São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 2009

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Os donos da HISTÓRIA

Nova geração de autores de novelas aponta crescente influência de séries nas tramas




LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

É uma lista nada pequena: "House", "Fringe", "The Big Bang Theory", "Friends", "Seinfeld", "Two and a Half Men", "Sex and the City", "Desperate Housewives"...
Na maior empolgação, Duca Rachid, 49, e Thelma Guedes, 50, citam suas séries prediletas. Chamadas de "as meninas" nos bastidores da Globo, elas são autoras da atual novela das seis, "Cama de Gato", sintonizada no país por 59% dos domicílios com TV ligada nesse horário.
"As meninas" fazem parte da nova geração de autores, que aprendeu o ofício com quem criou a telenovela brasileira, como Benedito Ruy Barbosa, 78, e Manoel Carlos, 76.
Mas o grupo, que tem entre 40 e 50 anos e começa a deixar o posto de colaborador dos veteranos e a assinar como titular as primeiras tramas, bebe em outras fontes. A exemplo do público, está cada vez mais aberto às influências da TV paga, especialmente das séries dos EUA.
"É claro que a agilidade da narrativa dos seriados é uma influência na dramaturgia audiovisual em geral. Assim como o contrário. Há seriados americanos, como "Desperate Housewives", que parecem influenciados pelas novelas latinas", diz João Emanuel Carneiro.
Ele é o mais novo da turma -tem 39 anos- e o único até agora a conseguir uma vaga no seleto grupo de autores das novelas das oito da Globo. Escreveu "A Favorita" (2008) após bater recordes de audiência com as duas que fez para as 19h -"Cobras & Lagartos" (2006) e "Da Cor do Pecado" (2004).
Lançado há cinco anos como autor-titular por Sílvio de Abreu, 67, Carneiro já é escalado para supervisionar novatos e leu os 30 primeiros capítulos de "Cama de Gato", a segunda trama assinada por Duca e Thelma (a primeira foi um "remake" de "O Profeta", 2006).
As duas contam como suas séries preferidas as inspiram. "Mantemos a linguagem de folhetim na história central e nos deixamos inspirar pelas séries nas paralelas. Pode ser na criação de um personagem diferente ou mesmo no ritmo mais acelerado", diz Thelma.
"Os seriados influenciam muito as tramas paralelas, que podem ter pequenas histórias com começo, meio e fim em cada capítulo. Isso dá um respiro para a novela", conta Duca.
Essa é uma novidade significativa na teledramaturgia. Em busca de um público disperso, que a cada dia chega em casa em um horário diferente e tem sua atenção "roubada" por outras mídias, autores de novela tentam fazer com que cada capítulo, a exemplo dos seriados, tenha uma história fechada, capaz de atrair até o espectador que está só de passagem.
"Para mim, cada capítulo tem que ter começo, meio e fim. Tem que se bastar de certa forma, imaginando que se alguém assistir a esse capítulo sem ter visto na sequência possa se interessar pela história. Costumo dar título a cada capítulo que escrevo [como são os episódios das séries]", diz Carneiro.
Tiago Santiago, 46, conhecido por "Mutantes", da Record, concorda com a "contaminação" das novelas pelas séries. "Isso aconteceu em toda a saga dos mutantes. Acredito que a linguagem dos seriados exerça sim influência sobre as novelas a curto, médio e longo prazo."
O autor, que deixou de ser colaborador de novelas da Globo para se tornar titular na Record, está agora no SBT e trabalha em um "remake" de "Uma Rosa de Amor", com estreia prevista para fevereiro.


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