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Crítica/"Em Paris"
Longa se nutre da herança da nouvelle vague
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Bajuladíssimo pela crítica francesa (cuja tendência ao corporativismo é bom considerar com cautela), o diretor Cristophe Honoré se dá a conhecer com seus
dois últimos trabalhos, ao mesmo tempo, nesta Mostra.
"Em Paris", seu penúltimo título, chega saudado como um
filme que se nutre da herança
da nouvelle vague, o que pode
ser tanto positivo como negativo. Honoré não é o primeiro
nem será o último jovem cineasta francês a cultuar o movimento deslanchado, no início
dos anos 60, pelos então estreantes Truffaut, Godard,
Démy e companhia.
Contudo, o resgate de temas
e formas daquele movimento
pode culminar num amontoado de citações que no fundo não
significam nada. E o que não
falta neste "Em Paris" são citações: a Truffaut ("Domicílio
Conjugal"), a Godard ("Pierrot
le Fou"), a Demy ("Os Guarda-Chuvas do Amor"), a Eustache
("A Mamãe e a Puta") e ao pai
de todos, Renoir ("Boudu Salvo
das Águas"). Elas estão aqui como afirmação um tanto pueril
de um suposto poder de sedução sobre cinéfilos.
Mas não é na reverência e,
sim, no diálogo que retoma
com esses antepassados que o
filme de Honoré escapa da armadilha do pastiche. Ele se revela numa condução marcada
por leveza e lirismo, na tradução justa e não apoiada dos afetos e no encantamento oferecido pela liberdade alcançada pelos atores. Tais momentos fortes fazem um favor enorme ao
cinema francês contemporâneo, demasiado satisfeito com
ideais de nobreza que só existem nas cabeças deles.
Com esta história de dois irmãos amarrados à figura de
uma paternidade inerte, Honoré reitera os laços em seu significado primordial de vínculos e,
neles, encontra abrigo e inspiração para seu belo filme.
EM PARIS
Produção: França
Direção: Christophe Honoré
Com: Romain Duris, Louis Garrel, Guy
Marchand e Joana Preiss
Quando: hoje, às 21h, no Cine Bombril
1; ter., às 18h50, no Cinesesc
Avaliação: ótimo
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