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ANÁLISE
Hiperatividade contagia as novelas
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Maria do Carmo se atracou
com Nazaré. "Senhora do
Destino" anda repercutindo até
em colunas de literatura. O maior
sucesso atual segue os passos de
suas antecessoras recentes no horário principal.
O que essas novelas têm que
conseguiram reverter os indícios
de esgotamento que pareciam indicar a decadência do gênero nos
anos 90?
O barraco corre solto. Há uma
tendência ao banal, ao popularesco. Os heróis e heroínas são personagens emergentes, espontâneas, sem frescura, adeptos do
"pão, pão, queijo, queijo".
As referências à política, que um
dia fizeram o sucesso do gênero,
se mantêm, sem novidade, em
um tom de déjà vu. Na novela, a
campanha para prefeito é assunto
marginal, de vilões também marginais, Reginaldo e Viviane, casal
imoral e corrupto.
O sucesso tem a ver com o ritmo
acelerado da trama principal.
Quem perde muitos capítulos
acaba dançando.
Há cerca de dez dias, Maria do
Carmo encontrou sua filha. Acabou o assunto? Não. A vingança
apenas começou.
Como nas tramas de Glória Perez e Manoel Carlos, na história
de Aguinaldo Silva a receita se
completa com uma boa dose de
intervenção social.
A decidida mãe batalhadora demorou demais a localizar a bandida que aproveitou a suposta confusão do dia do AI-5 para levar o
seu bebê. Somos informados de
que o crime de seqüestro prescreve em 25 anos.
A vingança apenas começou. A
protagonista decide fazer justiça
com as próprias mãos. A trama
principal sustenta uma teia múltipla de tramas secundárias, com
direito a romance homossexual
feminino, a provocação da hora.
Ficou difícil seguir história de
novela com apenas uma bisbilhotada eventual. A agitação dos dias
que correm contagiou a vida das
personagens. O sucesso tem a ver
com a sucessão alucinada de viradas na trama.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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