|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Rede TV! emplaca caça-níquel "trash"
Com jogos interativos, "Insomnia" usa de caretas a anão para chamar a atenção do espectador durante a madrugada
Diretor de produtora do programa o compara ao "Pânico na TV" e diz que
a idéia é "manter o clima de alegria, jovialidade"
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Já passa da 1h30 quando, na
Rede TV!, os motivos psicodélicos de um cenário virtual e a
movimentação eufórica de dois
jovens casais interrompem o
"zapping". Um anão cujos disfarces variam de bebê a Papai
Noel faz participações especiais aqui e ali. Não, o canal não
está investindo em pornô "soft"
com toques de David Lynch para concorrer com a brigada
evangélica que domina as madrugadas da TV aberta. A descrição acima é de "Insomnia",
programa de jogos com participação do público que estreou
em 7 de novembro e, pelo conjunto de roteiro, direção e apresentação, já pleiteia um lugar
no pódio das atrações mais
"trash" dos últimos tempos.
A fórmula, já aplicada pela
inglesa CellCast em países como Índia e Argentina, é simples: uma central telefônica 24
horas recebe cadastros e, a partir de um arquivo de 3.000 perguntas, propõe um "quiz" sobre
arte, ciência e música, entre outros temas. Quanto mais questões o participante responde
(corretamente), mais acumula
pontos e aumenta suas chances
de concorrer ao prêmio em barras de ouro dado ao vivo pelo
quarteto de apresentadores.
Cada acerto dá direito a um
ponto; segundo Percival Palesel, diretor de conteúdo da
CellCast no Brasil, a pontuação
dos líderes do ranking -ou seja, de quem é chamado a responder ao desafio final- costuma oscilar entre 200 e 215. Ao
fim de cada edição, os índices
são zerados.
Considerando que o custo da
ligação, para algumas regiões
do país, é o de uma chamada para celular (cerca de R$ 0,35 o
minuto), deve haver muitos titulares de linha telefônica perdendo o sono ao conferir a conta mensal -o programa tem registrado média de 0,8 ponto no
Ibope (o que, bem ou mal, equivale a 44 mil espectadores na
Grande São Paulo). Mas Palesel
contemporiza o pendor caça-níquel da atração. "Em 15 minutos, eles [os participantes]
conseguem fazer cem pontos.
Depois de um tempo, a pessoa
já sabe o que vai acontecer. Andam reclamando até que as
perguntas estão se repetindo."
O que jamais se repete no
"Insomnia" é o (arremedo de)
script. Diante da câmera, o repertório de berros, caretas e
macaquices de Jackeline Petkovic, Maurício Mendes, Cid
Barros e Gabriela Serafim vai
sendo burilado dia após dia. "É
como o [programa de TV] "Pânico" quando nasceu; tudo mais
ou menos no improviso. A idéia
é manter o clima de alegria e jovialidade", justifica Palesel.
Jovialidade que não se traduz necessariamente em sagacidade. A certa altura, um diagrama com triângulos coloridos toma o canto direito da tela.
Deseja-se saber quantas figuras
há ali. Diante dos repetidos erros dos participantes, a produção resolve indicar duas opções
de resposta. Um incauto diz o
número errado. Sobra uma opção, portanto, mas isso raramente garante o acerto. Será o sono que (enfim) chega?
Texto Anterior: Comentário: Art-O-Meter mede só o ibope da obra Próximo Texto: Música: Nóbrega tira melodia de almanaque Índice
|