São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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Crítica/"Em Paris"

Longa se nutre da herança da nouvelle vague

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Bajuladíssimo pela crítica francesa (cuja tendência ao corporativismo é bom considerar com cautela), o diretor Cristophe Honoré se dá a conhecer com seus dois últimos trabalhos, ao mesmo tempo, nesta Mostra.
"Em Paris", seu penúltimo título, chega saudado como um filme que se nutre da herança da nouvelle vague, o que pode ser tanto positivo como negativo. Honoré não é o primeiro nem será o último jovem cineasta francês a cultuar o movimento deslanchado, no início dos anos 60, pelos então estreantes Truffaut, Godard, Démy e companhia.
Contudo, o resgate de temas e formas daquele movimento pode culminar num amontoado de citações que no fundo não significam nada. E o que não falta neste "Em Paris" são citações: a Truffaut ("Domicílio Conjugal"), a Godard ("Pierrot le Fou"), a Demy ("Os Guarda-Chuvas do Amor"), a Eustache ("A Mamãe e a Puta") e ao pai de todos, Renoir ("Boudu Salvo das Águas"). Elas estão aqui como afirmação um tanto pueril de um suposto poder de sedução sobre cinéfilos. Mas não é na reverência e, sim, no diálogo que retoma com esses antepassados que o filme de Honoré escapa da armadilha do pastiche. Ele se revela numa condução marcada por leveza e lirismo, na tradução justa e não apoiada dos afetos e no encantamento oferecido pela liberdade alcançada pelos atores. Tais momentos fortes fazem um favor enorme ao cinema francês contemporâneo, demasiado satisfeito com ideais de nobreza que só existem nas cabeças deles.
Com esta história de dois irmãos amarrados à figura de uma paternidade inerte, Honoré reitera os laços em seu significado primordial de vínculos e, neles, encontra abrigo e inspiração para seu belo filme.


EM PARIS
Produção: França
Direção: Christophe Honoré
Com: Romain Duris, Louis Garrel, Guy Marchand e Joana Preiss
Quando: hoje, às 21h, no Cine Bombril 1; ter., às 18h50, no Cinesesc
Avaliação: ótimo



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