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"Persépolis" ganha nova versão na internet
Jovens fazem colagem de HQ para denunciar revolta com eleições no Irã
Criadores não divulgam sobrenome e endereço e dizem ter autorização da iraniana Marjane Satrapi para mudar conteúdo da HQ
LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de divulgar para o
mundo os relatos de milhares
de jovens sobre o sangrento
processo de eleição no Irã, a internet continua sendo uma
aliada para os críticos do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Agora, uma história em quadrinhos ganha destaque na rede.
"Persépolis 2.0", disponível
no site www.spreadpersepolis.com, é uma colagem de trechos do livro "Persépolis", autobiografia em quadrinhos da
iraniana Marjane Satrapi, com
novos diálogos. Nesta versão,
os desenhos em preto e branco,
com os traços da autora, recriam os dias de fúria no Irã
após as eleições de 12 de junho.
Composta em três partes, a
HQ foi criada por dois jovens,
filhos de iranianos, que fotografaram trechos do livro, escreveram e colaram novos diálogos usando os programas
Photoshop e Illustrator.
A dupla quis aproveitar o
apelo pop da autora a fim de
chamar a atenção para a situação do Irã. "Essa eleição deixou
clara a militarização da política
iraniana. Se foi "roubada" ou
não, não podemos dizer, mas a
repressão violenta só serviu como combustível para a oposição", diz Sina, coautor da história (com Payman), em entrevista à Folha, por e-mail.
Os dois são gerentes de marketing de 20 e poucos anos, vivem na Ásia, mas não querem
divulgar onde moram nem o
sobrenome ou a idade exata,
com medo de represálias.
Simpatizante do líder oposicionista derrotado Mir Hossein Mousavi, Sina conta que
essa foi sua primeira incursão
na política e que nunca havia se
interessado por militância.
Mas, com a repercussão de
"Persépolis 2.0", a dupla já começa a planejar novas ações.
"Somos cínicos em relação a
protestos em frente à embaixada, então resolvemos aproveitar a nossa experiência multicultural para ajudar nossos
amigos a entender o que se passa no Irã", afirma Sina.
A história de "Persépolis 2.0"
vai de 12 a 21 de junho e mostra
a euforia popular em torno da
possibilidade de vitória de
Mousavi, a revolta da população com o resultado oficial
-que proclamou Ahmadinejad
vencedor-, os levantes sociais
e o uso da internet para denunciar a repressão violenta.
O quadrinho termina com a
jovem Neda Agha-Soltan -que
foi morta nos embates com a
polícia e virou símbolo dos levantes- nos braços de Deus,
com a mensagem: "Sua morte
não foi em vão".
Ao lado, um aviso: "Espalhem a mensagem. Twitter, Facebook, e-mail". O apelo deu
resultados. A HQ tem comunidade no Facebook, é comentada no Twitter e no Flickr e ganhou projeção em blogs e jornais internacionais. Sina diz
que o site já foi visto por internautas de 170 países.
Revolução Islâmica
Sucesso internacional, o livro
de Satrapi que inspirou a nova
HQ foi adaptado para os cinemas em 2007 e indicado ao Oscar de animação. Narra a infância e a adolescência da autora
no Irã pós-Revolução Islâmica,
30 anos atrás. "É impressionante que as imagens de 1979
retratem tão bem os eventos de
2009", compara Sina.
Os levantes no mês passado
em Teerã são considerados os
mais violentos desde a revolução que transformou o país em
república islâmica, em 1979.
Avessa à mídia, Satrapi não
respondeu o e-mail enviado pela Folha no começo da semana.
Sina diz que "Persépolis 2.0"
tem o consentimento da autora, mas não dá detalhes sobre o
possível envolvimento da moça
no projeto. "É um assunto delicado, mas pode dizer que nós
temos permissão legal."
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