São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 2009

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Autores dizem que a novela não vai acabar

O que pode ocorrer é uma mudança de linguagem, temas e da forma de ver TV

Novelista da Rede Record discorda de seus colegas de geração e defende que a telenovela brasileira não é influenciada pelas séries

DA REPORTAGEM LOCAL

Voz dissonante dessa nova geração de autores é a de Gisele Joras, 46, da Record, categórica ao responder se acredita que as séries tendem a influenciar as novelas: "Não. Público de telenovela é um, o de seriado é outro. As linguagens também".
Ela tampouco concorda que hoje alguns capítulos de telenovelas, como episódios de seriados, contenham histórias com começo, meio e fim. "Capítulos de folhetim terminam tradicionalmente com a expectativa de um novo rumo da ação. Eles são interdependentes, ao contrário dos episódios dos seriados. São duas técnicas dramáticas totalmente distintas", afirma Joras.
A autora é responsável por "Bela, a Feia", versão de uma novela colombiana cuja história foi vendida para vários países e deu origem ao popular seriado norte-americano "Ugly Betty". Para Joras, esse não é um caso de namoro entre novela e série.
"A história foi vertida para o formato original, a telenovela, nos países com tradição no gênero, como o Brasil, e adaptada para o formato de série, do tipo sitcom, nos EUA, onde a tradição forte é a da série. Não houve mescla entre as linguagens. Ou é novela ou é série."
Formada em arquitetura, Joras difere dos colegas no modo como chegou ao cargo de novelista. Em vez de começar como colaboradora dos mais experientes, estreou como titular, após vencer em 2007 um concurso na Record com a sinopse de "Amor e Intrigas". Ganhou R$ 20 mil, e sua novela foi escolhida para ir ao ar.

Futebol
Os cinco representantes da nova geração entrevistados pela Folha são unânimes em duas questões importantes.
A primeira é que a novela tende a se transformar nos próximos anos, com a renovação de seus criadores e a convergência entre novas mídias, mas não haverá rompimento brusco com a linguagem consolidada pelos veteranos. "Os autores mais velhos estabeleceram a linguagem da telenovela brasileira. No meu caso e, acredito, no de meus companheiros de geração, seria muito difícil romper completamente com o trabalho deles", afirma Joras.
"Esses autores são nossas referências, entre outras. Toda mudança é um salto dialético. Você muda, mas aproveita a base", complementa Thelma Guedes, da Globo.
Além disso, otimistas, todos concordam que a novela não vai acabar. Tende a mudar seus temas e experimentar novas linguagens, incorporar a tecnologia e ser vista em outras mídias, como internet e celular. Mas, defendem os autores, é e vai continuar sendo um patrimônio nacional.
"Novela é igual a futebol. No dia em que o futebol acabar no Brasil, a novela também pode acabar", imagina Duca Rachid, parceira de Guedes na novela "Cama de Gato".
"É uma absoluta inverdade que haja queda de audiência das novelas. O que houve foi uma mudança de patamar dos números, diante da concorrência com a TV paga e outras mídias. E isso mais na Grande São Paulo. Em outros Estados, isso não existe, a novela é muito querida", afirma Guedes.
"Não acredito que a novela perca espaço na preferência do público. Novela traz rotina. Não sei quem disse essa frase: "O homem feliz é o homem que tem rotina". Concordo. A vida sem rotina é insuportável", diz João Emanuel Carneiro. (LM)


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