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GASTRONOMIA
Com flores na ponta da língua
NINA HORTA
COLUNISTA DA FOLHA
Tenho anos e anos de janela e
já comprei muito livro de flores comestíveis. Como são eles?
Estrangeiros, quase sempre, com
belas fotos, os nomes na língua
pátria sem o nome científico.
Quem tem coragem de comer
uma flor porque é parecida com a
flor alaranjada no fundo daquela
panela de cobre na Provença?
Gil Felippe já nos escreveu um
livro de receitas, "O Saber do Sabor", as plantas nossas de cada
dia. Gostei. Mas reclamei. Gil Felippe é um senhor botânico e dava
mais atenção às receitas de comida, tinha uma certa timidez de
nos encher de ciência... Ora Gil,
queríamos saber que raio de ingredientes são esses que usamos,
como se chamam, quando e onde
crescem!
Queremos credibilidade, engolir cogumelos sem medo, trincar
caules verdes sem fugir da Parca!
Rigor, minúcias, muita referência
para consulta! E o nome científico, que coisa mais preciosa, que
deveria constar de todos os ingredientes mais comuns, em todos os
livros, em todas as listas de peixes,
de cortes de carnes!!!
Pois, desta vez, Gil Felippe arrasou. Veio com flores, começou
docemente para não assustar.
"Entre o Jardim e a Horta".
Às vezes, livros de flores são o
maior mico. Fico pensando que se
flores fossem coisas muito gostosas, já não existiriam jardins decorativos, e nhoc neles. Tudo bonito, bonito... mas sem jeito de
usar. Mas agora tudo se ajeitou. O
livro de Gil Felippe ensina, é um
livro de botânica, dá o nome aos
bois. Você, sabendo o nome científico de alguma coisa, sabe tudo,
do mundo inteiro. Com histórias,
com receitas, com muita graça.
Teria ele, com sua formação de
botânico, esquecido a gastronomia? Não, nem ver. São receitas
alicerçadas nos nomes botânicos
dos ingredientes. E já começa
com flores de alcachofra, de couve-flor, brócolis, flor de abóbora
com gorgonzola... é da pesada, as
violetinhas confeitadas aparecem,
mas não como prato principal.
E você aprende de tudo um
pouco. Já fui comprar chá num
shopping e pedi chá de roselle.
Não tinha, só uma coisa bem parecida que chamavam de hibisco.
Mas será que eu queria hibisco? Aí
a vendedora se adiantou: "É o sorrel inglês que faz aquela sopinha
verde, finíssima". Sorrel? Verde?
Mas eu queria o refresco. O rapaz
a meu lado não aguentou. "Isso é
vinagreira de fazer arroz de cuxá
no Maranhão."
O quê?
Bom, todas essas dúvidas você
dirime com nosso amigo Gil Felippe.
A vinagreira é também conhecida como caruru amargo, groselheira ou azedinha... O nome
egípcio é karkady, e no México é
chamada de flor da Jamaica, enquanto nas Índias Ocidentais é
chamada de sorrel....
As folhas da vinagreira são usadas na alimentação, como se faz
com o espinafre; no Maranhão, as
folhas são usadas para o típico
prato de arroz de cuxá.... E a receita que vem abaixo é de chutney de
vinagreira, e o nome científico
dessas coisas todas, que são a
mesma coisa, é Hibiscus Sabdariffa L (família malvaceae). E a aquarela da Maria Cecília Tommasi
pode pôr no quadro, de tão linda.
Pois, então, Gil Felippe, eu não
te disse um dia que você iria estourar quando usasse mais seus
conhecimentos de botânica do
que de chef para agradar os chefs?
A coisa que mais precisamos são
desses livros sérios de consulta,
precisamos e muito.
E o melhor, o melhor de tudo, é
que agora, com a credibilidade toda que angariou, vai poder fazer o
livro de afrodisíacos, sabe, aquele
ótimo, aquele de sacanagem (com
nomes científicos), que tem guardado na gaveta há um tempão? A
ele, Felippe com dois p!!!! E obrigada por esse, valeu.
ENTRE O JARDIM E A HORTA - AS
FLORES QUE VÃO PARA A MESA.
Autor: Gil Felippe. Editora: Senac - SP.
Quanto: R$ 48 (288 págs.).
ninahort@uol.com.br
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