São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 2006

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"Arrependo-me de não ter ficado nos EUA", diz Cauby

Cantor acredita que na "América", onde fez shows nos anos 60 com o nome Ron Coby, "chegaria perto" de ser um Sinatra

Intérprete conta suas estratégias de marketing no início da carreira e que foi acusado de pagar fãs para gritarem seu nome

DA REPORTAGEM LOCAL

"My Way", a canção celebrizada na interpretação de Frank Sinatra, é o ponto alto do show de Cauby Peixoto no Bar Brahma. "And now, the end is near, and so I face the final curtain", acompanha o público desde o primeiro verso.
O cantor diz que essa é "uma música importante para todos", já que é "o maior sucesso do maior cantor do mundo". Ao cantá-la, afirma Cauby, "penso, exatamente, no que fiz". "No que fiz da minha carreira, do meu jeito, e fico satisfeito."
As conquistas que ele então descreve se ligam sempre ao estrelato. Questionado sobre o que lhe dá mais prazer na sua trajetória, Cauby afirma gostar muito de ser chamado pelo apelido de "papa", que um amigo traduziu para ele assim: ""Papa" porque todo mundo quer te beijar, quer te abraçar, quer te pegar".
Seu maior arrependimento foi ter perdido a oportunidade que via, nos Estados Unidos, de se tornar uma estrela ainda maior. Entre o final dos anos 50 e início dos 60, Cauby gravou e fez shows nos EUA sob o nome Ron Coby. "Tive uma oportunidade grande lá, estava gravando, fiz um filme. Tenho a impressão de que, se tivesse ficado na América, não seria um Sinatra, mas chegaria perto. Seria vizinho do Sinatra", afirma.
Por que voltou? Entre outras razões, por saudade da fama. "Sentia falta do Brasil, do meu nome, do meu sucesso aqui."
Abandonou então Nova York, cidade em que se sentia bem, como em São Paulo, onde iniciou sua carreira. "Gosto de metrópoles. Mudei-me para São Paulo [vindo de Niterói, sua cidade natal, nos anos 50] para cantar na boate Oásis. Meu irmão tocava piano lá. Nasci para cantar, e foi a minha maior vitória cantar profissionalmente na noite", lembra.

Vergonha
Na capital paulista, Cauby disse ter ficado intimidado pela imponência que via na cidade. "Fiquei com vergonha da av. Ipiranga. Não fui conhecer a av. São Luís. Fiquei com vergonha da minha roupa, das pessoas bem vestidas, e eu com aquela roupinha surrada."
"Isso durou algum tempo. Não sei o tempo exato. Passei a gostar do paulista de forma geral", diz Cauby, segundo ele mais simples e civilizado que o fluminense. "A maneira de ser do povo aqui tem a ver comigo."
Mas a fama só viria definitivamente ao voltar para o Rio e assinar contrato com a Rádio Nacional. "Fui levado pelo meu empresário Di Veras", o responsável, segundo ele, por sua estratégia de marketing, antes mesmo que isso existisse reconhecidamente. "Di Veras nasceu para ser jornalista, algo assim, um homem de marketing. Ele dizia: "Quando o Cauby canta, as moças desmaiam". Ele "segurou" minha voz em Cr$ 3 milhões. Isso dava comentários, dava notícia."
"As fofoqueiras falavam que eu pagava as meninas para gritarem para mim. Eu não tinha dinheiro, era pobre, não poderia pagar de jeito nenhum. Mas se tivesse que pagar, o Di Veras pagaria. Sinatra pagou, não é? Dizem que o Sinatra pagou."
Mais tarde viriam as roupas "um pouco extravagantes", como o próprio Cauby as descreve. Imposições do estrelato, segundo ele, e exigência dos fãs.
"Às vezes, estou vestido assim, com uma roupa sofisticada, mas no fundo eu sou uma pessoa simples. É que sempre quando me apresento procuro colocar roupas bonitas. Às vezes um pouco extravagantes, mas faz parte deste Cauby", explica. Fora do palco, longe dos fãs, o cantor afirma ser "muito simples". Como se veste? "Chinelinho, pijaminha velho."
(RAFAEL CARIELLO)


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