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CRÍTICA
Seqüência explora o abismo entre as famílias
THIAGO STIVALETTI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quando a comédia "Entrando numa Fria" estourou nas bilheterias, há quatro
anos, arrecadando mais de US$
300 milhões (cerca de R$ 802
milhões) no mundo todo, muita gente deu o crédito do sucesso à dupla Robert de Niro-Ben
Stiller. O público mais velho do
primeiro teria se juntado ao
público mais adolescente do
segundo, e só.
Mas a verdade é que o filme
descobriu uma bela situação
cômica a ser explorada: tudo o
que pode dar errado nos momentos em que o genro se esforça em mostrar o melhor de
si, enquanto o sogro passa por
cima desses esforços e descobre os defeitos mais insuspeitos. Por mais que se modernize
o mundo, este é ainda um dos
pesadelos do homem burguês.
Como o primeiro filme praticamente esgotou as hipóteses
de desastre da situação, "Entrando numa Fria Maior Ainda" parte de uma segunda premissa quase tão interessante
quanto: o que pode dar errado
quando a família da noiva conhece os pais do noivo, que cultivam um estilo de vida em tudo diferente do seu?
O humor desta seqüência é
mais escrachado e apelativo,
com direito a um bebê que fala
palavrão e um cachorro que
"fornica" tudo o que encontra
pela frente. Nada, por exemplo,
daqueles intermináveis segundos de silêncio que pesavam no
ar depois do primeiro aperto
de mão entre sogro e genro. Algumas situações seguem à risca
a fórmula do primeiro filme,
mas sem a mesma inspiração.
Com mais personagens à vista, os roteiristas se empolgaram tanto em criar novas situações que elas mal cabem nas
quase duas horas de filme, com
direito a uma gravidez inesperada e um segundo filho.
Conseguiram, no entanto, fazer com que a história continuasse a girar em torno de Jack
Byrnes (De Niro), o pior sogro
do mundo, agente aposentado
da CIA que cultiva a sua paranóia por meio de microcâmeras, de detectores de mentira
-e agora até de um soro da
verdade que faz com que o genro diga tudo o que pensa, num
dos momentos altos do filme.
Apesar dos trunfos, a receita
ainda podia ter desandado se
os produtores não houvessem
tido a boa idéia de chamar dois
veteranos que há tempos não
arrumavam bons papéis: Dustin Hoffman e Barbra Streisand, pais de Greg (Ben Stiller).
Hoffman é um bicho-grilo animado até demais, e Streisand, a
terapeuta sexual pronta a dar
conselhos e psicanalisar tudo.
Hoffman não tinha chance de
exercitar sua verve cômica desde "Tootsie" (1982). E Streisand é bem mais agradável se
autoparodiando como mãe judia do que se levando a sério
em dramas-xarope como "O
Príncipe das Marés" ou musicais como "Yentl".
Hollywood descobriu que
desencavar suas múmias pode
ser um bom negócio. A comédia bateu o recorde de "O Senhor dos Anéis: O Retorno do
Rei" na bilheteria de Natal nos
EUA e já arrecadou quase US$
280 milhões (R$ 750 milhões)
no mundo todo. Agora é só esperar o terceiro da série.
Entrando numa Fria Maior Ainda
Meet the Fockers
Direção: Jay Roach
Produção: EUA, 2004
Com: Robert de Niro, Ben Stiller
Quando: a partir de hoje nos cines
Butantã, Eldorado e circuito
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