São Paulo, Quarta-feira, 27 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÚSICA
Georgia Brown canta no Bourbon Street

EDSON FRANCO
Editor interino de Suplementos

De quando em vez, aparece um talento surpreendente vindo não se sabe bem de onde. Um desses casos raros sobe hoje ao palco do Bourbon Street. Trata-se de Georgia Brown, 22, uma cantora italiana radicada no Brasil.
Branca de voz negra. Esse já conhecido epíteto poucas vezes foi usado com tanta justiça quanto no caso dessa espécie de Ed Motta de saias.
Competente, ela passa por estilos como soul, hip hop e rhythm and blues de uma maneira que pode estimular no ouvinte desavisado o seguinte comentário: "Quem é essa negra norte-americana?"
Toda essa competência fica cristalina em "Black Nature", disco de estréia que a cantora traz debaixo do braço para mostrar ao público.
O trabalho revela também que o canto não é a única aptidão de Georgia Brown. Além de compor as canções do CD e fazer os arranjos, ela tocou teclado e foi quem produziu "Black Nature".
"Comecei a gostar de música com o meu pai, Antonio Monti, que era adolescente quando aconteceu a Segunda Guerra Mundial e virou uma espécie de mascote dos soldados negros norte-americanos baseados na Itália", disse a cantora -cujo nome verdadeiro é Rossana Monti-, por telefone à Folha.
Esse contato com os soldados norte-americanos fez o "mascote" levar para casa discos de jazz e blues. Eram esses os tipos de música que tocavam na casa dos Monti, em Nápoles, quando a goianiense Walquíria deu à luz Georgia, em 1977.
"Desde pequena eu sonhava em ser artista. Meu pai incentivava. Minha primeira aparição pública aconteceu em 1987. O Napoli havia conquistado o Campeonato Italiano e a cidade promoveu uma grande festa em praça pública, onde cantei músicas da Madonna e da Cindy Lauper."

Soul music
Além do blues e jazz paternos e do pop desovado pelas rádios, Georgia passou a descobrir sozinha a soul music. Sai Madonna e entra Aretha Franklin.
Junto com a descoberta veio uma vontade de conhecer melhor os guetos e o canto dos negros dos EUA, o que Georgia fez nos últimos dois anos, divididos entre San Francisco e Oregon.
"Apesar de nunca ter experimentado drogas, conheci alguns traficantes em Oakland. Eles me ajudaram a conseguir uma vaga de solista no coral gospel da Center of Hope Church."
Georgia cantou durante seis meses na congregação. Ela diz que não aprendeu muito mais do que já sabia sobre canto, mas lapidou-o.
Em parte, a competência vocal de Georgia decorre -quase como uma compensação- de uma deficiência. "Enxergo muito pouco. Por isso, não consigo ler e escrever música e tive de aprender sozinha a tocar teclado."

Show
Além das 18 faixas de seu CD, Georgia vai mostrar também algumas releituras, com destaque para "Do You Want to Get Funky", do grupo C + C Music Factory, e "Shy Guy", de Diana King.
Para acompanhar a cantora, sobem ao palco do Bourbon Street o baterista Denis Torres, o guitarrista James Castro, o baixista Gê Mendonça, o tecladista Chrystian e os vocalistas de fundo Roger Jam e Monic Martell.


Show: Georgia Brown
Quando: hoje, às 22h
Onde: Bourbon Street Music Club (r. dos Chanés, 127, Moema, tel. 0/xx/11/5561-1643)
Quanto: R$ 15


Texto Anterior: Da Rua - Fernando Bonassi: Mulheres vividas
Próximo Texto: Villa-Lobos ganha homenagem hoje
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.