São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2006

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NINA HORTA

Para onde caminha a humanidade?

Deve haver um jeito de andar com garbo pela internet. Ou então vamos passar a vida editando informações

"MAIS QUE comida, é alimento! Comida no intervalo! Comida na sua TV! A seguir, as marcas que apóiam nossa comida! Comida no intervalo! Comida no mundo! Daqui a pouco, comida! Porque é assim, quanto mais comida, melhor!"
Vocês não teriam uma indigestão por dia se escutassem essas ameaças de 15 em 15 minutos e fossem obrigados a esperar por pastilhas mínimas de comida anunciada de minuto em minuto? Pois é o que a TV Cultura está fazendo conosco. Querendo botar todo mundo para correr de medo de cultura, do bicho-papão da cultura! Evém ela minha gente! Ah, credo, quem estará a Cultura querendo imitar? Parem com essa bobagem, por favor.

 

Fui ver o desfile do Lino Villaventura para escrever sobre ele aqui. Mas era preciso estudar a África e suas aves, as meninas pareciam pássaros exóticos rasgando a passarela em cores, modelos hieráticas, ritualísticas, um jogo de poder, as fêmeas mais bonitas que os machos, mais enfeitadas, invertendo a ordem dos animais. Galinhas-d'angola, faisões, pavões enluarados, príncipes e princesas de crista, queria dar a receita de cada uma dessas caças plumadas, mas o tempo foi pouco, mais uma vez o Villaventura pôs a mesa, cozinhou um desfile de sonho, de penachos e vidrilhos e cristais. Queria que ele vestisse todas as mulheres do mundo, frangas transformadas em fênices, viveiro de sonho!
 
Andei atrás de uns blogs de comida na internet e estuporei. Coisa demais. Excesso de oferta. É como se todas as livrarias do mundo estivessem fazendo uma liquidação gigante. Deve haver um jeito de andar com mais garbo pela internet. Ou então vamos passar o resto da vida ocupados em editar informações.
 

Marcia Algranti já nos deu um dicionário de cozinha (coisa da qual precisamos!). Espero que ela tenha um site e passe a vida se divertindo com as novas perguntas e sugestões dos leitores para que o dicionário, daqui a alguns anos, seja um dos mais úteis livros da nossa biblioteca.
E agora está lançando pelo Senac "Conversas na Cozinha". Só de ser escrito em português já é tão bom para quem quer saber mais e mais sobre comida em geral. E são poucas as nossas publicações nacionais.
Os outros já disseram as mesmas coisas, geralmente em outras línguas, mas ela fala outra vez e em português, grande sacada. Para quem não é um devorador compulsivo de livros de comida, este nos conta muito do que está acontecendo no momento.
 

E o Super-Homem me enganou, quando fez 50 anos se retirou para nunca mais voltar. Fiz festas com o café da manhã de Smallville, no Midwest, numa série que aparecia na TV, com o nosso herói começando a vida. Tinha panqueca com maple, Jello verde da cor da kriptonita, mas o danado voltou, no meio de um mundaréu de cristais e estrelas, de cidades destruídas e reconstruídas.
Claro que não é possível conseguir de novo o encantamento de criança com Clark Kent, suas calças de Super-Homem um pouco enrugadas e os pulinhos desequilibrados de um muro ao outro.
Mas, sei lá, o Super-Homem também não viajou bem pelo cinema de efeitos especiais. Foi estetizado e perdeu a força, achei que parecia um morcego voando, swish, swish, no meio daquela viagem das estrelas.
Diminuiu. E Luthor, o Mal, cresceu, representado por Kevin Spacey. A Redação do jornal perdeu o glamour, e Lois Lane está casada, com filho pequeno, e tem mania de comida saudável. Ora. Assim caminha a humanidade.

ninahorta@uol.com.br

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