São Paulo, quinta-feira, 27 de setembro de 2007

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Marisa filma Velha Guarda

Cantora homenageia portelenses em documentário que deve estrear no ano que vem; filme tem samba inédito de Manacéa

Bruno Veiga/Divulgação
Monarco e Marisa Monte cantam juntos na Portelinha durante as filmagens, anteontem


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Quem pensava que "Tudo Azul", o CD que ela produziu em 1999, era o máximo a que chegaria o interesse de Marisa Monte pela Velha Guarda da Portela verá em 2008 que aquilo era só o começo.
Em abril ou maio estreará o documentário que vem sendo realizado há oito anos, desde os ensaios de "Tudo Azul", e que tem Marisa como co-produtora (ao lado da Conspiração Filmes), co-roteirista, personagem constante e até captadora de recursos -da Natura, que patrocina seus shows.
Anteontem, foi filmada -por cinco câmeras, inclusive de película- a maior cena produzida especialmente para o documentário: uma roda de samba estilizada na Portelinha (antiga sede da escola de samba e atual sede da Velha Guarda, em Oswaldo Cruz, zona norte do Rio) com a participação de Marisa e Zeca Pagodinho. Foi a chance de a cantora interpretar, ao lado dos antigos portelenses, "Volta", música de Manacéa (1921-1995) até hoje inédita.
"Passei uma tarde na casa de dona Neném [a viúva], e ela me dizendo que o Manacéa não tinha deixado nada. No fim da tarde, lembrou de uma caixinha e me trouxe. Estava cheia de fitas e letras", conta Marisa.
A história ilustra alguns aspectos contemplados pelo documentário (ainda sem título), dirigido por Lula Buarque e Carolina Jabor. Um deles é a despreocupação da maioria dos compositores com o sucesso.

Arte espontânea
Como Monarco, que sucedeu Manacéa na liderança da Velha Guarda, já disse a Marisa, havia os autores "de escola" e os "de rádio". Estes, mesmo os talentosos como Zé Keti, eram vistos com certo desdém por aqueles pois se preocupavam em transformar samba em dinheiro.
"Um profissional quer compartilhar sua obra com o mundo, mas a escala desses sambistas era aquela comunidade. Ser um poeta já era um status em si. Muitos sambas morriam no dia seguinte, porque os autores se esqueciam. É a arte espontânea. O filme vai falar de pureza, inspiração, beleza. É importante saber que o princípio da música é esse. Poucas coisas me emocionam mais do que a Velha Guarda. Sai gotinha do olho", emociona-se Marisa.
Outro aspecto é a tentativa de preservar essas obras. Desde 1999, Marisa vem pedindo licença para vasculhar arquivos de sambistas mortos e ter acesso a cadernos e fitas dos que estão na ativa.
Assim nasceu o CD de Argemiro Patrocínio (1922-2003), que ela produziu e lançou em 2002 junto com o de Jair do Cavaquinho (1920-2006). "É um trabalho que me dá tanto ou mais orgulho que os meus discos", diz ela, que tem digitalizado fitas que encontra nos baús e entregado os CDs para os compositores.
Argemiro e Jair, baixas recentes, e os irmãos Manacéa, Mijinha e Aniceto (a "família Andrade") são personagens importantes do filme. Paulinho da Viola, criador do conjunto Velha Guarda da Portela, também. Mas o filme não será didático. "É poético. Se contássemos a história de todos, ficaria engessado", diz Lula Buarque.


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