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Crítica/"Conceição - Autor Bom É Autor Morto"
Coletivo recupera produção marginal
Filme "Conceição - Autor Bom É Autor Morto" foi feito por estudantes de cinema da Universidade Federal Fluminense
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Há vários filmes - ou
rascunhos de filmes
-no longa-metragem
"Conceição - Autor Bom É Autor Morto", criação coletiva do
curso de cinema da Universidade Federal Fluminense.
Num bar, aspirantes a cineastas discutem suas idéias
para possíveis filmes. Desse
"brainstorming" vão surgindo
cenas que tomam a tela sem
aviso prévio, materializando os
argumentos expostos.
Uma terceira camada fílmica,
aparentemente documental, se
intercala entre as outras duas:
"pessoas comuns" (barbeiro,
vendedora de brechó, tatuador
etc.) falam sobre o filme que
gostariam de fazer.
Cinco diretores
Com seus 12 argumentistas e
cinco diretores, "Conceição..."
parece ter seguido em sua feitura o mesmo princípio dos
personagens-cineastas: "E se a
gente fizesse isso?" ou "Por que
não experimentar aquilo?"
O resultado é irregular, claro.
Caprichos e relaxos se alternam. Na principal "história
dentro da história", um fugitivo
(Augusto Madeira) é perseguido por um caçador (Jards Macalé, parodiando o cantador cego de "O Amuleto de Ogum"). É
uma perseguição abstrata, metafísica, por matas, praias, docas e avenidas.
Há ainda uma professorinha
que faz seus alunos falarem sobre a profissão dos pais, uma
mulher-vampira que decepa o
pênis do amante e passa no
moedor de carne, uma garotinha que tenta dar comida envenenada a uma mendiga. Mais
importante que as histórias é a
liberdade da realização, é o prazer de filmar.
Blecaute
A certa altura acaba a luz no
bar onde se discute. A tela fica
preta por vários minutos, enquanto ouvimos os ruídos ambientes e as conversas dos personagens. Alguém acende um
cigarro e toda a força do cinema
se resume à luz avermelhada
que faz surgir um rosto na escuridão, ao som crepitante do fumo queimando.
Referências pululam: um homem com máscara de gorila sobre um rochedo remete ao
"2001 - Uma Odisséia no Espaço", de Stanley Kubrick, e também a "Bang Bang", de Andrea
Tonacci. O espírito geral, misturando cinefilia e deboche, é o
dos primeiros filmes de Rogério Sganzerla (cuja filha Djin
está no elenco).
Corpo estranho na atual produção brasileira, "Conceição
-Autor Bom É Autor Morto" a
um só tempo celebra e questiona o cinema. Serve como contraponto a "Saneamento Básico", de Jorge Furtado, que faz o
mesmo por uma via oposta.
CONCEIÇÃO - AUTOR BOM É
AUTOR MORTO
Produção: Brasil, 2007
Direção: André Sampaio, Cynthia
Sims, Daniel Caetano, Guilherme
Sarmiento e Samantha Ribeiro
Com: Augusto Madeira, Jards Macalé e Isabel Tornaghi
Onde: a partir de hoje, no Frei Caneca Unibanco Arteplex, às 20h20 e
22h
Avaliação: bom
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