TONY GOES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Desde maio, quando caiu na rede "por acaso", o trailer de "Do Começo ao Fim" vem deixando em polvorosa os internautas gays. Blogs e redes sociais caíram de boca no assunto, assanhados com a premissa do filme: dois irmãos que descobrem que se amam e passam às vias de fato.
A junção de dois tabus -homossexualidade e incesto- criou a expectativa de uma obra polêmica. Sem falar na vontade de ver dois bofes se pegando na telona sem a menor cerimônia. "Do Começo ao Fim" só cumpre a segunda promessa. Sua metade final é repleta de cenas ousadas, que os atores cumprem com total desinibição. Mas o resto ficou na saudade.
Tema controverso? Que nada. A paixão desenfreada que um irmão sente pelo outro começa na infância, mas nunca provoca mais que um levantar de sobrancelhas. Júlia Lemmertz faz a mãe sensível e preocupada não muito, pois é incapaz de tomar qualquer atitude. Ela está ótima nos tempos e olhares, mas os diálogos fracos não ajudam. E sai logo da trama, deixando o caminho livre para os pombinhos.
Talvez não devesse sumir tão cedo. Numa cena que resume o filme, os irmãos-amantes vão curtir uma praia e fantasiam que a mamãe está de volta, tomando banho de mar com eles. Uma pista conclusiva da idade mental dos personagens, que, mesmo depois de grandinhos, ainda estão presos a um passado encantado. Que o roteiro, aliás, se esforça para que não termine nunca.
Todos vivem num Rio de Janeiro eternamente ensolarado e seguro, em mansões cinematográficas e sem o menor problema material. Um mundo livre de preconceitos, já que ninguém parece dar a mínima ao relacionamento dos irmãos, que não fazem questão de mantê-lo em segredo. Talvez porque o incesto homossexual não produza filhos tortinhos. O diretor Aluízio Abranches -que ousou muito mais com o relacionamento "normal" de "Um Copo de Cólera"- diz que queria passar uma mensagem positiva. Até certo ponto, conseguiu. Os românticos empedernidos sairão suspirando do cinema, embevecidos com uma relação tão perfeitinha.
É uma pena: "Do Começo ao Fim" poderia ser contundente, mas não passa de uma versão gay daqueles romances da coleção "Sabrina", que as mocinhas de antigamente compravam nas bancas.