordas e uma escrita "selvagem" para a percussão.
Aparecendo em obras orquestrais como a "Trenodia para as Vítimas de Hiroxima"
(60), os recursos de Penderecki
causaram furor em obras vocais de grande impacto, como a
"Paixão Segundo São Lucas"
(1966) e a ópera baseada em Aldous Huxley "Os Demônios de
Loudun" (1968), que soavam
como alternativa não-passadista ao cerebralismo de vanguardas da época.
A partir dos anos 80, contudo, o compositor optou por um
idioma mais "acessível", que
faz alguns comentadores identificarem um retorno à tonalidade em obras como "Os Sete
Portões de Jerusalém" (96), recentemente executada pela
própria Osesp.
"É muito monumental, porque uma peça para os 3.000
anos de uma cidade como Jerusalém tem que ser muito especial, mas eu não uso a tonalidade", define o compositor, que
havia planejado vir a São Paulo
para presenciar a performance
da obra, mas acabou viajando a
São Petersburgo para assistir à
estréia russa de sua "Utrenia"
(71), baseada na tradição cristã
ortodoxa.
"Como tenho escrito música
sacra desde os anos 50 e tive
que lidar com os textos sacros,
me tornei mais religioso do que
eu era antes, através de minha
música", explica Penderecki,
que compôs, em setembro do
ano passado, uma "Chacona"
para cordas em memória do papa João Paulo 2º.
"É uma peça muito pessoal,
porque eu era muito próximo a
ele e, sendo polonês, eu senti
que tinha que escrevê-la", diz.
"Agora, ela é um movimento do
meu "Réquiem Polonês", no
qual entra logo depois do "Sanctus", sem texto."
Nova fase
Outra criação recente é a
"Sinfonia nº 8", com o subtítulo
"Lieder der Vergänglichkeit"
(canções da efemeridade), lançada em junho de 2005 e que,
de acordo com o autor, estrearia uma nova fase em sua produção: depois da "vanguardista" e da "romântica", viria agora
a "lírica".
Trata-se de um ciclo de canções sobre textos de poetas germânicos, como Goethe, Heine,
Eichendorff e Rilke, em homenagem às árvores -de acordo
com suas próprias contas, Penderecki cultiva 1.500 espécies
em um terreno de 30 hectares.
Entre os planos para o futuro, estão terminar a "Sinfonia
nº 6", iniciada há 12 anos e com
estréia pela Filarmônica de
Viena prevista para 2008, e escrever, sob encomenda da renomada violinista alemã Anne-Sophie Mutter, uma obra para
uma combinação inusitada:
violino e contrabaixo.
"A cada cinco ou seis anos, eu
tiro um período de alguns meses para escrever só música de
câmera", diz. "Depois de alguns
anos escrevendo grandes peças, como sinfonias, óperas e
oratórios, preciso de tempo para me purificar. Escrever música de câmera é voltar para música pessoal e íntima. É como
um purgatório."
ORQUESTRA PETROBRAS SINFÔNICA COM O REGENTE KRZYSZTOF PENDERECKI
Quando: domingo, às 17h
Onde: Teatro Municipal do Rio de
Janeiro (pça. Floriano, s/nº, Rio,
tel. 0/xx/21/2299-1633)
Quanto: de R$ 3 a R$ 10
Texto Anterior: Cultura livre encerra evento com pedido de isenção de taxas Próximo Texto: Crítica/Osesp: SP vê labirinto monumental do "Réquiem" Índice
|