São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2010

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Herdeiros levam DNA de Glauber ao Festival de Brasília

Filhos do cineasta demonstram a verve do pai ao apresentar longa de ficção e filme inédito do diretor

Enquanto Eryk exibiu "Transeunte", montado pela irmã Ava, Paloma levou restauração de "Leão de Sete Cabeças"

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Sempre se diz, no cinema brasileiro, que são muitos os filhos de Glauber Rocha (1939-1981). É que o cineasta, que morreu aos 42 anos e produziu freneticamente, serviu de farol a seguidas gerações. Mas, no caso do Festival de Brasília, a referência não tem nada de metafórica. São, de fato, muitos os filhos de Glauber aqui presentes.
Anteontem à noite, Eryk Rocha subiu ao palco do Cine Brasília com a emoção à flor da pele. Dedicou sua primeira ficção, "Transeunte", à mãe, a também cineasta Paula Gaitán, presente à plateia, e ao pai, Glauber.
Ao apresentar a equipe do longa, fez com que descobríssemos que estava ali também sua irmã Ava Rocha, montadora do filme.
E na segunda outra integrante do clã, Paloma Rocha, espalhará o DNA glauberiano pelo palco. Ela apresentará a cópia restaurada de "Leão de Sete Cabeças", feito em 1969, no Congo-Brazzaville. O porta-voz do cinema novo foi para a África após ganhar o prêmio de direção em Cannes com "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro".
O filme africano de Glauber, o primeiro do exílio, não só não tinha uma cópia nacional como jamais fora lançado aqui. Graças a uma parceria entre as cinematecas brasileira, a de Roma e a Secretaria da Cultura da Bahia, uma nova versão, com legendas em português, fará com que o filme possa ser descoberto pelo público.

ESTÉTICA ÍNTIMA
Além do gosto pelo cinema, Paloma e Eryk herdaram do pai a verve. Ambos falam como se estivessem discursando e, tamanho o entusiasmo, acabam por entusiasmar também o interlocutor.
É assim que Paloma define a importância do renascimento de "Leão". Foi assim que Eryk apresentou seu filme ao público.
Em entrevista à Folha, o diretor, autor dos documentários "Rocha que Voa" e "Pachamama", definiu o seu novo trabalho como uma ficção amalgamada ao documentário.
"O centro do Rio é um personagem. A gente não fechou nem uma rua nem um bar. O acaso foi transformando a história", diz Eryk, 32.
"Transeunte", filmado em Super-16, com belas imagens em preto e branco, segue pela rua o aposentado Expedito (Fernando Bezerra), um entre mil solitários que a cidade anonimamente acolhe.
O tempo do filme é o tempo da vida que passa lenta, esgarçada pelas pessoas que morreram e pela rotina de poucos afazeres. A estética perseguida pelo diretor é aquela que, como pregava seu pai, não mimetiza o cinema bilionário. Ao contrário.
"Transeunte", que traz canções de amor a alinhavar a narrativa de poucas falas, estabelece, com o espectador, uma preciosa relação de intimidade.


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