São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 2006

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Qual é a música?

Criadores dos sites Pandora e Last.fm defendem que a tecnologia confere cada vez mais poder a fãs e ouvintes

Divulgação
A central de operações do site Pandora, onde cerca de cem analistas ouvem e classificam canções para alimentar a base de dados


SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Sempre que se fala em música e internet, tudo parece uma maravilha. Qualquer artista, gênero, raridade ou novidade está acessível a apenas alguns toques e downloads de distância. Não é necessário mais percorrer lojas nem apelar para amigos que viajam ao exterior para trazer as novidades. Parece bom, não?
Mas você já experimentou pensar na quantidade de bandas, cantores e cantoras que estão aí pela rede, oferecendo-se de graça? O cenário logo começa a ficar assustador. Como fazer para escolher o que ouvir? Que critérios estabelecer para selecionar que música baixar? E, por fim, depois de acumular toneladas de faixas em seu computador, como lidar com a inevitável crise de identidade: Do que é que eu gosto mesmo?
Para atender a esses ouvintes curiosos, porém confusos com a abundância de oferta da rede, duas badaladas rádios de internet estão conquistando cada vez mais espaço e mercado ao oferecerem um sistema de recomendações musicais.
"A idéia é que esse serviço funcione como aquelas visitas que você faz à casa de um amigo. Ele lhe mostra seus discos preferidos e você percebe que estes lhe agradam também, porque vocês dois têm afinidades", disse à Folha Martin Stiksel, um dos três fundadores do site britânico Last.fm (www.last.fm), que recebe, hoje, 10 milhões de visitantes por mês. Ao lado do norte-americano Pandora (www.pandora.com), o Last.fm virou referência para fãs de música pop que querem orientação com relação a novidades.
Ambos funcionam da mesma maneira. Primeiro, o ouvinte se cadastra e dá informações sobre artistas e estilos de que gosta. Por meio de um sistema interativo, ele vai sendo levado a conhecer canções que devem agradá-lo por terem semelhanças com suas indicações.
A cada nova música, ele é convidado a dar ou não sua aprovação. Essas informações carregam uma imensa base de dados. "É a comunidade de ouvintes que constrói o conhecimento do Last.fm. Nós fazemos uma primeira análise das músicas e estabelecemos relações entre elas. Depois, é o ouvinte que alimenta e transforma esse sistema", diz Stiksel.

Análise "científica"
Lançado em 2003, o serviço já tem um acervo de 30 mil músicas em sua rede. No Pandora, esse centro de informações sobre o gosto dos fãs é chamado de "genoma musical" e adiciona cerca de 15 mil músicas por mês ao seu acervo original.
No centro de operações trabalham cerca de cem analistas, que escutam, classificam e definem o que compõe cada canção. Esse sistema analítico, diz Westergreen, é o mais "científico" possível e tenta evitar que os gostos dos analistas influam no seu diagnóstico. "Trabalhamos duro para manter um processo coerente na equipe. Não podemos deixar que nossa opinião pessoal apareça."
Nos dois casos, as canções não podem ser baixadas, apenas escutadas como se fossem a programação de uma rádio normal. O que mantém ambos os sites são os anunciantes.
Para Tim Westergreen, criador do Pandora -que possui hoje 3 milhões de assinantes-, as rádios de recomendação on-line vão mudar o modo como as músicas circulam e como as opiniões sobre elas são formadas. "A produção está passando a depender cada vez mais do gosto do consumidor", diz.
Afinal, ninguém mais precisa comprar um disco inteiro por causa de uma ou duas músicas. "É o melhor momento na história da música para os ouvintes. Eles têm poder para pressionar os artistas por qualidade. Podem até alterar capas de CDs se não gostarem das originais. Artistas e indústria não terão outra alternativa senão trabalhar mais para agradar", afirma Stiksel, que vê nesse processo uma mudança política. "A hierarquia de produção e consumo se inverteu."
Em breve, ele acredita, não será mais possível dividir o mercado em nichos, porque as pessoas estão ficando mais ecléticas. "Antigamente uma pessoa tinha umas 20 bandas preferidas, de um ou dois estilos, por toda a vida. Hoje elas têm 50, cem, e de diferentes gêneros, porque podem escolher, solicitar e rejeitar tudo com mais facilidade."


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