|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÚSICA
Georgia Brown canta no Bourbon Street
EDSON FRANCO
Editor interino de Suplementos
De quando em vez, aparece um
talento surpreendente vindo não
se sabe bem de onde. Um desses
casos raros sobe hoje ao palco do
Bourbon Street. Trata-se de Georgia Brown, 22, uma cantora italiana radicada no Brasil.
Branca de voz negra. Esse já conhecido epíteto poucas vezes foi
usado com tanta justiça quanto
no caso dessa espécie de Ed Motta
de saias.
Competente, ela passa por estilos como soul, hip hop e rhythm
and blues de uma maneira que
pode estimular no ouvinte desavisado o seguinte comentário:
"Quem é essa negra norte-americana?"
Toda essa competência fica cristalina em "Black Nature", disco
de estréia que a cantora traz debaixo do braço para mostrar ao
público.
O trabalho revela também que o
canto não é a única aptidão de
Georgia Brown. Além de compor
as canções do CD e fazer os arranjos, ela tocou teclado e foi quem
produziu "Black Nature".
"Comecei a gostar de música
com o meu pai, Antonio Monti,
que era adolescente quando
aconteceu a Segunda Guerra
Mundial e virou uma espécie de
mascote dos soldados negros norte-americanos baseados na Itália", disse a cantora -cujo nome
verdadeiro é Rossana Monti-,
por telefone à Folha.
Esse contato com os soldados
norte-americanos fez o "mascote" levar para casa discos de jazz e
blues. Eram esses os tipos de música que tocavam na casa dos
Monti, em Nápoles, quando a
goianiense Walquíria deu à luz
Georgia, em 1977.
"Desde pequena eu sonhava em
ser artista. Meu pai incentivava.
Minha primeira aparição pública
aconteceu em 1987. O Napoli havia conquistado o Campeonato
Italiano e a cidade promoveu uma
grande festa em praça pública,
onde cantei músicas da Madonna
e da Cindy Lauper."
Soul music
Além do blues e jazz paternos e
do pop desovado pelas rádios,
Georgia passou a descobrir sozinha a soul music. Sai Madonna e
entra Aretha Franklin.
Junto com a descoberta veio
uma vontade de conhecer melhor
os guetos e o canto dos negros dos
EUA, o que Georgia fez nos últimos dois anos, divididos entre
San Francisco e Oregon.
"Apesar de nunca ter experimentado drogas, conheci alguns
traficantes em Oakland. Eles me
ajudaram a conseguir uma vaga
de solista no coral gospel da Center of Hope Church."
Georgia cantou durante seis
meses na congregação. Ela diz
que não aprendeu muito mais do
que já sabia sobre canto, mas lapidou-o.
Em parte, a competência vocal
de Georgia decorre -quase como uma compensação- de uma
deficiência. "Enxergo muito pouco. Por isso, não consigo ler e escrever música e tive de aprender
sozinha a tocar teclado."
Show
Além das 18 faixas de seu CD,
Georgia vai mostrar também algumas releituras, com destaque
para "Do You Want to Get
Funky", do grupo C + C Music
Factory, e "Shy Guy", de Diana
King.
Para acompanhar a cantora, sobem ao palco do Bourbon Street o
baterista Denis Torres, o guitarrista James Castro, o baixista Gê
Mendonça, o tecladista Chrystian
e os vocalistas de fundo Roger
Jam e Monic Martell.
Show: Georgia Brown
Quando: hoje, às 22h
Onde: Bourbon Street Music Club (r. dos
Chanés, 127, Moema, tel. 0/xx/11/5561-1643)
Quanto: R$ 15
Texto Anterior: Da Rua - Fernando Bonassi: Mulheres vividas Próximo Texto: Villa-Lobos ganha homenagem hoje Índice
|