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Filme traz o drama
das mulheres na
Bósnia
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas
Mais de 2 mil mulheres de etnia
muçulmana e croata foram estupradas por nacionalistas sérvios
entre 1991 e 1993, durante a guerra
civil da Bósnia, que dividiu a
ex-Iugoslávia.
Algumas dessas mulheres contam sua história em "Chamando
os Fantasmas".
Por meio de depoimentos marcados por cortes abruptos, entrevistas e fotografias de cena, o documentário recompõe a passagem
de Jadranka Cigelj e Nusreta Sivac
pelo campo de concentração de
Omarska, na Bósnia-Herzegovina.
Amigas de infância, de etnia muçulmana e ambas profissionais da
área de direito, Jadranka e Nusreta
experimentaram juntas o horror
do processo de "limpeza étnica"
imposto pelo sérvios.
Elas foram as primeiras mulheres a aceitar falar para Mandy Jacobson e Karmen Jelincic, idealizadoras do filme e diretoras estreantes.
Questão de justiça
"Para elas, falar foi uma maneira de começar a canalizar para o
trabalho o que antes era dor, ódio e
desejo de vingança, transformando tudo em uma questão mais profunda de justiça", diz Mandy Jacobson.
Parte do objetivo do documentário, que era incluir o estupro na categoria dos crimes de guerra, já foi
atingida, com a recente chancela
do Tribunal Internacional de Crimes de Guerra da ONU.
O segundo objetivo, que é identificar os estupradores, denunciá-los e levá-los a julgamento nos
tribunais internacionais, só se realizou em parte.
Os criminosos estão todos identificados e acusados de crimes
contra a humanidade, mas vivem
em liberdade, protegidos pela República da Sérvia.
Vítimas de guerra
Tudo muito tocante, tudo muito
politicamente correto nesse documentário que, em 1996, ganhou o
primeiro prêmio do festival de cinema da Human Rights Watch,
organização norte-americana de
defesa dos direitos humanos.
O que se discute é se mulheres
estupradas numa guerra não seriam apenas "vítimas de guerra"
como quaisquer outras, como
crianças e homens.
No próprio filme de Jacobson e
Jelincic, cheio de imagens de prisioneiros croatas e muçulmanos
definhando nos campos sérvios,
fica claro que os homens sofreram
os mesmos horrores (e outros tantos) que as mulheres.
Se também eles foram torturados e estuprados, por que um documentário que trata apenas da
violência contra as mulheres?
Porque mulher, por natureza,
não estupra. E porque mulher, por
condição cultural, ainda não faz a
guerra, ainda não tem o poder de
permitir ou de ordenar estupros.
Talvez só por isso.
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