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Palavra final
Conheça o caminho
que um termo percorre para virar verbete de dicionário; a partir de 2009, "pré-sal" será
um dos premiados
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Não bastasse o Novo Acordo
Ortográfico, que entra em vigor
a partir de 1º de janeiro, editores e lexicógrafos, profissionais
responsáveis pela inclusão ou
não de uma palavra num dicionário, têm de analisar expressões que pipocam, por exemplo, aqui, nas páginas de um
jornal, ou acolá, na fala do povo.
Caso de duas contribuições
recentes do governo Lula: "pré-sal", que designa a camada
abaixo do leito do mar, em que
foi achado petróleo. E a expressão "sífu", usada pelo presidente no início de dezembro, em
discurso sobre a crise mundial.
Os três principais dicionários
do Brasil -"Aurélio",
"Houaiss" e "Caldas Aulete"-
já cogitam incluir "pré-sal":
"Certamente vai entrar no processo editorial se o governo
passar a usar de forma institucional", afirma Emerson Santos, diretor-geral da divisão de
livros e periódicos da editora
Positivo, que edita o "Aurélio".
Já "sífu"-com acento agudo
no "i", já que é paroxítona terminada em "u", como já ressaltou o professor Pasquale Cipro
Neto, colunista da Folha- deve ficar de fora das atualizações. "Não é novidade, salvo na
boca de um presidente. E dificilmente se encontra o registro
exceto na fala", diz Paulo Geiger, editor da Lexicon, que publica o "Caldas Aulete". "Ainda
estamos em dúvida, mas, sinceramente, acho difícil entrar."
Palavras cruzadas
Tanto "pré-sal" quanto "sífu"
foram garimpadas em uma das
principais fontes dos dicionaristas: a imprensa. Mas há outros nascedouros de verbetes.
"Num dicionário com mais de
230 mil entradas como o
"Houaiss", tudo importa: jornais, revistas, teses, bulas de remédios, literatura, de terminologia, obras científicas, internet
etc.", diz Mauro Villar, diretor
do Instituto Antonio Houaiss.
Já Paulo Geiger ressalta que
o "Caldas Aulete" é muito "sensível à imprensa como criadora
de neologismos", e que as novidades surgem de vários setores,
como a culinária, a área de gestão, a economia, a tecnologia
etc. Geiger cita o esporte como
fonte de verbetes recentes como "cadeirante", que surgiu na
segunda metade do século 20
com os Jogos Paraolímpicos. E
até mesmo um estrangeirismo
usado no tênis e no vôlei, o
"ace", do inglês, que significa
"saque sem defesa", em que o
adversário não alcança a bola e
é convertido em ponto.
"Vale ressaltar que não incluímos palavras estrangeiras
quando existem correspondentes no português culto. Então
não incorporamos "delivery"
porque temos "entrega", nem
"sale", porque temos "liqüidação'", diz Geiger, lembrando
outra palavra do inglês já incorporada, o "software". "Os franceses têm "logiciel", mas nós
não temos um equivalente."
Atento a outra importante
fonte de neologismos, os autores renomados, o editor do
"Caldas Aulete" conta que tem
em sua "geladeira", no momento, uma expressão popular
muito usada pelo escritor baiano João Ubaldo Ribeiro: "culhuda", que significa mentira, e
o adjetivo dela derivado, "culhudeiro", que é mentiroso.
"Quarentena"
Há um tempo médio de "quarentena" até que novas palavras entrem nos dicionários.
Para Villar, do "Houaiss", os dicionários devem ter novas edições -"e não reimpressões,
mas edições de verdade"- num
período entre cinco ou dez
anos, para não se desatualizarem. Para Emerson Santos, o
ideal são edições trienais.
"A editora tem um canal de
abastecimento de palavras. A
equipe de lexicógrafos recebe e
elas ficam na "geladeira" de três
a cinco anos, em média, tempo
em que se consolida ou não no
uso", diz Santos, que prevê para
2010 uma edição atualizada do
"Aurélio", com novos verbetes.
Em todos os casos, a "quarentena" tem a função de evitar
que palavras que estão apenas
"na moda" sejam incorporadas.
"As palavras e acepções da
língua informal levam um tempo um pouco maior para serem
dicionarizadas, para sabermos
se se trata de um caso de aparição evanescente ou de ocorrência que a língua realmente adotou e incluiu de modo duradouro", diz Mauro Villar.
Paulo Geiger, por exemplo, já
se viu às voltas com modismos
como "malufar" ou "collorir",
referências ao ex-prefeito Paulo Maluf e o ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Não sendo mero modismo, o
último passo é a redação. Segundo Villar, a nova palavra então "ganha a linguagem e gramática de exposição utilizada
pelo dicionário". E "pré-sal",
diz ele, entra sim.
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