São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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OPINIÃO QUADRINHOS

Em busca de novos leitores, editora DC passa por cima de paradigmas dos gibis

DIOGO BERCITO
DE SÃO PAULO

Após 23 anos de paraplegia, Barbara Gordon vai reassumir a identidade da heroína Batgirl e caminhar mais uma vez pela sombria cidade de Gotham.
Robin bem que gostaria de exclamar "Santo milagre!", mas o mais adequado seria bradar "Santo marketing!".
A benfeitoria de devolver o movimento das pernas à garota faz parte do projeto da editora DC de resetar as histórias de seus personagens.
Gibis como "Superman" e "Batman" voltam, em setembro, às edições número um, dando a roteiristas a chance de introduzir mudanças nos enredos sem precisar de muitas reviravoltas na narrativa.
As histórias dos super-heróis não vão se repetir, mas partirão de novas premissas (por exemplo, "a Batgirl não está na cadeira de rodas").
O Superman, por exemplo, vai perder a cueca por cima da calça que tanto causou frisson em Metropolis.
No ponto de vista da editora, essa medida favorece a entrada de novos leitores para os títulos, que poderão ingressar em um universo enigmático e repleto de referências cruzadas.
Além disso, há a expectativa de que colecionadores garantam os seus gibis tendo em vista o dia em que, por serem as primeiras edições, se tornarão raras e valiosas.
A estratégia lembra os anos 1990, quando a indústria de quadrinhos ficou obcecada por capas alternativas, forçando colecionadores a comprar uma mesma edição mais de uma vez.
A tática é criticada por fãs, assim como é polêmica a "cura" de Barbara Gordon. Batgirl ficou paraplégica em uma cena clássica de "Piada Mortal", um dos arcos mais famosos de "Batman". Tirá-la da cadeira de rodas é, de certa maneira, desconsiderar um paradigma dos gibis.
Nada que seja novidade pelas bandas desenhadas. Fãs do Homem-Aranha, para ficar em um exemplo apenas, já viram personagens como Tia May, Dr. Octopus e Duende Verde fazerem "ponte aérea" com o além, indo e voltando dessa para melhor.
É a tentativa de a indústria de gibis ir, também, dessa para uma melhor, em tempos de declínio de vendagens.
Talvez Robin devesse dizer, na verdade, "Santa criatividade!" para um mercado que se reinventa há décadas para tentar manter seus personagens interessantes e rentáveis.


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