São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 2000

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MEMÓRIA
Irmã do artista diz que parentes "não tomaram parte do projeto do livro"; artistas protestam contra a decisão

Família suspende biografia de Leonilson

Folha Imagem
O artista Leonilson, cuja biografia foi vetada pela família, em exposição na galeria São Paulo



FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Agora, nem com cortes. A família do artista plástico José Leonilson decidiu não autorizar a publicação da biografia do artista, "Fresc Ulisses", escrita por Ricardo Henrique.
"A família resolveu que o livro não vai ser publicado e ele não vai sair", diz Ana Lenice de Fátima Dias Fonseca da Silva, irmã do artista. "Nós não soubemos do andamento do trabalho e não nos interessa que o livro seja publicado; estamos amparados por advogados."
A editora Siciliano já estava pronta para publicar o livro. "É um trabalho maravilhoso, mas com censura não dá, pois o texto tem uma unidade de respiração, de fluxo, que não pode ser cortada, afinal é a voz final de Leonilson, seu testamento", diz o editor Pedro Paulo de Sena Madureira.
O livro seria lançado em abril deste ano. "Seria a comemoração dos 500 anos do Brasil da Siciliano", diz Sena Madureira, que pretendia levar a publicação às livrarias na mesma época da abertura da Mostra do Redescobrimento, que tinha uma sala dedicada a Leonilson. A instalação é uma reprodução da última individual do artista na Capela do Morumbi, que agora está montada na itinerância da mostra, em Lisboa (Portugal).
Houve uma tentativa de entendimento entre a família e Ricardo Henrique, amigo de Leonilson, que foi nominado em uma das 16 fitas gravadas pelo artista: "Se um dia eu morrer, vou deixar todas essas fitas de presente para ele", disse Leonilson.
O assunto foi tratado pelo Projeto Leonilson, entidade criada pelos familiares e amigos do artista para dar continuidade à sua obra. Entretanto a família passou a impor cortes que desagradaram ao grupo de sete amigos, artistas e curadores, como Ivo Mesquita e Sérgio Romagnolo, que, no dia 16 de outubro, decidiram se afastar da instituição.
"Eles vinham aqui duas vezes por ano e ficavam apenas por algumas horas, não participavam de fato do projeto", diz Ana Lenice. Até março do ano que vem, a irmã de Leonilson pretende organizar um novo grupo de pessoas para compor a instituição.
Já o fotógrafo Eduardo Brandão, um dos fundadores que saiu do projeto, afirma: "As irmãs vieram a reboque de nós, foi na minha casa, onde o irmão dela viveu, que começamos o projeto, uma idéia dos amigos, e elas não tinham noção do que poderia ser".
Na última terça-feira, uma carta assinada por 11 artistas e galeristas de São Paulo foi enviada ao Projeto Leonilson, protestando contra a atitude dos familiares. "Acreditamos que essa publicação era vontade do artista, atestada em fitas por ele gravadas, e merece ser respeitada", diz parte da carta assinada por Dora Longo Bahia, Edgard de Souza, Caetano de Almeida, Luisa Malzoni Strina, Valdirlei Dias Nunes, Lia Menna Barreto, Rosângela Rennó, Mauricio Ianes, Emmanuel Nassar, Felipe Chaimovich, Efrain Almeida e Iran do Espírito Santo.
"Algumas dessas pessoas disseram que estavam de acordo com nossa posição, acho estranha essa manifestação", diz Ana Lenice.
Não é incomum que, após a morte de artistas, familiares causem problemas com publicações sobre suas histórias e obras. Um livro sobre a artista Lygia Clark, por exemplo, não foi republicado porque a família está pedindo direitos autorais muito caros sobre as imagens para a reedição da obra, o que inviabiliza sua publicação. Também há dificuldades que envolvem os familiares de Mira Schendel e Alfredo Volpi.


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