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Crítica/show/Tim Festival
Com valsa-jazz, pianista rouba a noite de estrelas
CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Tudo indicava que o programa da última sexta-feira, no Auditório Ibirapuera, teria como clímax o
show do guitarrista Bill Frisell.
Entre as atrações da terceira
noite de jazz do Tim Festival, o
norte-americano era o único
mais conhecido por aqui. Até
gravou com Caetano Veloso.
Mas surpresas são freqüentes em festivais. O pianista italiano Enrico Pieranunzi só precisou tocar "From E. to C.", sua
delicada valsa-jazz em homenagem ao trompetista Chet Baker, para conquistar a platéia.
Quase roubou a noite, como fez
seu compatriota Stefano di Battista, no ano passado.
Bem acompanhado pelos holandeses Hein van der Geijn
(baixo) e Hans van Oosterhout
(bateria), Pieranunzi mostrou
elegância e técnica erudita, em
composições cheias de lirismo,
como "El Canto de los Dias" e
"Miradas". Saiu deixando a platéia pedindo mais.
Também estreante em palcos brasileiros, o trompetista
polonês Tomasz Stanko abriu a
noite. À frente do Nordic Quartet, formado por músicos jovens escandinavos, o veterano
jazzista emendou composições
de sua autoria, alternando climas etéreos, silêncios e improvisos sem acompanhamento.
A apresentação agradou
grande parte do público, mas
quem conhece as inventivas
gravações que Stanko fez nesta
década pelo selo alemão ECM,
ao lado do pianista Marcin Wasilewski, sabe que ele já tocou
em melhores companhias.
Isso não foi problema para
Frisell, que trouxe costumeiros
parceiros: o baixista Tony
Scherr e o baterista Kenny Wollesen. Os três se divertiram
criando versões estranhas para
"My Man's Gone Now" (de
Gershwin) e "Masters of War"
(Bob Dylan), com direito a distorções e ruídos eletrônicos
que o guitarrista extrai de sua
parafernália de pedais.
Quando os mais sonolentos
começaram a sair, o eclético
Frisell recorreu ao charme da
soul music. Tocou uma reverente versão de "What's Going
On" (Marvin Gaye), que reacendeu a atenção para segui-lo
até o fim. Frisell pode parecer
maluco, mas sabe o que faz.
Avaliação: ótimo (Enrico Pieranunzi); bom (Bill Frisell e Tomasz Stanko)
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