|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VANESSA VÊ TV
VANESSA BARBARA - vanessa.barbara@uol.com.br
A síndrome do excelente Effenberg
"ENTÃO OS desbravadores europeus se espalharam para o centro
da África e...", discorreu Galvão
Bueno, durante o modorrento confronto entre Inglaterra e Argélia, no
dia 18.
É nos momentos mais soníferos
dos jogos mais mornos que os narradores esportivos têm de provar seu
valor, entretendo os ouvintes com
sua sabedoria aleatória. Naquela
ocasião, discutiu-se a estampa florida da bermuda térmica de um dos
atletas. Em seguida, Galvão declarou que o melhor em campo era o
juiz do Uzbequistão.
Os locutores aproveitam o ensejo
para lançar mão de todos os seus recursos de oratória. Uma seleção pode, por exemplo, "assimilar" o gol
adversário e efetuar fortes passes
"em profundidade vertical" (o popular chutão).
Em transmissões, é comum dizerem que o jogador "primeiro tentou
na categoria, depois na raça", ou seja, primeiro tentou roubar a bola,
depois apelou para uma sangrenta
voadora. Menciona-se a "desinteligência" do esquema tático para se
referir à burrice do técnico, e o "bom
humor da torcida" quando esta emite palavrões de fazer corar Edmundo, o saudoso Animal.
Entre as gafes históricas da narração televisiva, está uma transmissão da Copa de 74 feita por um pool
de comentaristas, entre eles Galvão
Bueno. O trio narrava um ataque do
time da Bulgária, quando a bola
saiu pela linha de fundo e foi tiro de
meta para a Suécia. Nesse momento, a câmera deu um close no placar
do estádio: "Austrália 0, Alemanha
Oriental 0". Pânico na cabine.
Galvão não tinha nada a fazer senão continuar: "Vai a Austrália para o ataque, e a Alemanha Oriental
se defende como pode", informou,
numa locução esquizofrênica em
que a Bulgária chutou por cima do
gol da Suécia e quem bateu o tiro de
meta foi a Austrália. Ambos tinham
as mesmas cores de uniforme: amarelo de um lado e branco do outro.
Mas o maior tropeço ainda estava por vir. Na Copa de 94, conforme
reza a lenda, um locutor colombiano se superou, entrando imediatamente para o cânone. Primeiro disse: "Stefan Effenberg está com a bola, que bom jogador é Stefan Effenberg... excelente Effenberg".
E, em seguida: "Senhores, substituição na Alemanha. Entra Stefan
Effenberg". Silêncio incômodo.
Texto Anterior: Crítica ação: Caine constrange como pastiche de Charles Bronson Próximo Texto: Coleção destaca voz e serestas de Silvio Caldas Índice
|