São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

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Crítica/show/Tim Festival

Com valsa-jazz, pianista rouba a noite de estrelas

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Tudo indicava que o programa da última sexta-feira, no Auditório Ibirapuera, teria como clímax o show do guitarrista Bill Frisell.
Entre as atrações da terceira noite de jazz do Tim Festival, o norte-americano era o único mais conhecido por aqui. Até gravou com Caetano Veloso.
Mas surpresas são freqüentes em festivais. O pianista italiano Enrico Pieranunzi só precisou tocar "From E. to C.", sua delicada valsa-jazz em homenagem ao trompetista Chet Baker, para conquistar a platéia. Quase roubou a noite, como fez seu compatriota Stefano di Battista, no ano passado.
Bem acompanhado pelos holandeses Hein van der Geijn (baixo) e Hans van Oosterhout (bateria), Pieranunzi mostrou elegância e técnica erudita, em composições cheias de lirismo, como "El Canto de los Dias" e "Miradas". Saiu deixando a platéia pedindo mais.
Também estreante em palcos brasileiros, o trompetista polonês Tomasz Stanko abriu a noite. À frente do Nordic Quartet, formado por músicos jovens escandinavos, o veterano jazzista emendou composições de sua autoria, alternando climas etéreos, silêncios e improvisos sem acompanhamento.
A apresentação agradou grande parte do público, mas quem conhece as inventivas gravações que Stanko fez nesta década pelo selo alemão ECM, ao lado do pianista Marcin Wasilewski, sabe que ele já tocou em melhores companhias.
Isso não foi problema para Frisell, que trouxe costumeiros parceiros: o baixista Tony Scherr e o baterista Kenny Wollesen. Os três se divertiram criando versões estranhas para "My Man's Gone Now" (de Gershwin) e "Masters of War" (Bob Dylan), com direito a distorções e ruídos eletrônicos que o guitarrista extrai de sua parafernália de pedais.
Quando os mais sonolentos começaram a sair, o eclético Frisell recorreu ao charme da soul music. Tocou uma reverente versão de "What's Going On" (Marvin Gaye), que reacendeu a atenção para segui-lo até o fim. Frisell pode parecer maluco, mas sabe o que faz.


Avaliação: ótimo (Enrico Pieranunzi); bom (Bill Frisell e Tomasz Stanko)



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