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Gondry traz cultura da reciclagem a SP
Diretor francês da "geração do videoclipe" chega à cidade e abre exposição no MIS baseada no filme "Rebobine, por Favor"
Longa mostra personagens que resolvem filmar versões caseiras de blockbusters; experiência poderá ser repetida pelo público no MIS
ADRIANA FERREIRA SILVA
EDITORA DO GUIA DA FOLHA
Michel Gondry, 45, está entre nós: amanhã, um dos mais
criativos cineastas da "geração
videoclipe" participa da abertura de uma exposição no MIS,
que tem o mesmo título de seu
filme mais recente, "Rebobine,
por Favor", cuja pré-estréia
também ocorre nesta sexta -a
estréia será no dia 12.
As filmagens amadoras são o
tema do longa, uma comédia
estrelada por Mos Def e Jack
Black, e da mostra, onde o público poderá fazer seus próprios filmes. Em entrevista à
Folha, o francês detalhou os
dois trabalhos.
FOLHA - Sob o título "Rebobine,
por Favor" você fez livro [lançado no
exterior], exposição e filme. Os trabalhos são sobre o mesmo tema?
MICHEL GONDRY - Escrevi o livro
para conceituar minha idéia de
criar conexões entre comunidades diferentes a partir da
produção de filmes amadores
-o que fiz na exposição e, em
parte, durante as filmagens. Já
o filme é puro entretenimento.
Quis fazer uma comédia popular, que atingisse o maior número de pessoas, mas não estouramos nas bilheterias...
FOLHA - De onde vem a idéia de fazer filmes amadores?
GONDRY - É uma utopia que tenho desde a adolescência, em
Paris. Naquela época, queria
"reciclar" cinemas antigos, exibindo filmes feitos pelas pessoas do bairro, que atuariam e
seriam totalmente responsáveis pelas películas. Seria um
sistema independente. Isso
nunca ocorreu, mas veio daí o
conceito para "Rebobine".
FOLHA - Os personagens de Mos
Def e Jack Black refilmam principalmente blockbusters norte-americanos. Seria possível fazer o longa em
outro país que não os EUA?
GONDRY - Claro. Se eu o fizesse
no Brasil, teria uma lista dos filmes mais alugados nas locadoras para reproduzi-los. Mas tenho certeza de que a maioria
seria de filmes norte-americanos. Eles têm uma indústria
agressiva, que predomina em
outros países e afasta as obras
que vêm do exterior, já que os
americanos praticamente não
assistem aos longas feitos fora
dos Estados Unidos.
FOLHA - Como foi a seleção dos filmes que seriam recriados em "Rebobine, por Favor"?
GONDRY - Não planejei ou pensei muito. Eram basicamente
os filmes que vinham à minha
cabeça. Mas havia uma limitação: só podíamos refazer as
obras lançadas em VHS. É por
isso que "Rebobine, por Favor"
é bastante voltado aos anos 80.
Queria usar a versão de Peter
Jackson para "King Kong"
[2005], por exemplo, mas ele
não existe em VHS. Também
quis "reciclar" os filmes que a
maioria das pessoas já assistiu.
E fiz algumas paródias: "Os Caça-Fantasmas", primeira fita
que eles refazem, fala sobre três
caras começando um negócio, o
mesmo que Mos Def e Jack
Black estão fazendo.
FOLHA - Houve algum método para recriar esses longas?
GONDRY - Pedi aos atores para
não reverem os filmes. Jack
Black, por exemplo, nunca assistiu a "Conduzindo Miss
Daisy". As interpretações eram
baseadas na memória que as
pessoas têm das obras. Também era preciso mostrar as limitações para refazer aqueles
filmes, recriados em um jardim
e numa oficina mecânica. Para
isso, os personagens tinham de
ser bastante criativos. Resgatei
a maneira como eu e meu irmão brincávamos: como não tínhamos muitos canais de TV
ou videogames sofisticados,
construíamos os carros com
mesas, cadeiras...
FOLHA - O filme também é uma
metáfora para esse momento, em
que qualquer um pode filmar, mostrar na internet...
GONDRY - Claro. Não é uma novidade o fato de que a tecnologia transforma a arte. Sempre
houve uma interação entre as
evoluções tecnológicas e o entretenimento. E o filme acompanha grandes mudanças: ao
mesmo tempo em que aquelas
pessoas utilizam diversos truques para recriar os filmes, elas
mostram como as tecnologias
já estão muito diferentes hoje.
FOLHA - Quando você começou a
preparar a exposição?
GONDRY - Tive a idéia antes de
fazer o filme e, em parte, a coloquei em prática durante as filmagens, quando convidamos
os moradores da comunidade
de Passiac [Nova Jersey] para
atuar no curta dirigido por Mos
Def e Jack Black. Quando os vi
assistindo, felizes e orgulhosos,
percebi que meu conceito funcionava no mundo real.
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