São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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Mônica Bergamo

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Gilberto Tadday/Folha Imagem
Leandro Carvalho dá aulas de "levantamento brasileiro de bumbum" em acadêmia de Nova York

Gigante pela própria natureza

De xampu a sorbet da Häagen Dazs, os produtos à base da fruta brasileira açaí renderam nos EUA US$66 milhões em 2007, o triplo do ano anterior. As sandálias de borracha são hit há quatro versões. Mas a commodity nacional que mais ascende no país é outra. Chegou a hora de o bumbum (ou "brazilian butt") ganhar a América
Por Daniel Bergamasco, de Nova York


Nos Estados Unidos, "Brazilian Butt" já é nome patenteado de cirurgia plástica, aula de ginástica e lingerie com enchimento, tudo no mercado há cerca de três anos, com diferentes proprietários. Em breve, a "marca" estará impressa em rótulos de barrinhas de cereal, milk-shake emagrecedor, aparelho tonificador de glúteos e DVD de exercícios, que será anunciado em um comercial de televisão que imitará um reality show de emagrecimento.

 
O personal trainer mineiro Leandro Carvalho, 40, será o apresentar desse DVD de ginástica, a ser batizado com o nome de uma aula de academia que patenteou, a Brazilian Butt Lift, algo como "levantamento brasileiro de bumbum". "Para promover o produto, vamos gravar um desafio: tenho de três a quatro meses para fazer 60 americanas e americanos perderem pelo menos dez libras (4,53 quilos) e melhorarem o bumbum, deixando durinho como o dos brasileiros", explica. Ele vai embolsar um percentual da venda dos vídeos e já recebeu US$ 25 mil da empresa de televendas P9OX (também dona da barrinha e do shake) pelos direitos da aula.
 
Desde que lançou em Manhattan a aula que promete abrasileirar o "derrière" das americanas, Leandro já apareceu em publicações como a revista "Time Out" e o jornal "The New York Times". A revista "Star" o chama de "butt master" ("mestre do bumbum"). Sua aulas são freqüentadas por modelos da grife Victoria's Secret, como Alessandra Ambrósio e Fernanda Motta. "No Brasil, o bumbum sempre foi um músculo prioritário. Se na América está ganhando espaço, é por causa das modelos brasileiras e eu treino muitas delas", diz ele, que nunca ouviu falar na Mulher Melancia. "Se você for ver bem, as modelos européias têm um corpo muito melhor, mas as brasileiras aparecem mais porque sabem ser sensuais."
 
A aula de Leandro é embalada por remixes de canções brasileiras, de Ivete Sangalo a Chico Buarque, e mistura exercícios calistênicos (feitos com o peso do próprio corpo, como agachamento e avanço), balé clássico e capoeira. "Todo capoeirista tem bumbum bonito, durinho. E o balé deixa as pernas lindas, alongadas", conta o professor, que cobra US$ 200 por hora de aula particular. "Quase todas as clientes para quem faço personal são modelos. Elas não têm problemas para emagrecer, mas às vezes precisam perder aquela "baby fat" [gordurinha] que as brasileiras têm nas laterais dos quadris."
 
Uma solução ainda mais cara, de alguns milhares de dólares, para empinar o bumbum é proposta pelo cirurgião plástico americano Anthony Griffin. Astro do reality show "Extreme Makeover", no qual participantes se submetem a mudanças profundas na aparência, Griffin patenteou a cirurgia também com o nome de Brazilian Butt Lift, que consiste em aumentar e remodelar os glúteos com gordura da própria paciente, retirada do abdômen, por exemplo.
 
Desde que registrou a marca, Griffin já colocou no mercado mais de mil bumbuns "brasileiros", mas afirma que faz restrições em alguns casos. "Um paciente bem idoso me trouxe a namorada de 60 anos e um anúncio de Viagra que mostrava mulheres de biquíni. Ele me pediu para deixar a mulher igual as modelos, mas expliquei que não tinha jeito."
 
O nome da operação plástica acabou se espalhando pelo país e é usado por muitos outros médicos. "Me copiam, mas eu não ligo, não acho ético cobrar royalties. Se eu descobrisse a cura do câncer, também não guardaria o segredo só pra mim", diz Griffin, que conta que sua técnica não é inspirada em nenhuma brasileira em especial. "Não tenho por que mentir: eu peguei a idéia de cirurgiões brasileiros que conheci em congressos e redesenhei os instrumentos para a cirurgia ficar mais rápida. Mas o nome pegou porque remete à imagem do Brasil, biquíni, Ipanema e à sensualidade da brasileira.
 
Ainda assim, diz ele, os bumbuns mais copiados pelas pacientes são americanos. As cantoras Jennifer Lopez e Beyoncé são as campeãs de pedidos da clientela. Já as formas tupiniquins serviram de inspiração para as calcinhas com enchimento de silicone chamadas Brazilian Butt Enhancer (enaltecedor brasileiro de bumbum) ou Padded Panties Brasilero (sic) (calcinha com enchimento), que custam na casa dos US$ 25. Segundo a fabricante, Pauline Rous, a inspiração da forma foi genuinamente nacional. "Quando tive a idéia do enaltecedor de bumbum, eu tinha na cabeça um deles, perfeito, que vi na academia enquanto estava malhando, de uma garota brasileira maravilhosa", diz ela, que depois contratou modelos do Brasil para fazer moldes em várias proporções.
 
A lingerie está disponível nos tamanhos P, M, G e extragrande. Há ainda a versão masculina, que, além do silicone traseiro, também tem enchimento para a frente do corpo.


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