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Incentivo é 'desperdiçado'
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
A redução do limite para incentivos culturais determinado pelo governo apenas aproximará a lei daquilo que já acontece na prática.
Até este ano, as empresas que patrocinam uma peça de teatro ou
um filme de cinema podem deduzir até 5% do imposto devido.
Só que os números oficiais demonstram que o percentual é exagerado. No ano passado, as empresas deduziram só 0,48% do imposto devido para projetos culturais e
0,47% para audiovisuais.
A partir de 98, se o Congresso
aprovar o pacote fiscal proposto
pelo governo, o limite para descontos cairá de 5% para 4%. Esse
novo teto também terá de ser compartilhado com outros incentivos,
como vale-alimentação e vale-transporte, entre outros.
No ano passado, a soma de todos
os descontos por conta de incentivos sociais e culturais foi de R$ 281
milhões. Embora o percentual total de abatimento pudesse chegar a
14% do imposto devido, o gasto
não ultrapassou 3,28%. No ano
que vem, portanto, o teto de 4%
fica acima do que de fato é gasto
pelas empresas com incentivos.
"Não vai haver perda. O total
previsto para abatimento é menor
do que o novo teto. Ainda dá para
crescer", diz o secretário de Apoio
à Cultura, José Álvaro Moisés, do
Ministério da Cultura.
Apesar de haver consenso no governo sobre a inexistência de perdas para o setor cultural, há ainda
uma divergência sobre o efeito político do pacote sobre o setor.
A Receita Federal, autarquia responsável pela arrecadação dos impostos no país, acha que não deve
mudar a medida provisória que
trata do pacote fiscal.
Já o Ministério da Cultura é a favor de uma mudança. Quer a manutenção do sistema atual -limite de 5% de abatimento do imposto devido por conta de gastos com
projetos culturais e audiovisuais,
sem vinculação desse teto com outros descontos.
Para o Ministério da Cultura, a
forma atual de incentivos culturais
é inócua para efeito de aumento ou
perda de receita. Como o teto não é
mesmo atingido, não faria mal nenhum manter o limite existente
para abatimentos com projetos
culturais e audiovisuais.
Na Receita Federal, o argumento
é exatamente inverso. Se o teto
atual de descontos nunca é atingido, a alteração proposta não causará prejuízo para a cultura.
Outro raciocínio desenvolvido
pelos técnicos tributários do governo é sobre a necessidade de ampliar o universo de empresas que
investem em patrocínio cultural.
A manutenção do atual limite de
isenção fiscal prejudica uma expansão mais acelerada do número
de empresários interessados em
promover projetos culturais.
Segundo a Receita Federal, hoje
haveria uma concentração de empresas que entram nessa área. O
ideal seria pulverizar a participação entre os cerca de 250 mil estabelecimentos comerciais e industriais que podem gastar com cultura e se beneficiar disso na hora de
pagar Imposto de Renda.
Hoje, são as grandes empresas
que carregam a área cultural nas
costas. A Shell, o Banco Real e o
Unibanco são tradicionais usuários de incentivos. Com a redução
do teto para abatimentos, empresas de grande porte não poderiam
ser tão beneficiadas. Isso forçaria
produtores culturais a buscar patrocínio de outras firmas que permanecem à margem do processo.
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