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Cinéfilos enfrentam sessão de sete horas
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O filme aproxima-se de sua terceira hora quando um nada discreto ronco irrompe da platéia.
Mas isso não é problema. Em
poucos minutos, esse dorminhoco vai acordar -é o primeiro intervalo de "O Sapato de Cetim"
(1985), épico de Manoel de Oliveira, maratona de um filme só com
quase sete horas de duração (410
min.), anteontem na Mostra.
Doze corajosos espectadores
vão se dirigindo à sala 2 do Cineclube Vitrine, às 12h30, horário
previsto para o início, quando são
informados de que haverá um
"pequeno" atraso, já que os rolos
do filme acabavam de chegar. Nada que abale a convicção desses
admiradores de Oliveira, que ainda aguardam 50 minutos para enfim entrar na sala.
Para se preparar para tão intensa experiência, o dono de cineclubes em Florianópolis (SC) Gilberto Gerlach, 62, tira os sapatos e caminha assim, de meias, pelo saguão. "Meu único problema é físico, já que tenho dores nas costas.
A narrativa do Manoel costuma
ser lenta, mas isso não atrapalha."
Quando surgem os primeiros
créditos, a sala tem cerca de 30
pessoas. "O Sapato de Cetim",
adaptação de peça de Paul Claudel, é para iniciados, com longos
planos, ambientação que remete
ao teatro e personagens que recitam densos textos. "Estou adorando, é um filme muito poético e
romântico. Acho que não vou me
cansar", diz a professora aposentada Amélia Clementino, 54, no
primeiro dos dois intervalos de
dez minutos da sessão. "Também
não acho cansativo, já que tem essas pausas. É como ver três filmes
em seguida. Gosto desse estilo antinaturalista", afirma o estudante
de rádio e TV João Marcos, 20.
Em épocas de Mostra, dona
Amélia, que "almoçou" uma quiche e um cafezinho, "mora" em
cinemas. Antes de "O Sapato...",
já tinha visto "O Pavão". Em seguida, iria assistir a "Maria Bethania - Música É Perfume". Seu bom
humor só fica um pouco abalado
quando, em vários momentos do
filme, falado em francês, a legenda
desaparece. Foi reclamar na bilheteria e queria ter direito a uma
nova sessão, desta vez com legendas. Ao final, por volta das 20h40,
entre dorminhocos e despertos,
cerca de 15 pessoas saíam da sessão mais longa desta Mostra, após
quase sete horas vendo um "Sapato de Cetim".
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