São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 2011

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BARRADOS NA BÉLGICA

Projeto de R$ 30 milhões, festival Europalia dispensa nomes mais ousados do país da lista que levará à Europa

Lenise Pinheiro/Folhapress
Grupo Os Fofos Encenam

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO

Maior e mais caro projeto da atual gestão do Ministério da Cultura, o festival Europalia, que começa na próxima terça em Bruxelas, chama a atenção pelos artistas que ficaram de fora de sua seleção.
Numa parceria entre os governos do Brasil e da Bélgica, a ideia era homenagear a produção cultural brasileira num grande evento europeu, mas produtores nacionais enfrentaram a resistência dos belgas para emplacar nomes mais ousados e experimentais na programação do festival, que custará aos cofres brasileiros R$ 30 milhões.
As 16 exposições de artes visuais, com cerca de 1.500 obras, entraram na lista, mas áreas como literatura, música, teatro e dança sofreram.
Segundo os brasileiros, os belgas queriam receber artistas mais populares na Europa, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque.
"Isso existe mesmo, a visão dos belgas não é a mesma que a nossa, precisa haver um afinamento", admitiu a ministra da Cultura, Ana de Hollanda. "Não vou dizer que não houve divergências."
"Eles pedem o que conhecem e o que para eles é garantia de casa cheia", diz Benjamim Taubkin, responsável pela programação musical do festival. "A Europa tem suas inseguranças, vive sua crise."
Ficaram fora da lista de Taubkin músicos como Arrigo Barnabé, Luiz Melodia e Jards Macalé, além da execução do repertório erudito de Camargo Guarnieri. "Nem sempre eles estão tão abertos como a gente desejaria."

DESINTERESSE
No caso da literatura, a curadora Flora Süssekind diz que viveu um processo "apavorante" e reclamou do lado belga. "São pessoas despropositadas, que não têm informação sobre o que está acontecendo", disse. "Tudo acontece à revelia do Europalia, eles têm total desinteresse."
Süssekind lembra que o foco dos belgas eram autores vivos e comerciais e que não houve interesse por nomes clássicos como Machado de Assis nem pela obra de pensadores como Sérgio Buarque de Hollanda e Gilberto Freyre.
No ponto mais crítico das negociações, acabou desistindo de usar o auditório do Bozar, um dos centros culturais mais importantes de Bruxelas, porque produtores de lá insistiam em receber o autor de "O Alquimista", na esperança de lotar sua sala.
"Disseram que não podiam receber ninguém menos que Paulo Coelho, então eu disse que não queríamos aquele espaço mais", diz Süssekind. "Achei sem graça."
Responsável pela programação teatral, João Carlos Couto diz que foi obrigado a procurar "coisas mais simples" para levar à Bélgica, dispensando peças de grupos como Os Fofos Encenam.
"Eles não foram porque as pessoas não entendiam o texto, era muito codificado para eles", diz Couto. "Insisti muito nisso e depois desisti, até porque não queria correr o risco de fazer um espetáculo para um teatro vazio."



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