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Crítica/"Onde Andará Dulce Veiga?"
Repetições estéticas tornam filme ultrapassado
Guilherme de Almeida Prado continua preso aos anos 80 em trama noir
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Ao emergir do universo
da boca do lixo nos anos
80, Guilherme de Almeida Prado surpreendeu com
sua apropriação dos códigos de
gênero dos filmes eróticos para
transformá-los em cinema com
ambições autorais. Longe desse
espírito de oxigenação, "Onde
Andará Dulce Veiga?" é o contrário das liberdades inventivas
de "As Taras de Todos Nós" e
"A Flor do Desejo", que atraíram atenção para o diretor paulista. Ao manter-se fiel às obsessões estéticas, o cinema de
Prado tornou-se vítima da própria paródia.
"Onde Andará Dulce Veiga?"
reproduz sem avançar toda a
série de procedimentos fetichistas que o público já conhece dos primeiros filmes da versão tropical do chamado "néon-realismo". Uma trama
de inspiração "noir", conduzida
por uma mulher fatal, os efeitos
dúbios de um mundo organizado pelas potências do falso e
uma sucessão de imagens que
seduzem à primeira vista por
sua qualidade e bom acabamento. Tudo remete ao desejo
de sofisticação que se alimenta
quase só do que é "refinado" na
estética cinematográfica.
Enquanto a maioria que aderiu a essa estética nos anos 80
mudou a estratégia (Coppola,
Lynch, Almodóvar) ou desapareceu (Beineix, Carax), Prado
repete os mesmos tiques sem
demonstrar ter percebido a
passagem do tempo.
Seus dois filmes dos anos 90,
"Perfume de Gardênia" e "A
Hora Mágica", já indicavam o
esgotamento de idéias como a
trama labiríntica, a indeterminação entre real e imaginação e
a matriz do policial dos anos 40
transferida para um Brasil de
temporalidade suspensa.
Nessa perspectiva, a estrutura criativa do roteiro, o excelente acabamento técnico, o uso
astuto de estrelas de TV e do
próprio repertório, o olhar nostálgico para outras épocas perdem a importância sob a incapacidade do projeto fazer sentido como um todo. Pois tudo
que se apresenta como signo de
qualidade em "Onde..." naufraga sob o peso da motivação de
Prado em se impor como autor.
Poderia até parecer relevante, para que tal intenção se concretizasse, apontar a projeção
do diretor e do autor da história
original na figura central de
Caio, cujo périplo em busca do
destino da enigmática personagem-título processa-se como
auto-descobrimento. Em nenhum momento, porém, o filme olha para o umbigo de forma irônica, permitindo se descolar do vácuo de "trip" geracional, de passeio por um museu preenchido por imagens de
si mesmo e de sua turma.
Por sua incapacidade de se libertar daquilo que um dia se
convencionou chamar "pós-moderno", "Onde Andará Dulce Veiga?" só confirma que não
há nada mais ultrapassado que
o passado recente.
ONDE ANDARÁ DULCE VEIGA?
Produção: Brasil, 2007
Direção: Guilherme de Almeida Prado
Com: Eriberto Leão, Carolina Dieckman, Maitê Proença
Onde: estréia hoje no Unibanco Arteplex; classificação: 16 anos
Avaliação: ruim
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