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"Arrependo-me de não ter ficado nos EUA", diz Cauby
Cantor acredita que na "América", onde fez shows nos anos 60 com o nome Ron Coby, "chegaria perto" de ser um Sinatra
Intérprete conta suas estratégias de marketing
no início da carreira e que
foi acusado de pagar fãs para gritarem seu nome
DA REPORTAGEM LOCAL
"My Way", a canção celebrizada na interpretação de Frank
Sinatra, é o ponto alto do show
de Cauby Peixoto no Bar Brahma. "And now, the end is near,
and so I face the final curtain",
acompanha o público desde o
primeiro verso.
O cantor diz que essa é "uma
música importante para todos", já que é "o maior sucesso
do maior cantor do mundo". Ao
cantá-la, afirma Cauby, "penso,
exatamente, no que fiz". "No
que fiz da minha carreira, do
meu jeito, e fico satisfeito."
As conquistas que ele então
descreve se ligam sempre ao estrelato. Questionado sobre o
que lhe dá mais prazer na sua
trajetória, Cauby afirma gostar
muito de ser chamado pelo
apelido de "papa", que um amigo traduziu para ele assim:
""Papa" porque todo mundo
quer te beijar, quer te abraçar,
quer te pegar".
Seu maior arrependimento
foi ter perdido a oportunidade
que via, nos Estados Unidos, de
se tornar uma estrela ainda
maior. Entre o final dos anos 50
e início dos 60, Cauby gravou e
fez shows nos EUA sob o nome
Ron Coby. "Tive uma oportunidade grande lá, estava gravando, fiz um filme. Tenho a impressão de que, se tivesse ficado
na América, não seria um Sinatra, mas chegaria perto. Seria
vizinho do Sinatra", afirma.
Por que voltou? Entre outras
razões, por saudade da fama.
"Sentia falta do Brasil, do meu
nome, do meu sucesso aqui."
Abandonou então Nova
York, cidade em que se sentia
bem, como em São Paulo, onde
iniciou sua carreira. "Gosto de
metrópoles. Mudei-me para
São Paulo [vindo de Niterói,
sua cidade natal, nos anos 50]
para cantar na boate Oásis.
Meu irmão tocava piano lá.
Nasci para cantar, e foi a minha
maior vitória cantar profissionalmente na noite", lembra.
Vergonha
Na capital paulista, Cauby
disse ter ficado intimidado pela
imponência que via na cidade.
"Fiquei com vergonha da av.
Ipiranga. Não fui conhecer a av.
São Luís. Fiquei com vergonha
da minha roupa, das pessoas
bem vestidas, e eu com aquela
roupinha surrada."
"Isso durou algum tempo.
Não sei o tempo exato. Passei a
gostar do paulista de forma geral", diz Cauby, segundo ele
mais simples e civilizado que o
fluminense. "A maneira de ser
do povo aqui tem a ver comigo."
Mas a fama só viria definitivamente ao voltar para o Rio e
assinar contrato com a Rádio
Nacional. "Fui levado pelo meu
empresário Di Veras", o responsável, segundo ele, por sua
estratégia de marketing, antes
mesmo que isso existisse reconhecidamente. "Di Veras nasceu para ser jornalista, algo assim, um homem de marketing.
Ele dizia: "Quando o Cauby canta, as moças desmaiam". Ele "segurou" minha voz em Cr$ 3 milhões. Isso dava comentários,
dava notícia."
"As fofoqueiras falavam que
eu pagava as meninas para gritarem para mim. Eu não tinha
dinheiro, era pobre, não poderia pagar de jeito nenhum. Mas
se tivesse que pagar, o Di Veras
pagaria. Sinatra pagou, não é?
Dizem que o Sinatra pagou."
Mais tarde viriam as roupas
"um pouco extravagantes", como o próprio Cauby as descreve. Imposições do estrelato, segundo ele, e exigência dos fãs.
"Às vezes, estou vestido assim, com uma roupa sofisticada, mas no fundo eu sou uma
pessoa simples. É que sempre
quando me apresento procuro
colocar roupas bonitas. Às vezes um pouco extravagantes,
mas faz parte deste Cauby", explica. Fora do palco, longe dos
fãs, o cantor afirma ser "muito
simples". Como se veste? "Chinelinho, pijaminha velho."
(RAFAEL CARIELLO)
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