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OPINIÃO
Politização da polêmica lembra clima ideológico dos anos 60
PAULO WERNECK
EDITOR DA ILUSTRÍSSIMA
A polêmica do Jabuti é o
novo e radicalizado capítulo
da rivalidade entre Record e
Companhia das Letras, que
remonta a antigas contendas
editoriais. Ambas já se enfrentaram na disputa sobre o
melhor modelo de divulgação do livro no país: Flip ou
Bienal? Agora, o único ponto
pacífico é a necessidade de
reformar o Jabuti.
Não estão em jogo, porém,
apenas questões comerciais
de um mercado em expansão, mas também o "prestígio" (moeda com alto valor
de face nas editoras) e sobretudo a recente politização da
cultura no país, travada pela
militância na internet.
A polarização, afinal de
contas, se dá entre a editora
que abriga em seu catálogo
Reinaldo Azevedo, Merval
Pereira, Demétrio Magnoli,
Ferreira Gullar e Mario Sabino, autores de perfil crítico
ao governo Lula, e a casa editorial de Chico Buarque, José
Miguel Wisnik, Marilena
Chaui, Roberto Schwarz e outros símbolos da esquerda.
Não se via clima parecido
desde os anos 60, quando os
editores brasileiros eram sobretudo missionários ideológicos como Ênio Silveira ou
Carlos Lacerda. As claques e
vaias dos blogs lembram a
sede de unanimidades dos
festivais de música popular.
Não deixa de ser curioso
que a "direita" lance mão de
um expediente "esquerdista", uma petição on-line, na
tentativa de "bullying" literário de Chico Buarque. Embora não seja unanimidade,
Chico passou pelo crivo do
público e da crítica. Estreante premiado, Edney Silvestre
ainda precisa encontrar defensores além de seu editor.
A guerra nos blogs mostra
que a rede não é boa conselheira quando se trata de crítica literária. Em outras palavras, quem quiser ler um
bom romance nas férias de
verão e estiver indeciso entre
o de Edney e o de Chico dificilmente verá critério crítico
na polêmica do Jabuti.
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