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Fotógrafo "poluirá" paisagem de SP
O francês Christian Caujolle será curador do Cidade Galeria, que vai ocupar espaços da cidade como paredes e muros
Previsto para janeiro, será o primeiro grande projeto visual ao ar livre permitido depois da implementação da lei Cidade Limpa
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL
O fotógrafo francês Christian
Caujolle olha atentamente a cidade que se desenrola sob seus
pés, fixados no topo e resistindo ao vento que varre a cobertura do edifício Martinelli, no
centro de São Paulo, local emblemático por já ter sido o mais
alto arranha-céu da América
Latina. "Meu desafio é preencher paredes", diz, mirando os
espaços deixados em branco
pela lei Cidade Limpa.
Ex-editor do jornal "Libération", fundador da agência Vu
(que inovou agenciando fotógrafos em vez de fotos) e curador de exposições como a de 50
anos da World Press Photo, ele
esteve em São Paulo na semana
passada revisitando a paisagem
que conheceu no início do ano e
que tem a missão de metamorfosear até o início de 2010.
Caujolle será curador do Cidade Galeria, o primeiro projeto visual ao ar livre desde que a
prefeitura baniu os outdoors,
em 2007, a obter autorização
da Emurb (Empresa Municipal
de Urbanização) para espalhar
painéis de até 150 m2 por paredes, muros e chão da capital.
Previsto para janeiro, época
do aniversário de São Paulo, o
evento, organizado pela agência de produção cultural Brazimage, terá como cocuradores
os fotógrafos Eduardo Brandão, da Galeria Vermelho, e Iatã Cannabrava, do Fórum Latino-Americano de Fotografia de
São Paulo. Contará ainda com a
direção de arte do designer sul-coreano Ji Lee, conhecido por
intervenções em cartazes publicitários de Nova York. O custo do projeto é estimado em R$
2,5 milhões, captados por leis
federais de incentivo, como a
Rouanet, e patrocinadores.
O Cidade Galeria estampará
no perímetro entre a igreja da
Consolação e a estação da Luz a
produção de fotógrafos brasileiros e estrangeiros. Haverá
ainda exibições multimídia.
Um simpósio sobre arte e cidade deve dar uma dimensão
mais filosófica ao evento -reflexo da formação de Caujolle,
que estudou com alguns dos
mais influentes intelectuais do
século 20, como o semiólogo
Roland Barthes (1915-1980), o
sociólogo Pierre Bourdieu
(1930-2002) e o filósofo Michel
Foucault (1926-1984).
Político
"É político. Não queremos
incitar consumo, não estamos
vendendo nada nem anunciando ninguém. Não consigo imaginar onde mais eu poderia fazer algo assim", diz Caujolle,
que aceitou o convite atraído
por se tratar de uma cidade sem
propaganda. "Os países que conheci nestas condições [sem
outdoors] eram comunistas,
como Tchecoslováquia e Polônia. Havia um sentimento de
tristeza que não senti aqui."
Para Regina Monteiro, diretora da Emurb e mentora da lei
Cidade Limpa, o que se discute
é como será o visual urbano daqui em diante. "O poder público
começa a regrar uma coisa nova. Como quebrar isso, de que o
que vale é quem dá mais? O que
vale é quem fará o quê", diz.
As paredes esvaziadas também desafiam o designer Ji
Lee, acostumado a ações que
questionam a publicidade. Nascido na Coreia do Sul, criado no
Brasil e há 20 anos nos EUA, ele
chegou a ser preso por colar balões em branco em cartazes de
propaganda. Em outra ação,
aplicou um pano preto com
frestas sobre painéis luminosos, transformando mensagens
publicitárias em arte abstrata.
"Me senti agredido como cidadão ao andar nas ruas de Nova York e ver tantas mensagens
que não me interessavam", diz,
para em seguida contrapor o
momento paulistano. "O mundo inteiro está olhando para
São Paulo, por causa do Cidade
Limpa. Será muito interessante
ver como o público vai reagir ao
Cidade Galeria."
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