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Crítica/DVD/"Retratos da Vida"
Lelouch cria a "obra-prima" da cafonice
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Uma boa notícia para todos aqueles que cultuaram "Retratos da
Vida" e alçaram o diretor francês Claude Lelouch ao patamar
de "grande artista": o maior
clássico do sentimentalismo
dos anos 80 está de volta! Agora
em DVD, mas numa cópia sem
nenhum brilho.
O filme é daquele tipo cuja sinopse é impraticável. Sua ambição pelo menos é reconstituir
os traumas históricos de parte
do século 20 e expor a catástrofe das guerras aos olhos das gerações que não as viveram.
Na memória do espectador,
porém, os 168 minutos de duração são apenas uma longa maturação para o apoteótico final,
em que o "Bolero" de Ravel é
dançado sob a Torre Eiffel.
Até chegar lá, é fácil se sentir
perdido em meio à rede de
emoções que o produtor, roteirista e diretor Lelouch (o acúmulo de tarefas nem esconde a
autoafirmação como "autor")
trança em forma de saga.
Em resumo, ele conta as peripécias de quatro núcleos familiares em capitais-chave da história do século: Moscou, Berlim, Paris e Nova York, desde a
eclosão da Segunda Guerra.
No caminho, enfrentaremos,
claro, o Holocausto, o totalitarismo stalinista, a Guerra da
Argélia e, por fim, a fome no
mundo. Em meio a sucessivos
desastres, o público ainda viverá amores e mortes, separações
e acasalamentos, perdas e reencontros, além de duas tentativas de suicídio, um acidente
mortal de carro e um sem-número de mortes na guerra.
Ao final, numa demonstração de que a "arte" supera conflitos, Lelouch promove o
triunfo da "estética Cruz Vermelha" com a cena que, para
muitos, não saiu da memória.
A ambição de Lelouch sempre foi maior que seu talento e
ela só se realiza plenamente
quando o diretor se entrega, como aqui, à desmesura. A vantagem de "Retratos..." sobre o
restante da carreira do diretor é
que neste trabalho ele não tenta se fantasiar com os simbolismos do "cinema de arte" e se
entrega, com toda liberdade, a
exercitar seu estilo verdadeiramente pessoal, marcado pela
hipérbole dos sentimentos.
Desse modo, os números de
canto e dança que invadem a
narrativa são assumidamente
excessivos e enfatizam o filme
como um melodrama desavergonhado. Com tanto despudor
à sua frente, só se pede ao espectador que perca também o
seu e se entregue ao gozo dessa
"obra-prima" da cafonice.
RETRATOS DA VIDA
Direção: Claude Lelouch
Lançamento: Classicline (R$ 14,90;
classificação: 14 anos)
Avaliação: bom
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