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A hora da estrela
O discreto Marco Nanini avalia seus 40 anos de carreira e critica a política pública de cultura
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Luciana Whitaker/Folha Imagem
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O ator Marco Nanini, em sua casa, no Rio |
LAURA MATTOS
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Há 30 pessoas na platéia da peça
infantil "O Bruxo e a Rainha".
Marco Nanini, um rapazinho de
17 anos, surge com fantasia de
bruxo, diz poucas palavras e some. O público é pequeno, o cachê,
menor ainda. Mas o coração do
estreante sai pela boca, e ele decide: "Quero o palco para sempre".
Já se passaram 40 anos desde o
dia em que o pernambucano fez
certinho em deixar o emprego como bancário. Aos 57, veterano do
teatro, TV e cinema, se sente à
vontade para fazer críticas ao governo Lula e ao ministério de Gilberto Gil. Em cartaz em SP com
"Um Circo de Rins e Fígados", de
Gerald Thomas, prepara-se para
o primeiro longa do dramaturgo.
Também estreará no cinema
com as adaptações de "O Mistério
de Irma Vap", sua peça de maior
sucesso, "O Bem Amado" e "A
Grande Família". Guardião de sua
vida privada e avesso à era das celebridades, Nanini raramente fala
de si. À Folha, abriu uma exceção.
Leia a seguir partes da entrevista.
Folha - Uma das graças de Lineu,
de "A Grande Família", é o fato de
ser honesto. No Brasil, a honestidade está se tornando engraçada?
Marco Nanini - A índole brasileira é de honestidade, apesar desse
carnaval de Brasília. Não gostaria
que a honestidade virasse piada,
mas quem se diz honesto está ficando meio ridículo mesmo.
Folha - Se "A Grande Família"
consegue agregar qualidade à audiência, por que é tão difícil encontrar esse tipo de casamento na TV?
Nanini - A TV anda de modo paquidérmico, mas há tentativas.
Atuei em programa que tentaram
com sucesso, como "TV Pirata",
"A Comédia da Vida Privada".
Em, "A Grande Família", temos a
responsabilidade de não deixar a
qualidade cair com o tempo. Mas
não sou expert em televisão. Não
sobra tempo para ver muito.
Folha - Como será a adaptação de
"A Grande Família" para o cinema?
Nanini - O desafio é não repetir
um episódio. Queremos uma trama diferente, com olhar cinematográfico. Mas, ao mesmo tempo,
não podemos nos afastar da TV.
Será sobre um cotidiano inesperado e bombástico da família.
Folha - O fato de você estar fora
das novelas desde 1999 ["Andando
nas Nuvens"] é coincidência?
Nanini - Sou ator de novelas do
século passado [risos]. Mas não
tenho preconceito. Não gosto é da
coisa massiva da gravação, que
não deixa tempo para mais nada.
Folha - "Um Sonho a Mais" e "Brega & Chique", duas de suas novelas
mais marcantes, tinham toques
inovadores. Hoje é difícil ousar?
Nanini - Os canais a cabo deveriam experimentar mais porque
os abertos têm de acertar no Ibope. Houve uma época em que era
mais tranqüilo. O Bráulio Pedroso fazia novelas, digamos, de risco. Havia o horário das 22h, mais
experimental. Agora é uma luta.
Folha - A TV é mais politicamente
correta e menos "TV Pirata"?
Nanini - Há exagero de parte a
parte: de quem defende a liberdade total e absoluta na TV e de
quem reprime. As pessoas estão
ficando exclusivistas, cada uma
dentro do seu ponto de vista.
Folha - Como será "O Mistério de
Irma Vap" no cinema?
Nanini - Tem pitada da peça,
mas não é um revival da montagem. A Carla [Camurati, diretora]
criou personagens que tem a ver
com a idéia da peça, de atores
com vários personagens, e a trama é em torno de uma remontagem da peça. No filme, não há o
atrativo da troca de roupa. A Carla resolveu com efeitos: eu contraceno comigo, e o Ney com ele.
Folha - O ano é 1969. A peça, "A
Gatatarada". O que foi esse encontro com Dercy Gonçalves?
Nanini - Surpreendente. Ela é fenomenal, de uma intuição cênica
e inteligência de babar. Ela tinha
programas de sucesso e topei.
Nem ensaiei com ela. Quando estreei com aquela estrela, foi assustador. Mas tive uma pós-graduação com ela. E antes da "Gatatarada" teve a "Viúva Recauchutada",
em que fiz o Gatinho [risos].
Folha - Em 1973, assinou um texto, a peça "Descasque o Abacaxi..."
Nanini - Trauma. Achava que ficaria escondido atrás das letras.
Mas resolveram montar. Quando
vi um ensaio, tive um choque. Me
vi nu, odiei, tumultuei o ensaio,
não queria deixar montar, fui
posto para fora. Até fez sucesso,
mas não consigo mais escrever
nem cartão postal [risos].
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