São Paulo, segunda-feira, 27 de setembro de 2010

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ENTREVISTA

Artista tailandês abre pavilhão das palmeiras

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A BRUMADINHO

Uma tempestade no Caribe forçou Rirkrit Tiravanija a se refugiar num hotel. Lá de dentro, gravou imagens das palmeiras arrasadas pela ventania.
"Via da janela essas árvores balançando", lembra o artista tailandês. "Pensei como essas plantas sobreviveram ao pior que há na humanidade."
No caso, a palmeira, símbolo tropical por excelência num mundo dominado pelo eurocentrismo, serve aqui de metonímia para toda uma situação de cartografias emergentes na era pós-colonial.
Tiravanija acaba de montar no Instituto Inhotim, em Brumadinho, arredores de Belo Horizonte, sua casa tropical, uma construção suspensa de alumínio, toda vazada.
"Palm Pavilion" é a obra que estava no pavilhão da Bienal há quatro anos, agora transplantada para o meio do verde que brota da terra roxa mineira.
"É a natureza testemunhando a ascensão e a derrocada da humanidade", diz Tiravanija. "A planta está no fundo de muitos momentos históricos."
Sua casa no meio da floresta remete, de fato, a outros tempos. É uma "cópia malfeita" da "Maison Tropicale", de Jean Prouvé, arquiteto francês que inventou construções pré-fabricadas para as colônias francesas na África.
Do mesmo jeito, seu pavilhão foi feito na Tailândia e pensado para estar no Brasil, transportado da Ásia para a América do Sul. Sublinha uma crítica à globalização e, ao mesmo tempo, à noção de modernidade que embalou Prouvé e outros arquitetos.
"Sempre nos adaptamos a algum tipo de modernismo em busca de algum tipo de progresso", diz o artista.
"Nesse sentido, até Niemeyer foi um pós-modernista, trabalhando fora do centro." Na visão de Tiravanija, só Lina Bo Bardi conseguiu aliar o moderno à experiência tropical. "Ela fez um modernismo com alma", resume. "Tinha uma alma livre do sentido de ordem, aberta e natural."
Longe disso, sua casa no meio do mato alude à coerção de movimentos imposta na globalização. "Não estamos livres para nos movimentar", diz Tiravanija. "Esse idealismo do movimento é importante para que as sociedades possam mudar."

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite do Instituto Inhotim


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