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Herdeiros levam DNA de Glauber ao Festival de Brasília
Filhos do cineasta demonstram a verve do pai ao apresentar longa de ficção e filme inédito do diretor
Enquanto Eryk exibiu "Transeunte", montado pela irmã Ava, Paloma levou restauração de "Leão de Sete Cabeças"
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Sempre se diz, no cinema
brasileiro, que são muitos os
filhos de Glauber Rocha
(1939-1981). É que o cineasta,
que morreu aos 42 anos e
produziu freneticamente,
serviu de farol a seguidas gerações. Mas, no caso do Festival de Brasília, a referência
não tem nada de metafórica.
São, de fato, muitos os filhos
de Glauber aqui presentes.
Anteontem à noite, Eryk
Rocha subiu ao palco do Cine
Brasília com a emoção à flor
da pele. Dedicou sua primeira ficção, "Transeunte", à
mãe, a também cineasta Paula Gaitán, presente à plateia,
e ao pai, Glauber.
Ao apresentar a equipe do
longa, fez com que descobríssemos que estava ali também sua irmã Ava Rocha,
montadora do filme.
E na segunda outra integrante do clã, Paloma Rocha,
espalhará o DNA glauberiano pelo palco. Ela apresentará a cópia restaurada de
"Leão de Sete Cabeças", feito
em 1969, no Congo-Brazzaville. O porta-voz do cinema
novo foi para a África após
ganhar o prêmio de direção
em Cannes com "O Dragão
da Maldade contra o Santo
Guerreiro".
O filme africano de Glauber, o primeiro do exílio, não
só não tinha uma cópia nacional como jamais fora lançado aqui. Graças a uma parceria entre as cinematecas
brasileira, a de Roma e a Secretaria da Cultura da Bahia,
uma nova versão, com legendas em português, fará com
que o filme possa ser descoberto pelo público.
ESTÉTICA ÍNTIMA
Além do gosto pelo cinema, Paloma e Eryk herdaram
do pai a verve. Ambos falam
como se estivessem discursando e, tamanho o entusiasmo, acabam por entusiasmar
também o interlocutor.
É assim que Paloma define
a importância do renascimento de "Leão". Foi assim
que Eryk apresentou seu filme ao público.
Em entrevista à Folha, o
diretor, autor dos documentários "Rocha que Voa" e
"Pachamama", definiu o seu
novo trabalho como uma ficção amalgamada ao documentário.
"O centro do Rio é um personagem. A gente não fechou nem uma rua nem um
bar. O acaso foi transformando a história", diz Eryk, 32.
"Transeunte", filmado em
Super-16, com belas imagens
em preto e branco, segue pela rua o aposentado Expedito
(Fernando Bezerra), um entre mil solitários que a cidade
anonimamente acolhe.
O tempo do filme é o tempo da vida que passa lenta,
esgarçada pelas pessoas que
morreram e pela rotina de
poucos afazeres. A estética
perseguida pelo diretor é
aquela que, como pregava
seu pai, não mimetiza o cinema bilionário. Ao contrário.
"Transeunte", que traz
canções de amor a alinhavar
a narrativa de poucas falas,
estabelece, com o espectador, uma preciosa relação de
intimidade.
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