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LITERATURA
Álbum de Jô Oliveira põe rei português contracenando com Lampião
D. Sebastião volta aos sertões, em quadrinhos
XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL
Dom Sebastião, el-rei que tomou sumiço na sangrenta batalha
de Alcácer-Quibir, em 1578, nas
terras do Marrocos, está de volta,
com todos os enfeites e símbolos
da heráldica, para tomar conta de
um utópico arraial nos sertões.
A descida do venturoso está no
álbum "A Guerra do Reino Divino", a HQ de Jô Oliveira, 57, desenhista paraibano que mora em
Brasília, onde, entre outras artes,
bola selos para os Correios.
No mundo dos beatos e cangaceiros, dom Sebastião promove,
com a possibilidade do eterno retorno, a "nova Meca", lugar de
fartura, abrigo e sombra das almas penadas do semi-árido.
O reino da bonança não vive só
de trabalho e orações, tem também, nos seus arredores, bailes
animados por Lampião. "Agora
basta de tiros! Vamos nos divertir
um pouco. Há dias que não arrastamos os pés", conclama o valente, antes do forró pesado.
Mas não pensem que rei do cangaço é calouro em HQ. A editora
Hedra, a mesma que lança o álbum de Jô Oliveira, publicou
"Lampião - Era o Cavalo do Tempo Atrás da Besta da Vida", do
cearense Klévisson, repórter-cordelista (leia texto ao lado).
O italiano Hugo Pratt também
pôs o seu bravo Corto Maltese, estrangeiro na terra em que também se mata por conta do sol na
vista, na caatinga com Lampião.
A aventura se chama "Samba
com Tiro Certeiro" -daí Chico
Science & Nação Zumbi samplearam o título da música "Maracatu
de Tiro Certeiro".
Voltemos com dom Sebastião.
Em carne e osso, embora pareça
uma visagem aos olhos incandescentes dos sertanejos, "Ele" surge
para enfrentar a besta-fera e todas
as danações que aperreiam o juízo do povo das margens.
El-rei comanda o exército divino, mas, como nos arraiais outros, a besta-fera, com trajes republicanos e balas modernas, faz um
estrago nas carcaças dos penitentes. Dom Sebastião perde mais
uma e some do mapa.
A segunda história do álbum segue a mesma saga sebastianista:
"O Massacre da Pedra Encantada". Tem sotaque mais didático,
para apresentar a geografia da fome, mas larga a trilha mitológica
de lampiões justiceiros, belzebus
que alugam almas a preço de um
pote d'água e outras imagens que
ajudaram a inventar o que tomamos como Nordeste.
O reino movido pela crença em
dom Sebastião narrado por Jô
Oliveira já existiu em muitas ocasiões. Na favela de Antonio Conselheiro, no Caldeirão de Santa
Cruz do Deserto (encostas da chapada do Araripe), na irmandade
do Bom Jesus da Pedra, n'A Pedra
do Reino e outras Canudos.
Na Ilha dos Lençóis, Maranhão,
perto das praias cujas areias serviram de cenário para aparição recente de personagem da novela
"O Clone" -e merchandising do
governo Roseana Sarney-, el-rei
de Portugal toma forma de touro
negro, com estrela na testa.
A GUERRA DO REINO DIVINO. De: Jô
Oliveira. Editora: Hedra. 48 páginas.
Preço não definido.
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