São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

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CRÍTICA

Seqüência explora o abismo entre as famílias

THIAGO STIVALETTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quando a comédia "Entrando numa Fria" estourou nas bilheterias, há quatro anos, arrecadando mais de US$ 300 milhões (cerca de R$ 802 milhões) no mundo todo, muita gente deu o crédito do sucesso à dupla Robert de Niro-Ben Stiller. O público mais velho do primeiro teria se juntado ao público mais adolescente do segundo, e só.
Mas a verdade é que o filme descobriu uma bela situação cômica a ser explorada: tudo o que pode dar errado nos momentos em que o genro se esforça em mostrar o melhor de si, enquanto o sogro passa por cima desses esforços e descobre os defeitos mais insuspeitos. Por mais que se modernize o mundo, este é ainda um dos pesadelos do homem burguês.
Como o primeiro filme praticamente esgotou as hipóteses de desastre da situação, "Entrando numa Fria Maior Ainda" parte de uma segunda premissa quase tão interessante quanto: o que pode dar errado quando a família da noiva conhece os pais do noivo, que cultivam um estilo de vida em tudo diferente do seu?
O humor desta seqüência é mais escrachado e apelativo, com direito a um bebê que fala palavrão e um cachorro que "fornica" tudo o que encontra pela frente. Nada, por exemplo, daqueles intermináveis segundos de silêncio que pesavam no ar depois do primeiro aperto de mão entre sogro e genro. Algumas situações seguem à risca a fórmula do primeiro filme, mas sem a mesma inspiração.
Com mais personagens à vista, os roteiristas se empolgaram tanto em criar novas situações que elas mal cabem nas quase duas horas de filme, com direito a uma gravidez inesperada e um segundo filho.
Conseguiram, no entanto, fazer com que a história continuasse a girar em torno de Jack Byrnes (De Niro), o pior sogro do mundo, agente aposentado da CIA que cultiva a sua paranóia por meio de microcâmeras, de detectores de mentira -e agora até de um soro da verdade que faz com que o genro diga tudo o que pensa, num dos momentos altos do filme.
Apesar dos trunfos, a receita ainda podia ter desandado se os produtores não houvessem tido a boa idéia de chamar dois veteranos que há tempos não arrumavam bons papéis: Dustin Hoffman e Barbra Streisand, pais de Greg (Ben Stiller). Hoffman é um bicho-grilo animado até demais, e Streisand, a terapeuta sexual pronta a dar conselhos e psicanalisar tudo.
Hoffman não tinha chance de exercitar sua verve cômica desde "Tootsie" (1982). E Streisand é bem mais agradável se autoparodiando como mãe judia do que se levando a sério em dramas-xarope como "O Príncipe das Marés" ou musicais como "Yentl".
Hollywood descobriu que desencavar suas múmias pode ser um bom negócio. A comédia bateu o recorde de "O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei" na bilheteria de Natal nos EUA e já arrecadou quase US$ 280 milhões (R$ 750 milhões) no mundo todo. Agora é só esperar o terceiro da série.


Entrando numa Fria Maior Ainda
Meet the Fockers
   
Direção: Jay Roach
Produção: EUA, 2004
Com: Robert de Niro, Ben Stiller
Quando: a partir de hoje nos cines Butantã, Eldorado e circuito


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