São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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Crítica/"Conceição - Autor Bom É Autor Morto"

Coletivo recupera produção marginal

Filme "Conceição - Autor Bom É Autor Morto" foi feito por estudantes de cinema da Universidade Federal Fluminense

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Há vários filmes - ou rascunhos de filmes -no longa-metragem "Conceição - Autor Bom É Autor Morto", criação coletiva do curso de cinema da Universidade Federal Fluminense.
Num bar, aspirantes a cineastas discutem suas idéias para possíveis filmes. Desse "brainstorming" vão surgindo cenas que tomam a tela sem aviso prévio, materializando os argumentos expostos.
Uma terceira camada fílmica, aparentemente documental, se intercala entre as outras duas: "pessoas comuns" (barbeiro, vendedora de brechó, tatuador etc.) falam sobre o filme que gostariam de fazer.

Cinco diretores
Com seus 12 argumentistas e cinco diretores, "Conceição..." parece ter seguido em sua feitura o mesmo princípio dos personagens-cineastas: "E se a gente fizesse isso?" ou "Por que não experimentar aquilo?"
O resultado é irregular, claro. Caprichos e relaxos se alternam. Na principal "história dentro da história", um fugitivo (Augusto Madeira) é perseguido por um caçador (Jards Macalé, parodiando o cantador cego de "O Amuleto de Ogum"). É uma perseguição abstrata, metafísica, por matas, praias, docas e avenidas.
Há ainda uma professorinha que faz seus alunos falarem sobre a profissão dos pais, uma mulher-vampira que decepa o pênis do amante e passa no moedor de carne, uma garotinha que tenta dar comida envenenada a uma mendiga. Mais importante que as histórias é a liberdade da realização, é o prazer de filmar.

Blecaute
A certa altura acaba a luz no bar onde se discute. A tela fica preta por vários minutos, enquanto ouvimos os ruídos ambientes e as conversas dos personagens. Alguém acende um cigarro e toda a força do cinema se resume à luz avermelhada que faz surgir um rosto na escuridão, ao som crepitante do fumo queimando.
Referências pululam: um homem com máscara de gorila sobre um rochedo remete ao "2001 - Uma Odisséia no Espaço", de Stanley Kubrick, e também a "Bang Bang", de Andrea Tonacci. O espírito geral, misturando cinefilia e deboche, é o dos primeiros filmes de Rogério Sganzerla (cuja filha Djin está no elenco).
Corpo estranho na atual produção brasileira, "Conceição -Autor Bom É Autor Morto" a um só tempo celebra e questiona o cinema. Serve como contraponto a "Saneamento Básico", de Jorge Furtado, que faz o mesmo por uma via oposta.


CONCEIÇÃO - AUTOR BOM É AUTOR MORTO
Produção: Brasil, 2007
Direção: André Sampaio, Cynthia Sims, Daniel Caetano, Guilherme Sarmiento e Samantha Ribeiro
Com: Augusto Madeira, Jards Macalé e Isabel Tornaghi
Onde: a partir de hoje, no Frei Caneca Unibanco Arteplex, às 20h20 e 22h
Avaliação: bom



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