São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2004

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Da Vinci sem códigos

Edição de luxo, em português, agrupa as pinturas de Leonardo

Divulgação
"Anunciação" (1463-1475), obra de Da Vinci exposta na Galleria degli Uffizi, em Florença (Itália), reproduzida no livro da Taschen


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Existe uma manchinha minúscula nas costas da mão direita da senhora "Mona Lisa". Uma pinta ainda menor está ali, quietinha, no lado esquerdo de seu mundialmente enigmático sorriso.
Cristo também não terá mais qualquer vestígio de sossego em sua "Última Ceia". Vai ter gente implicando com marquinhas no seu colo, com um fio despenteado no alto de sua cabeça.
As obras-primas (e mesmo as menos primas) de Leonardo da Vinci estão em apuros. No ano em que o sobrenome do artista apareceu estampado em fundo vermelho no topo das listas de livros mais vendidos de todo o país, com a ficção "O Código Da Vinci", do americano Dan Brown, suas criações voltam às livrarias (poucas) de um modo que nem o próprio artista pôde enxergá-las.
"Leonardo da Vinci - Obra Completa de Pintura e Desenho" reúne cada uma das 34 pinturas hoje conhecidas do artista da cidadezinha de Vinci e reproduções de 663 de seus desenhos com ampliações até dez vezes maiores do que seus originais.
Esta visita ao Louvre com um telescópio é obra da editora alemã Taschen, maior empresa do mundo de livros de arte, que fez mais uma vez um volume que não economiza em nenhum sentido. Com medidas que chegam a mais de meio metro de altura e a quase dez quilos, este "anti-pocket book" organizado pelo pesquisador alemão Franz Zöllner esbanja aqui nos Trópicos também no tamanho dos cifrões.
Com seu preço de tabela nacional de R$ 980, a versão deste Da Vinci de gala concorre sem muitos competidores ao título de livro mais caro disponível no Brasil em língua portuguesa.
A versão não é privilégio dos brasileiros. A edição deste "códice" Da Vinci foi toda feita em Portugal, onde o livro já estava disponível há alguns meses. Ainda que com os lusitanismos do antigo colonizador, não é "facto" que mais conta no trabalho davinciano.
A reunião pioneira de quase (os desenhos são muito mais vastos do que a editora pôde imprimir, ultrapassando o milhar de rabiscos) todas as imagens que se pode ajuntar do trabalho do gênio do Renascimento, nascido em 1452 e morto em 1519, e a impressão e edição primorosas do volume são os motivos dos elogios que o catatau vem colecionando em cada país que foi lançado, desde a edição original, em 2003.
O projeto de babelização do livro vai longe. Leonardo da Vinci não terá paz nem em terras distantes como a de Franz Kafka. Está para sair do forno "Da Vinci" completo em tcheco.

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